O António e a Democracia.

 


Por vezes as coisas são simples, simplesmente porque simples são. Há, no entanto, sempre quem prefira olhar o mundo, as pessoas e as circunstâncias como produto de complicadas estratégias, conspirações diversas ou até mesmo, elaboradas teorias previamente estabelecidas que tudo justificam ou procuram justificar, sempre na senda das múltiplas e difíceis explicações para descrever o simples e o imediato.

Confesso que já não tenho qualquer paciência para isso. O que, em boa verdade, me deixa no ‘pote’ dos simplórios, dos de inteligência breve e ridícula de tão primária ser.

Já não me aborrecem estes qualificativos. De todo!

Quando se permanece no ‘pote’ dos ridículos', como é o meu caso, as conclusões que desta gente se extraem são profundamente limitadas, aos olhos de alguns, mas, … sempre claras como água (como tudo o que é limitado parece ser). Não necessitamos de grandes citações dos maiores pensadores da humanidade, inclusive dos atuais. Limitamo-nos a ter conclusões algo estúpidas de tão pobres (intelectualmente) todas serem.

Sempre vivi as problemáticas da política, nacional, internacional e local, com elevado interesse e manifesto entusiasmo, tentando participar em tudo o que me era permitido.

Sou do tempo de colar cartazes nas paredes, ir num carro de som com cornetas no tejadilho, ler jornais e ver notícias de uma forma quase compulsiva e extremamente prazerosa.

Sou do tempo em que se discutiam ideais e posturas.

Sou do tempo dos comícios, dos direitos de antena em tempos eleitorais, dos debates televisivos fundamentais para determinar o sentido de voto de muitos indecisos onde, se discutiam ideias, programas, posturas e opiniões.

Nesses anos era impensável que um puto universitário não soubesse porque votava neste ou naquele. Era quase herético se tal não sucedesse.

O António está em S. Paulo a acabar o primeiro semestre do seu Mestrado em Arquitetura na Universidade que escolheu, a USP. Joga à bola na seleção da Universidade (graças a tudo o que aprendeu no nosso sagrado IDV), está a gostar daquilo e telefona-me quase todos os dias. Tem as semanas que faltam para voltar todas bem contadinhas.

O teor do telefonema de hoje foi o facto de ter ido votar para as nossas legislativas. Importa dizer que fiquei bastante feliz com isso.

Foi votar hoje o meu puto. É bom sinal, digo eu para mim próprio. É bom que o António valorize a democracia e nela participe quando é chamado a tal.

Acompanha todas as notícias do nosso país e do mundo e conversa abertamente com o João sobre tudo isso.

Gosto de os saber democratas e participativos. Pelo menos estão provavelmente certos.

Já eu, velho descrente, deixei há muito de ter qualquer interesse a assistir às procissões televisivas eleitorais, aos debates sem cor nem alma onde nada de importante se discute. Passei a ler muito poucas opiniões e não tenho qualquer paciência para os ‘comentadeiros’, também chamados de ‘tudólogos’, porque opinião sobre tudo o que mexe possuem, como se da última bolacha do pacote se tratassem todos e qualquer um deles.

Já deu para ver que o PSD irá vencer as eleições e com quase toda a probabilidade o país não ficará politicamente mais estável. Simplesmente porque os dois partidos principais nem são capazes de estabelecer simples pactos de regime em questões tão essenciais como a saúde, a justiça, a educação e a construção de grandes infraestruturas públicas.

Quando descemos para a divisão distrital da chamada política local, é a mediocridade absoluta que nos é imposta pela frente.

O que interessa um programa eleitoral com visão de curto, médio e longo (sim longo) prazo?

O que interessa é vencer. Seja a que preço for. Seja com que mentiras forem, seja com que grau de incompetência for, num eterno passa culpas, tão típico da grande e velha Marinha e suas elites da treta.

Tudo isto se torna completamente desconcertante, simplesmente porque apenas o resultado eleitoral domina os principais interesses de todos e cada um.

Na política internacional, a desilusão, o asco de alguns comentários, a enviesada opinião transfigurada em verdade oculta, a tudo tem obrigado.

Neste aspeto, uma coisa me inquieta, se todos os regimes autocráticos, teocráticos e ditatoriais fossem invadidos por forças tidas como democráticas, essas invasões estariam justificadas ou apenas os nacionais fascistas da Ucrânia mereceram tão benevolente atitude dos democratas e libertadores russos?

Que opinião terias, Saúl Fragata, se a Venezuela fosse invadida pelo louco do Trump em nome da liberdade e da democracia que tanto dizes prezar?

Que teorias da conspiração seriam escritas por todos os intelectuais de serviço, sempre ávidos de ver e mostrar ver para além da linha do horizonte?

Fiquei feliz pelo meu António acreditar nos valores certos. No entanto fica a pergunta, num mundo como o de hoje, haverá valores certos e corretas posturas?

Sinceramente não sei.

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