77 anos.

 


Nunca me esqueço do aniversário do meu ‘irmão mais novo’, Raúl (de seu nome) Taranta (de seu apelido oficial).

Faz anos no mesmo dia que eu. A 14, com 20 anos e dois meses de antecedência. Há precisamente sete anos enviei-lhe esta simpática e carinhosa mensagem: “Parabéns Velho”. Tinha ele acabado de fazer 70 anos. Nunca me disse nada, porque não deve gostado da palavra “Parabéns”. 

Este meu irmão é um bruto do caraças! Eu, apesar de ser filho único, escolhi ter alguns irmãos, tudo uma ‘cambada’ de gente abrutalhada, tirando o Manel Branco. Mas o que é engraçado é que é tudo a fingir, porque todos têm assim uma espécie de vergonha em passar sentimentos, como se a sensibilidade entre homens fosse uma coisa estranha, já para não falar na Guida, que por vezes, ralha comigo, como nem a minha mãe fazia, e que como toda a gente sabe, nunca foi uma coisa difícil para ela, coitada.

Tenho acompanhado o Raúl, há 50 anos. Eu era um puto que lhe pedia cartazes do PS para forrar as paredes da sede do PSI (Partido Socialista Infantil), partido que fundei com o atual presidente da Assembleia de Freguesia da Vieira, entre outros Camaradas. 

Sempre nos entendemos, nessa altura, tal como hoje, na mais absoluta perfeição, sendo curioso mencionar que somos completamente diferentes um do outro. Ele com quase trinta e eu com quase dez naquele tempo.

Atualmente, estamos a preparar um livro interessante, sobre a construção da primeira escola pública na Vieira e todas as suas vicissitudes, normais para aquela época. Entre inimigos figadais (monarcas versus republicanos). 

Telefonei-lhe ontem para lhe dar os parabéns, como sempre faço.

Agradeceu, coisa que nunca antes tinha feito. Eu recordei-lhe que temos de ir ao hospital na próxima terça-feira e só lhe perguntei as horas, porque sempre me esqueço desse pormenor, o que me obriga a telefonar com essa pergunta  na véspera.

Uma vez houve que tínhamos de sair da Vieira bem cedo. Eu, como não queria adormecer, resolvi não dormir, coisa 'bastante rara' atendendo aos meus hábitos, desde que vivo sozinho. 

Cheguei a casa dele na hora marcada. E tinha sido aquele gajo a adormecer. O que me fez estar à espera daquela Prima Dona uma hora ou mais. O que vale é que tínhamos combinado uma hora com alguma antecedência. Isto só p dizer que entre ele e eu, sinceramente, nunca saberei qual de nós é o mais doido.

Ontem disse-me assim: “tenho uma notícia boa e outra má para te dizer”.

E eu: “começa pela má”. E o gajo: “temos de ir ao Arquivo Distrital em Leiria. Foram tantas as cópias que temos feito de tudo o que se encontra digitalizado, que os gajos perguntaram muitas coisas, do tipo “quem somos”, “o que queremos” e coisas assim.

E eu, “então e as boas notícias”?

“Ah, isso é uma bacalhauzada que vamos almoçar os dois na próxima terça, quando viermos do hospital. Nunca queres almoçar, mas desta vez não tens escapatória!”

Estas coisas são tão gratificantes, que valem uma vida inteira.

Ter Amigos destes não é apenas um privilégio. É uma dádiva de Deus.

Que venha o bacalhau. Assado na brasa de preferência e com batatas à murro, como fizemos na noite de Natal. Sozinhos os dois na minha cozinha e acompanhados por conversas sem fim e um bom tinto alentejano.

Inesquecível consoada. Como inesquecível será o nosso almoço na próxima terça.

Até lá velho.


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