Queijadas de Sintra.

 


A família da minha avó Guilhermina, apesar de ser da Vieira, vivia em Sintra. Era engraçado, mas a minha bisavó Mariana de cada vez que estava no final do tempo de gravidez, vinha até à Vieira para ter o bebé.

Estas tradições não são nenhuma exclusividade familiar dos ‘Parracho Filipe’. Naquele tempo este hábito era muito frequente em muitas famílias, vá lá saber-se porquê.

Tinham a vida toda organizada numa terra e vinham ter os filhos na sua terra natal. Não deixa de ser curioso e até revelar uma certa ternura ou inexplicáveis afetos pelas suas origens.

Tudo isto para vincar que nunca nos devemos distanciar das nossas origens, das nossas verdades familiares ou, mais seriamente ainda, dos sagrados valores que foram capazes de nos transmitir.

Gosto pouco de deixar as coisas pela metade quando escrevo seja o que for ou quando falo seja igualmente sobre o que for. Gosto pouco desse tipo de posturas. Assim como detesto as falsas modéstias ou histórias não contadas, porque sussurradas nas vielas ou vãos de escada da vida.

Prefiro fazer aquilo que muitos acham ser figura de parvo ou como um dia me disseram quando gritei (gritei sim, porque não disse) tudo o que havia para ser dito ao Nélson Araújo, ao Berranha e ao Paulo Granjeiro (dos Seguros) numa reunião do PS da Vieira que decorreu no Cine Teatro Actor Álvaro em 2021. Não me arrependo de nada do que disse. Talvez da forma. Foi mesmo muito excessiva, mas, bem vistas as coisas, com aquela gente e comigo nunca poderia ter sido de outra maneira.

Agora dá-me alguma vontade de sorrir toda a postura dos apaniguados de então a tão nefastas figuras que poluíram o PSMG durante 4 anos!

Na política, tal como na vida, o tacticismo impera sempre. É assim desde que o mundo é mundo.

Um primo nosso de Sintra, o Justino, homem Bom, devoto e muito amigo, por vezes vinha cá a casa e trazia sempre uns pacotinhos das melhores queijadas de Sintra. Todos, cá em casa gostávamos muito dele.

Uma tarde de verão entro nesta casa, como sempre, vindo do banco para estar um bocado com a minha tia e lá estava o Justino na varanda com ela a conversar.

Confesso que vinha com fome. E reparei num saco que o Justino trazia. Resolvi num assomo de má educação dizer: “Óh Justino, o que está dentro do saco não são queijadas pra nós, como sempre trazes?” Importa dizer que esse meu primo deveria ter uns 40 anos a mais que eu, portanto já tinha uma certa idade.

A minha tia, que adorava aquele primo e não fazia cerimónia nenhuma com ele, ficou lívida comigo e só disse a abanar a cabeça: “que vergonha Justino! Desculpa o malcriado do meu sobrinho!”.  

O Justino, divertido só me disse: “são queijadas sim. Trouxe para a Helena Branca.”

Abriu o saco e eu abri o pacote e comi não sem antes oferecer aos dois. Que bem que me souberam aquelas queijadas.

Por vezes lembro-me deste episódio e até já o contei a algumas pessoas. A minha tia era em muitas coisas muito formal e até teatral. É verdade. Mas não recusou as queijadas que lhe estendi, antes de eu comer qualquer que fosse.

Ainda me vou deparando, aqui e ali, com certas formas de ser e de estar parecidas, de cada vez que opto por dizer ou escrever o que sinto sobre isto ou sobre aquilo.

Lamentável. Para não dizer outra coisa. Até porque a vida nem sempre tem de ser um jogo de xadrez. Com estratégia, com lucidez absoluta ou ainda com ausência de autenticidade.

Alguns ainda cultivam essa estranha forma de ser e estar, porque acreditam que é preferível ser-se assim: pouco autêntico, em nome das aparências.

Eu, tento cada vez mais distanciar-me de tudo isso.

Talvez, porque vou preferindo o ridículo, porque, por vezes, mais autêntico, mais simples ou mais verdadeiro, sei lá?

Fartei-me de estratégias.

Penso até, que estamos todos fartos!


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