Cultura.
Há mais de 30 anos ouvi esta maravilhosa definição de
cultura: “é tudo o que sabemos, após termos esquecido o que nos obrigaram a
aprender”.
É mais ou menos verdadeira esta pretensiosa afirmação.
Aprendi na faculdade de economia o que é um ‘bem superior’ e
nunca me esqueci do seu significado.
Por exemplo, um Bugatti “XPTO”, com apenas 10 veículos
produzidos, conhece um índice de procura brutal, apesar do seu preço unitário
ser completamente extravagante, por comparação com outros Bugattis até
melhores, mas com uma produção de 1.000 ou 1 milhão de exemplares.
Já ninguém deve saber o que era um cachené. Pois bem, um
cachené era e é um lenço de lã enorme que as mulheres usavam na cabeça ou
como xaile para proteger as costas do frio.
O meu avô António tinha uma loja de fazendas onde vendia
muitas coisas (até livros, vejam bem!), mas tinha uma grande variedade de
cachenés.
Uma senhora, com manifesta falta de gosto e pretensiosa qb um
dia foi comprar um cachené na loja do meu avô. Para sorte dela, foi mesmo o meu
avô que a atendeu, tenho-lhe mostrado toda a coleção que tinha para venda.
Nenhum servia a tão ‘exigente consumidora’.
O meu avô António que apesar de ter uma pancada enorme, era bastante inteligente, depressa entendeu o que se passava e eis quando lhe apresenta um
cachené que já lhe havia mostrado, mas com o triplo do preço. A senhora adorou
e só lhe disse: “está a ver sr. António, era mesmo isto que eu queria”.
E lá foi a venda ‘fechada’, como se diz agora.
Vem isto a propósito, do meu avô sempre ter dito em minha casa
que “não há nada feio, nem nada bonito, porque umas coisas para uns são
feias, já as mesmas coisas para outros são bonitas”. A minha tia HB sempre
dizia estas coisas, mas tanto ela como o meu avô até podiam acreditar ou
melhor, tentar acreditar no que diziam, mas, no íntimo deles próprios isso não era totalmente
verdade, porque ambos sempre acharam que tinham (e tinham, devo dizer) muito bom
gosto.
Tudo isto vem a propósito da desgraça estética que a minha
Junta de Freguesia está a fazer no Jardim Público com a colocação de colunas
atrás de colunas num mau gosto sem classificação. Disseram-me que são para
fazer ‘pérgolas’. Ou seja, ainda vai ser pior.
O lindíssimo monumento ao Conhecimento, que deveria ser de aço
corten, mas parece que o material se está a desfazer, talvez por ser de
qualidade inferior (apesar de não ter sido isso que apareceu na fatura), ficará
quase invisível.
A Vieira, por vezes tem destas coisas.
Não merece certas elevadas fasquias, como é o caso do
referido monumento!
Mas, como dizia o meu avô António: “não há nada feio, como
não há nada bonito, porque cada um tem o seu próprio gosto”.
Parece-me, no entanto, que quando não sabemos como
fazer certas coisas e tomar determinadas opções, devemos sempre recorrer a quem
sabe mais do que nós.
Não é vergonha nenhuma.
Aliás, só revela sabedoria, inteligência e, já agora, alguma dose de humildade. Por exemplo terem recorrido a um atelier de arquitetos paisagistas, quanto mais não fosse, para ouvir algumas opiniões.
Assim, e no que ao meu gosto (bom ou mau) concerne, parece-me que estão a construir um monumento a qualquer deus romano. Uma coisa horrível!
Que, em linguagem rude, "esfodaça" todo o jardim publico.
Tive necessidade de escrever isto, porque não reparo apenas
nos erros daqueles que não se enquadram nas minhas opções políticas.
Um dos melhores, ou mesmo o melhor Presidente de Junta que esta terra já
conheceu, que é o meu querido Amigo Álvaro Cardoso, desta vez, não foi muito
feliz nas escolhas que validou.
Tenho pena!
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