Limpezas.

 


Quando escolhemos o silêncio, alguma ordem perdida e a lucidez de fazer o que importa, a vida, ela própria, ganha uma nova razão de ser. É interessante e aparentemente estranho, mas o facto é que é a mais absoluta verdade.

Desde que regressei a casa após a Passagem de Ano e uma caldeirada na cataplana que soube roubar ao meu compadre Rui, na Nazaré no dia 2, verifiquei o que já sabia: esta casa estava indescritivelmente desorganizada, para utilizar um eufemismo. Então, resolvi pôr mãos à obra.

Primeiro foi escangalhar as minhas prateleiras à procura de um livro da treta para devolver passados 22 anos de empréstimo, quando pensava ter-se tratado de uma oferta. Fiquei com aquilo tudo tão desarrumado que só mesmo uma foto poderia descrever o estado em que transformei a minha sala com tão ridícula procura.

A única coisa que valeu mesmo foi que após a arrumação ficou, ........ tudo arrumado! Com alguma ordem e organização antes não existentes, quero eu dizer. Abençoado seja o livro que procurei. Isto nunca mais vai ficar como estava.  

Depois foi a cozinha, a varanda e o resto. Todo o resto. Tanto resto, importa dizer. Tanto resto me tem passado pela frente. E ainda tem de passar.

Salva-me estar sempre com uns phones sem fios a ouvir as playlists do meu Joãozinho, que tem um gosto brutal nestas coisas e, claro, ter monumentais conversas com o meu FLUC e com o Doutorzinho, enquanto preparo as refeições e as como.

Grandes conversadores são aqueles cães.

Descobri que não gostavam do Trump e que estão extremamente preocupados com o atual estado de coisas. Tanto na Europa, como no Império do Meio e no Oriente Próximo com o recrudescimento de todos os extremismos, ameaças e avanços genocidas ‘hipocritamente’ ignorados por todas as ditas democracias ocidentais. "Uma vergonha", 'disseram' os meus cães. Até os meus cães, filhos do meu falecido Kadafy já chegaram a estas conclusões. E não veêm televisão. Talvez por isso consigam ter este tipo de imparcialidade, porque nem as tvs veêm, vendidas que estão a interesses esconsos.

É inevitável a comparação, porque depois de falar com os meus cães (ambos rafeiros, cumpre dizer), lembro-me das preocupações que atormentam (ou nem por isso) todos os marinhenses que na sua pequenez se vão contentando com as merdas do costume. Sem futuro, sem caminho, sem nada. Um presidente pateta e sorridente. Nem uma linha merece tão funesta criatura neste começo de um novo ano.

Os meus cães não são mais inteligentes que os marinhenses. Só que têm outras preocupações e, claro não fazem qualquer cerimónia em manifestar o que pensam. 

Por aqui, pela Vieira, é a posse dos novos Órgãos Sociais do Jardim (as presenças e as ausências oficiais na cerimónia), a ridícula demissão da Direção da BIP, o atirar borda fora do Presidente eleito do IDV, tendo sido substituído por um gajo que há dez anos anda a dizer “agarrem-me, senão eu saio”. Sair sem ter saído e afinal voltou, pela mão dos que por lá deixou. Aparentemente "à espera" dele.

Quando daqui a algumas semanas conseguir deixar isto tudo um brinquinho (quintal incluído), lá vou eu perder-me novamente a olhar para o mar da minha mãe e ler, ler muito, comer bem e dormir ao som das ondas do mar da Nazaré.

Até lá tenho de conviver com estas arrumações e limpezas de uma casa centenária.

Mas como os phones são bons e os cães inteligentes e de boa conversa, nem tudo é mau.

 

 

 


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