O Canto do Melro.
No tempo do meu avô António, o pessoal cá em casa dizia
alguma poesia. E, o engraçado é que toda a gente decorava tudo. Neste caso, os
putos dessa altura, ou seja, o meu pai e as irmãs.
Ainda hoje me recordo de algumas coisas
completamente estranhas como 'O estudante Alsaciano' que toda a gente sabia e
me dizia.
Começava assim:
"Antigamente a escola era risonha e
franca.
Do velho professor, as cans, a barba branca,
Infundiam respeito, impunham simpatia,
Modelando as feições do velho, que sorria
E era como criança em meio das crianças."
Este enorme poema tinha a ver com a ocupação
da Alsácia pelos alemães na primeira Grande Guerra.
Um ou dois poemas de Guerra Junqueiro,
também ouvi nesta maravilhosa casa. O mais engraçado é que todos os três irmãos
os sabiam e diziam com enorme prazer.
Um houve, que talvez pela sua história
triste, cruel e 'rápida' nunca esqueci, pelo menos, algumas partes. Importa
dizer que não tinha mais de 7, 8 ou 9 anos.
"O Melro."
Começava assim (e é a única frase que me
recordo):
"O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,"
A biografia do Padre José Martins Júnior,
cuja apresentação fiz questão de assistir, para ter o privilégio de o conhecer
pessoalmente, tem um título curioso:
"O canto do Melro".
Sem ainda ter lido uma linha que fosse,
disse à Helena: "este título, faz-me lembrar um poema do Guerra Junqueiro
que ouvia quando era puto em minha casa. Chamavam-lhe, "O Melro", mas
era um poema triste. Só me lembro que acabava mal."
O livro, o título escolhido e a coincidência
de ter ouvido esse poema quando era puto fundiram-se em todas aquelas
maravilhosas páginas. Que acabaram bem. Porque de liberdade, de dignidade
absoluta e de fraternidade se tratou sempre a vida deste maravilhoso homem de
86 anos que se encontra, depois de tudo e mais alguma coisa, a terminar uma
tese de doutoramento, que evidentemente irá 'acrescentar'.
Estes são os servos de Cristo em que
acredito, em cuja Fé me atrevo a tentar 'copiar', porque a Vida, ... a nossa
vida, ... é ou deve ser muito mais que Missas, batidelas publicas no peito e
hipocrisias convenientes e farisaicas, que cinicamente vão convindo a alguns,
nem que seja, para manifestarem as suas 'imaculadas e publicas virtudes'.
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