Elevar a Fasquia.

 


“Tá a ver D. Maria votaram contra!!!!”

Aurélio Ferreira, Reunião de Câmara de 9 de dezembro de 2024

 

“Quero dizer que o senhor Presidente e a senhora Vereadora deram uma informação errada, que nós votamos contra e não é verdade, nós votamos em abstenção. Quero ter o direito de resposta e dizer porquê.”

Lara Lino, Reunião de Câmara de 9 de dezembro de 2024

 

Em muitas matérias, devo confessar, sou um tipo lento. E quando me refiro a lentidão estou mesmo a falar da compreensão de diversas coisas ou até mesmo algumas circunstâncias. Sou de compreensão lenta, como se diz vulgarmente. Não tenho de me envergonhar desta ‘condição’. É a que é.

Talvez porque desde muito novo sempre dei por mim envolvido na política local, neste caso, a de freguesia, porque nunca quis atuar noutro palco, que não o do Parlamento da minha terra. Nunca me arrependi dessa opção. Mas, vem isto a propósito do fascínio que a política sempre exerceu sobre mim, talvez porque tive a sorte (?!) de ser nascido e criado numa família com grandes e antigas tradições políticas, sendo que todos foram sempre monumentalmente respeitosos (quase à veneração) da grandeza dos políticos e da atividade política, desde que exercida com ética, coragem e claro inteligência e a obvia noção de servir a Res Publica.

Foi isto que me transmitiram todos. É isto que procurei passar aos meus filhos, igualmente.

Nunca me coibi de manifestar a minha opinião publicamente acerca de temas e/ou protagonistas políticos.

Umas vezes mais justo, outras vezes, como todos os que livremente pensam, menos justo. Algumas vezes revoltado, já outras, duvidando completamente das boas intenções de alguns protagonistas, outras vezes ainda, feliz com o rumo de alguns projetos apresentados ou concluídos.

Durante todo o curso e decurso deste mandato autárquico, dei por mim a fazer uma oposição mais acutilante, assertiva e oportuna do que os dois partidos da oposição juntos.

Detesto falsas modéstias, por isso entendo o que me parece. Se a oposição tivesse sido tão intransigente e inconformada, como eu tenho sido, com este tristíssimo executivo, todas as mentiras teriam sido evidenciadas à exaustão.

Todas. Porque não deviam ter deixado escapar nenhuma, e tantas e tantas foram, são e continuarão a ser até setembro do próximo ano.

Poderia elencar, como agora tem sido recorrente, todas as comparações com o que foi prometido e sufragado nas urnas e o quase nada realizado em três anos. Muito boa gente deste concelho anda a fazer essa comparação. Nada disso me interessa. Mesmo nada. Está provado à saciedade que o Engº Aurélio mais não é que um vulgar embusteiro, para não o qualificar de outra forma. Não vou perder um segundo a classificar a sua Vice e o seu “lugar Tenente” Engº Brito. Nem tão pouco falar dos dois anos de colaboracionismo “socialista”.

Isso, para mim, não se reveste de qualquer interesse.

A análise ao orçamento proposto também não merece a minha atenção.

Agora, quando em quase 4 anos, não se é capaz de, pelo menos, apresentar um plano estratégico de desenvolvimento local para o futuro, a curto, médio e longo prazo, com projetos “ancora”, como o espaço da FEIS, o turismo, o levantamento de necessidades de grandes e médias obras públicas estruturantes, uma estratégia para o desporto, cultura, associativismo, ecoturismo, então, a pergunta coloca-se: “o que andaram por lá a fazer todo este tempo?” É que podiam não ter realizado obra nenhuma, mas tinham obrigação de apresentar, pelo menos as ideias e os projetos ou anteprojetos para as mesmas. E concursos de ideias, obviamente.

Este blog, já deu lugar à publicação impressa de 61 textos.

Depois deste, faltam apenas 5 textos para atingir os 500, sendo a maioria dos quais de cariz político local.

A minha lentidão intelectual, implicou que tivesse de chegar a metade de 1000 textos para concluir duas coisas:

1º andei a pregar no deserto;

2º foi uma óbvia perda de tempo.

 

Ontem fui a Lisboa assistir à apresentação de um livro velho de cem anos, na sede do Núcleo AJA (Associação José Afonso), na minha saudosa rua de S. Bento que percorri tantas e tantas vezes a entrar e a sair dos seus antiquários magníficos, junto à Assembleia da República onde assisti a quase todos os debates sobre todos os orçamentos de estado (no tempo do cavaquismo), enquanto frequentei o ISEG, que era e é ali mesmo ao lado.

O livro era de Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, caído em desgraça e em total esquecimento, pelo menos em Portugal.

O seu título é “Os intelectuais e a organização da cultura”.

Bela apresentação. Notáveis intervenções.

Falou-se também da necessidade de “elevar as fasquias”. Sempre foi esse o meu entendimento. Acerca de tudo o que conta, importa dizer.

Vínhamos, novamente na A1 para casa. Calmamente. Confortavelmente. Em paz e em silêncio, que como uma vez escrevi, é a forma mais íntima de partilhar o tempo e o espaço. Até que eu digo, como quem pensa alto:

“Viste a reunião de Câmara e a Assembleia Municipal? O tempo que eu tenho perdido com pessoas, coisas e temas que não merecem um segundo da minha atenção!

Como se costuma dizer, tinha acabado de pôr a cara a jeito, porque ouvi a Helena, triunfante: “digo-te isso, desde que te conheci!”


Comentários

Mensagens populares