RAÚL.

 



Fui-me habituando a escrever. Por necessidade. Por paixão. Tantas vezes por 

piedade, … de mim próprio, quem sabe?

Quando fui despedido do BCP, por ter feito um favor a um cliente numa operação totalmente favorável ao Banco, que voltaria a fazer, saí. Fui posto a andar ao pontapé. Como um vulgar vigarista.

Ganhei em tribunal, como já por aqui disse.

Segui, como em quase tudo na minha vida, os ensinamentos do meu pai. O velho Armando Teodósio, que só não valeu a quem não pode. Coitado. Se nessa altura ainda fosse vivo, com quase toda a certeza, validava essa minha decisão, mesmo sabendo o desfecho que teve.

É essa certeza ainda que me vai reconfortando, quando me recordo deste infeliz episódio.

Dizia eu, nestas particulares e bastante infelizes circunstâncias, onde quase sempre toda a gente foge de nós, há sempre quem fique.

De toda essa tanta gente, há sempre alguém que permanece, que nunca faz perguntas, porque nos sabe a sofrer. E, a sofrer muito.

Pelo que se diz nas esquinas da vida, pelo que se inventa, pelo que se exagera, sei lá por quantas coisas mais.

Esse, foi, com toda a certeza, o momento mais difícil, de todos os momentos difíceis que tive.

O Raúl é um desses raríssimos Amigos. Dos que ficam sempre por perto. Sem dizer nada. Nem uma pergunta. Por vezes nem uma palavra.

O melhor, talvez. O melhor de entre todos os melhores Amigos que se podem ter.

Caso fossemos irmãos, não gostaríamos tanto um do outro como gostamos.

Foi ele que me ensinou a praticar a democracia, porque sempre soube, discordar de mim, umas vezes com razão, outras sem ela, mas, ... sempre de uma forma calma, terna, inteligente.

A democracia, bem vistas as coisas, não passa disso mesmo: a sabedoria e a nobreza na discórdia, no confronto dos opostos, do que é distinto e diferente, mas sempre e sempre com o indispensável respeito mútuo.

Eu e o velho Taranta, sempre fomos assim um com o outro. Há mais de 40 e muitos anos!

Passamos muito os dois na Biblioteca. Talvez ninguém nunca saiba nem venha a saber o que por lá passamos sozinhos.

Isso agora também não interessa rigorosamente nada.

Os tempos são outros.

Amanhã, vamos fazer uma coisa que nunca fizemos.

Porque sim.

Porque merecemos.

Vamos fingir que somos ricos, comer umas lagostas e beber champanhe do melhor que há.

Sozinhos.

Porquê?

Olha, por nada.

Ou talvez por tudo e mais alguma coisa!

Porque o tempo, o modo e a vida, não se compadecem com esquecimentos e distrações.

Grande jantar nos espera amanhã.

À Vida, à Amizade e ao tempo, todo o Tempo que soubemos estar e aproveitar juntos e ainda a toda a imensidão do Futuro que temos à nossa frente. Haverá melhor motivo para celebrar a Vida?

Ao futuro, ao horizonte, ao mar, ao Rancho, à nossa Biblioteca. Vamos à Nazaré. Talvez tenhas necessidade de comprar algumas ‘socas’ para o nosso Rancho, como costuma ser teu hábito antigo.

Nesta foto, o meu Manel, já estava no teu colo com apenas duas semanas.

Tínhamos acabado de chegar do Porto onde a BIP comprou o primeiro data show com um ecrã gigante que a Vieira conheceu. Tal como, quando compramos o primeiro computador, lembras? Fomos a primeira coletividade da Vieira a ter essa preocupação.

Sempre fomos uns grandes malucos!

Gosto mesmo muito de ti, velho!

Amanhã às 3 no Café Liz. O resto? O resto é conversa pá!

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