Miguel. Rotunda. Pedrogão. Um Homem Grande!
Como sempre tem acontecido, mais uma noite inesquecível com Amigos com quem tenho mantido encontros regulares.
Quando o primeiro objetivo é estarmos juntos, apenas pelo
enorme prazer de nos encontrarmos, sem agendas, quase sem nada, para além de
aprendermos e discutirmos tudo, em liberdade, na eterna dúvida e inquietação. Nada
existe mais maravilhoso que isto.
Voltei p casa, e como sempre, não trazia sono. Nestas
alturas, ou fico a escrever ou procuro alguém com quem partilhar o tempo e o
espaço.
Hoje foi com o Miguel.
Estava para se ir embora quando cheguei. Fomos ficando. Fomos
conversando. Partilhamos sempre as mesmas certezas ou incertezas de quem, acima
de tudo, ainda se vai preocupando com os outros.
Fomos ficando, entre cigarros e copos. E muita, mesmo muita
mágoa. Mágoa da vida, tal como se nos apresenta nos dias que correm. Onde,
dizia o Miguel, o que me entristece ainda mais, é que ninguém se preocupa com
os outros. Aqueles que passam fome. Aqueles que um dia estiveram bem e agora
estão mal e, …….. ninguém se importa.
O Miguel podia estar rico. Bastante até, caso não tivesse
este estranho conceito da importância da Vida. E da óbvia preocupação com as
dificuldades dos outros.
Com as devidas diferenças fez-me lembrar o meu pai.
Há uma estória, que gosto de partilhar, porque me marcou para
sempre. Contei-a hoje.
Sempre gostei de noites de inverno daquelas com trovoadas
enormes, chuva, vento forte e frio. Muito frio.
Como tantas e tantas vezes, antes de me ir deitar, ia
despedir-me do meu velhote. Fazia-lhe uma festa, dava-lhe um beijo e seguia
para minha casa, sem antes dizer: “porta-te bem pá. Até amanhã.”
Houve uma noite de trovoada enorme. Despedi-me com esta
frase: “Óh pai, adoro noites assim. Com vento forte, trovoada intensa, chuva
sem parar e frio, porque fico no quentinho e adormeço em paz.”
O meu pai resolveu dizer-me apenas isto: “se ficas em paz com
noites destas, pensa em quem não tem cobertores, tetos, colchões e aquecimento
e, se conseguires continuar a adormecer em paz, é porque não entendeste nada.”
Nunca mais me esqueci disto.
Nunca mais.
Disse isto ao Miguel, há poucas horas.
Limpou as lágrimas que timidamente lhe corriam pela cara abaixo. Sem qualquer som.
Caiam, umas atrás das outras.
Não disse nada.
Disse tudo.
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