O preço da 'inconveniência'.

 


Se tivesse sido há cem anos não estranharia, mas foi mesmo hoje que constatei ainda existir uma espécie de hipocrisia cobarde (como quase todas as formas de hipocrisia são), de cada vez que se fala da Santa Madre Igreja.

Recordam-se quando num programa do grande Herman apareceu uma sátira (por acaso sem piada nenhuma) acerca da ‘Última Ceia’?

O país, podre e repleto de Fariseus excitou-se! Esse país continua a existir. Tal e qual como há 30 anos, aquando desse episódio.

O ‘cómico de serviço’ com 34 anos resolveu ‘peitar’ o establishment, defendendo-se e … tramou-se com isso. E bem. Deixou de ter trabalho na RTP, nessa altura a única estação de televisão. Interregno esse que durou alguns anitos.

Vem isto a propósito de ter escrito ontem uma banalidade acerca da laicidade e ateísmo  inerentes à Biblioteca de Instrução Popular.

Em pleno século XXI, não deixo de registar, com enorme surpresa e até desagrado, a forma cobarde e torpe com que quase todos os que reagiram telefonando-me ou enviando mensagens desagradáveis, porque sem qualquer sentido.

No Facebook normalmente é a essa a regra de ouro. Inundar de likes fotos e comentários entre o cómico e o agradável. Incluindo fotos de família ou de amigos. Cenas neutras.

Já quando se trata de opiniões, as coisas 'fiam mais fino’. Ter uma opinião sugere evidentemente tomar partido. Ser favorável a uma coisa e desfavorável a outra. Normalmente é assim.

Até aqui tudo bem, dirão alguns. Os cinzentos. Os sempre agradáveis e simpáticos. Todos os que não gostam de melindrar e de pensar em voz alta.

A vida, quase sempre foi desta maneira. Digo quase, porque houve períodos históricos em que nem sempre assim foi.

Parece que ainda há temas proibidos, porque podem chocar a turba, sempre repleta de cinismos e cobardias.

Por exemplo, quando este Papa resolve assinar um miserável documento que proíbe os Maçons de serem católicos, porque, para a Igreja, uma condição exclui a outra, houve, aqui e ali, algumas tímidas reações.

Convivo com irmãos na minha Loja maçónica que não só são católicos como também o são de forma empenhada e praticante. Estranho foi ouvir nessa altura esta frase interessante: “não concordo com essa posição da Igreja, mas, sinceramente estou-me nas tintas para isso. Não vou deixar de ser quem sou, nem de praticar a minha religião por essa norma infeliz e ridícula”.

Ora eu, não sendo um católico praticante, não achei, nem acho, piada nenhuma a essa tomada oficial de posição da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana no que aos maçons e à Maçonaria respeita. Talvez por isso tenha escrito um pedido de esclarecimento ao Cardeal Patriarca de Lisboa. Escusado será dizer que não obtive, nem obterei qualquer resposta. É da vida!

As redes sociais são atualmente uma forma de comunicação incontornável, pelo que é natural que vinculem as opiniões dos seus autores que interagem com a comunidade da qual fazem parte.

É difícil alguém ter eco (vulgo likes) se disser algumas verdades elementares. Por exemplo, a chacina e assassinatos em massa do povo palestiniano perpetrada por Israel.

É difícil dizer-se que a sociedade mais hipócrita do chamado mundo ocidental é a Norte Americana. Um país conservador e atrasado na maioria das suas mentalidades vigentes. Um país que é uma gigantesca máquina de negócios internacionais e ingerências várias na política interna de algumas democracias.

É difícil dizer-se e conseguir algum coro, que a história da invasão da Ucrânia tem muitas nuances mal explicadas. Somos imediatamente rotulados com opiniões segregadoras, injustas e desenquadradas.

Recentemente criou-se, e bem, uma nova associação na praia da Vieira. Composta na sua esmagadora maioria por pessoas verdadeiramente interessadas no desenvolvimento da sua terra. No entanto, cumpre fazer esta pergunta: qual a ‘Carta de objetivos, ideias, projetos, numa palavra ‘sonhos’’ que os seus dirigentes preconizam para a sua praia? Será que existe esse documento consequência de uma reflexão séria? Pode ser que me engane, mas não me parece que exista. Provavelmente nem essa preocupação existirá. Oxalá esteja enganado. Mas se estiver, gostaria de ler esse conjunto de preocupações e anseios coletivos. Mais uma verdade inconveniente que não se deve escrever e muito menos partilhar.

De cada vez que escrevo a mais elementar verdade sobre este 'governo municipal' onde impera a mais absoluta incompetência ou se digo que os Vereadores eleitos nas listas do Partido Socialista têm tido um comportamento e uma atitude ignóbil perante todos os que votaram no PS, acham sinceramente que granjeio simpatias ou concordâncias várias, estão muito enganados. É sempre mais fácil e prudente manter estas realidades nos confins das reuniões privadas, onde se encostam as barrigas a todos os balcões desta e doutras vidas, como se de conspirações se tratassem. 

No fim do primeiro quartel do século XXI, ainda há temas tabu na nossa sociedade moderna, justa e livre.

Se eu disser, por exemplo, que a colocação de duas imagens de anjos na entrada da capela do cemitério da Vieira, foi uma ideia de profundo mau gosto, toda a gente me cai em cima. E, não estou a falar de gosto no sentido estético. Estou mesmo a falar de mau gosto, porque desrespeitoso pela liberdade religiosa de todos e cada um de nós.

Qualquer cemitério é um local sagrado, no sentido de ser o depositário dos restos mortais de toda a nossa família e alguns amigos que partiram antes de nós.

No nosso cemitério, como em todos, encontram-se sepultadas pessoas que praticaram diversas religiões e algumas sem qualquer religião confessa. Por exemplo, o meu pai era ateu, já a minha mãe era evangélica praticante. Qualquer deles não se poderia rever naquelas imagens. E apenas menciono os meus familiares mais próximos, por respeito absoluto à sua memória.

Alguém alguma vez fez este comentário publicamente?

Não. Não fez. Esse tipo de comentários na Vieira costumam ter lugar em pequenas reuniões, tipo petiscos e afins. Mas ai de quem garantir noutras circunstâncias que A disse isto e B aquilo. Quando cheira a polémica, todos se recolhem em público. Se pensarmos bem, já assim era no tempo da PIDE.

É extremamente desagradável ser punido por delito de opinião.

Perguntarão alguns: “lá tá ele. Mas porque é que escreve estas coisas? Estava melhor caladinho.”

Na vida, nem sempre o que interessa é ganhar. Pelo menos para mim. Sei perfeitamente que não ganho rigorosamente nada com estas atitudes. Mas também, se não as tivesse, estaria a ser igual aqueles que censuro. Penso ser muito mais desagradável essa sensação.

Se publico este texto, é porque ontem fartei-me de ouvir bastantes impropérios porque me atrevi a publicar o texto: “A BIP não tem religião”. Como se esse facto constituísse qualquer novidade. Nem a BIP, nem o IDV, nem a esmagadora maioria das Associações laicas.

Porque será que este facto (nem sequer se trata de mera opinião) pode, pelos vistos, escandalizar tanta gente boa?

Até me disseram num dos telefonemas, que a Direção da BIP pode fazer tudo o que entender e se algum sócio quiser comentar terá de o fazer em sede de Assembleia Geral.

Após 20 anos como presidente da Direção daquela Casa, fiquei a saber uma coisa que desconhecida.

Acerca da BIP, só podemos ou devemos manifestar as nossas opiniões numa reunião de sócios!

Sempre a aprender.


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