O Azar de termos tido Sorte!
Somos Foz, somos uma imensa Praia.
Somos uma Maresia única.
Somos Iodo em quantidades descomunais por comparação com mais
de 90% das praias portuguesas.
Já no princípio do século XX, muita gente vinha a banhos medicinais
à velha praia do Liz.
Todo o futuro da nossa freguesia reside na praia da Vieira.
Estou obviamente a falar daquele futuro a que não assistirei.
Só que esse futuro parece nunca ter preocupado
verdadeiramente ninguém nesta espécie de terra de egoísmos vários, memórias
falhas, fraternidades inexistentes e sem qualquer sentido gregário.
É assim que somos, há, pelo menos, 4 décadas.
Basta ver os índices de abstenção numas eleições autárquicas,
por exemplo!
Hoje é um dia dramático para todos os vieirenses. Ou, pelo
menos deveria ser.
Há mais de 20 anos que levamos com os excrementos dos outros
pelo nosso rio acima. Até hoje ninguém se revoltou.
Ninguém!
Nem revoltará, obviamente.
Há um ano, com o projeto do biometâno, o nosso Presidente da
Câmara defendendo à exaustão a instalação desse complexo que se quer confinante
com a ETAR Norte, chamou e cito: ‘alarmista’
ao Presidente Álvaro Cardoso, porque se insurgiu contra esta ideia.
Roçando o ridículo, convidou representantes dessa empresa
para atestarem a qualidade do projeto e a sua ‘bondade ambiental’. Não
satisfeito com tal originalidade, disse em reunião de Câmara que como era um
projeto financiado pela UE e cito novamente: “são sabidos os altos critérios de
exigência da União a todas as problemáticas ambientais, pelo que estava mais
que assegurada a eficácia ‘verde’ e amiga do ambiente deste projeto que trará
emprego para a região”.
Nessa altura, poucos ou quase nenhuns se manifestaram.
Estamos na época alta da época alta, passo o pleonasmo e, …….
a velha praia do Liz encontra-se interdita a banhos!
O que se espera desta triste gente?
Enquanto passar a notícia nas televisões, vamos assistindo a
conversas de café inflamadas e cínicas, porque apenas inflamadas e nada mais
que isso.
E depois?
Depois acaba o Verão, as televisões vão embora e as pessoas
viram costas. Neste caso viram costas a elas próprias. Não sabem defender o que
é seu. Não sabem projetar o seu futuro, porque apenas pensam no futuro
imediato, como interesseiros que sempre foram.
A velha praia definhará perante a passividade do seu povo.
Um dia um neto meu poderá dizer: “tivemos tudo, só que tudo
deitamos a perder. E agora, pouco ou nada resta”.
É este o azar de ter tido sorte.
Tivemos tudo.
Tivemos.
O verbo está no passado!
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