Feliz Aniversário.

 


Hoje pela manhã, na minha varada da Nazaré, deste-me vontade de escrever. Podes não acreditar, mas de cada vez que olho para o horizonte que o mar proporciona, a primeira pessoa que me aparece na cabeça és tu.

Desde o dia, e já lá vão tantos, em que me ensinaste quantas são as milhas que nos separam de qualquer horizonte marítimo.

Se me perguntares hoje quantas são, não te saberei responder. Ficou-me daquela conversa um só facto: são mensuráveis.

Gosto pouco de acreditar nisso. Não por não ser verdade. Apenas porque prefiro sentir, que o horizonte (ainda mais o horizonte do mar) não tem medida.

Ontem foi um dia estranho sabes?

Sei bem que sabes, embora prefiras sempre dizer ou deixar no ar que não. Que és quase indiferente a todas as coisas ditas mundanas e por isso mesmo com pouco sentido digno de qualquer menção.

És parvo.

Sempre foste parvo, na tua procura interminável pela única coisa que realmente conta.

És ‘marinheiro’ como adoras dizer em momentos de alguma necessidade de separação de águas.

Ontem, foi mesmo um dia estranho, velho!

Começo pelo fim. Pela última imagem que retive. Teres acabado de falar a todos. Com muita dor reprimida. De muitos e muitos anos de difícil guerra com a vida e por vezes quase com toda a gente e, de certo modo, com todas as coisas, dificílimas circunstâncias e ainda algumas mais difíceis escolhas.

…/…

Ontem, estiveram lá todos, reparaste? Todos os que vos acompanharam nessa tão longa caminhada.

A última imagem que retive mesmo foi a tua. De um homem cheio de vontade de abraçar o seu filho, a sua filha e, não sabendo como o fazer, foi tímida e desorientadamente procurando a cabeça do neto que à sua volta corria em eternos rodopios de felicidade.

Procuraste-o com a mão direita, talvez para lhe fazer uma festa. Logo tu, que nunca foste um homem de afetos visíveis.

Fugiu-te por entre os dedos. Tal como sempre o tens sabido fazer com a tua vida. Fugir às coisas, aos afetos, às pessoas. Menos às palavras. Será talvez a única coisa a que não foges. Às palavras.

Emocionaram-me. Todos vocês me emocionaram. E não digo isto por estar velho ou a passo bastante acelerado para lá chegar.

Na vida ou, como disseste, no ‘nosso filme’, as boas emoções, bem vistas as coisas, são tudo o que mais conta. Ou vai contando.

Ontem, dia estranho.

Conseguiram fazer-me feliz.

Todos vocês.

Sem qualquer exceção.

São tão raros dias assim.

Por isso os comecei a ‘estranhar’. A estes dias.

Parabéns pá.

Forte Abraço.

Dá um gr bj à Guida, porque, com toda a certeza, tem sabido convencer-te a mostrar o melhor de ti mesmo.

E é tanto.


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