Ana Maria.
Quando alguém morre, ainda mais agora, em tempos de opinião e informação instantânea, muitas banalidades aparecem escritas um pouco por todo o lado. Até na morte o cinismo e a unanimidade de absolutas virtudes têm o seu lugar mais que cativo.
Quando um Amigo parte, procuro sempre recordar o que de
melhor tivemos juntos.
Desta vez também, talvez porque a vida nos tenha feito bem.
Talvez por isso, quem sabe?
Aqueles que nos fizeram sofrer e sofrer muito não merecem epitáfios escritos pela nossa mão, por "melhores" pessoas que tenham sido.
Não é o caso. Felizmente.
Conhecemo-nos desde o dia em que nasci.
Já lá vão uns anos. Éramos vizinhos de parede contra parede.
Muitas estórias poderia contar agora. Algumas mesmo
deliciosas e divertidas.
Simplesmente não sou capaz, nem quero, bem vistas as coisas.
É que tenho todo um passado bem arrumadinho numa gaveta, cuja chave há muito que deitei fora. Nem me apetece procurá-la nem desarrumar tudo o que se encontra em ordem, caso a tivesse encontrado.
No entanto, há pormenores que a mais elementar justiça, pelo menos daqueles que têm a memória certa os obriga a dizer, relembrar os breves esquecimentos e as falsas virtudes de outros que já lá vão.
Fizeste parte durante anos e anos dos Corpos Sociais da BIP. Fizeste igualmente parte de todos os Conselhos Consultivos da nossa Biblioteca, foste uma sócia ativa e benemérita aquando das obras que se realizaram em 2002. Quase todas as Conferências que se realizaram no tempo em que por lá passei tiveram a tua insubstituível e indispensável presença.
Em tempos de memórias algo trocadas, difusas e essencialmente injustas, por excesso, cumpre deixar este registo, para que a verdade não se apague e se entregue o seu a seu dono. Coisa que infelizmente nem sempre tem acontecido.
Hoje sim, a Biblioteca de Instrução Popular deveria curvar-se perante a memória de um dos seus melhores.
NÃO HÁ DÚVIDA QUE A MORTE CONVOCA TODAS AS VIRTUDES, faltas de memória e arrependimentos diversos.
No teu caso não.
Porque só soubeste convocar a tristeza, a saudade e a esperança de um dia qualquer te encontrar em qualquer lado.
Sei bem qual será a tua primeira pergunta quando estivermos juntos novamente: “Sempre chegaste a acabar o curso de História?”, ao que responderei, com toda a certeza:
“Mas porquê? Tinhas dúvidas?”.
Vai em paz, fica na paz, que de uma forma ou de outra, sempre
procuraste.
Vais fazer-me falta Ana.
Muita falta.
Um beijo.
E, ...
até um dia.
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