A Vieira e os meus filhos.

 


"Olha aí o puto!"

Foi a legenda desta foto que enviei ao António.

Não posso dizer que tenha estranhado a resposta que recebi, porque evidenciava algum orgulho e até vaidade no seu irmão mais novo.

Há, de facto, uma coisa em que me esmerei na vida: educar os meus garotos para amarem profundamente a sua terra. Nesse aspeto não falhei em nada. Fizeram parte do Rancho, jogaram à bola no grande IDV, clube pelo qual sofrem muito mais do que pelo Glorioso, todas as semanas, são sócios da BIP, entre outras coisitas menores, como terem aprendido a ‘furar ondas’ e a nadar no nosso mar e deixarem-se ficar inebriados por aquele cheiro a maresia (iodo), como só nós temos. Ir e vir a pé pelas margens do rio, sob um pretexto qualquer, nem que seja passear o Kadafy e sofrer porque poderíamos ser grandes, enormes e não somos. Isto não é conversa da treta, é mesmo verdade. Aqueles gajos gostam mesmo disto.

E, o que mais vontade de rir me dá é que ambos dizem que querem vir p Vieira profissionalmente.

Nem faço qualquer comentário!

Penso que devo ter exagerado, mas enfim, é a mais pura das verdades. 

Digo isto com um misto de orgulho e de pena. 

Todos vocês me entenderão, penso eu.

Uma destas tardes, estávamos os três a vir da praia da Vieira lentamente e o Tóino que nesse dia ia para Lisboa, pedia-me: “vai por aqui, vai por ali, vira e volta para o parque de campismo, agora vamos ver a Lagoa, vai pelo César ao campo da bola, agora vamos ver as caravanas e contamos quantas lá estão a ocupar o melhor espaço da praia.…/…”

Eu até não me estava a importar nada com aquele estranho percurso de ir e voltar. Como tou velho, adoro conduzir devagarinho. O João então, distraído como é e a ouvir a sua brutal play list de jazz do melhor que por aí se faz, nem uma palavra dizia. Esse tá sempre noutra dimensão.

Quando finalmente aquele estranho percurso acabou e a subirmos a ‘ladeira do cão’,  pergunto ao António qual a razão de tão disparatado percurso aquele. Não obtive qualquer resposta.

Com aquele gajo, tal como era com o meu pai, não adianta perguntar duas vezes.

…/…

Hoje aconteceu isto, depois de ter visto o João como candidato à CPC do PS, perguntou-me assim:

“Lembras-te daquele fim de tarde num domingo na praia? A passar por aqui e por ali?”

Confesso, que já nem me lembrava bem. E vai o gajo só me diz:

“Tou farto de cidades e projetos para grandes cidades. Nem sei bem se vou fazer Mestrado em Urbanismo ou Arquitetura. O que é que achas? O Mestrado em Arquitetura tem bués de cadeiras de urbanismo. Provavelmente vou fazer mesmo em Arquitetura e depois lembrei-me que o que quero mesmo fazer é um brutal projeto para a praia da Vieira, como tese. Com maquetes e tudo. Os gajos em São Paulo até se vão passar”.

Não saberei se o fará, se bem que vindo daquele miúdo é bem possível que o faça.

Comovi-me com isto.

Sinceramente que me emocionou. 

Lembrei-me de uma fotografia muito antiga da minha família toda, perto de um enorme barco num fim de tarde qualquer. Todos sentados na areia felizes. A Lígia devia ter uns 70 cm de altura e estava aninhada ao lado do meu avô, enorme e muito gordo, derretido a olhar para ela. 

Obrigado puto. 

Mais uma vez, sem te dares conta disso, fizeste-me sentir que “a vida não se perdeu”.

Faz lá isso e mostra aos Paulistas que há uma praia no centro de Portugal que tem todo o futuro para agarrar, assim haja quem o queria e consiga fazer!

Na vida de todos os dias, não irá valer de nada. Valerá apenas para ti e para os sonhos que trazes contigo, o que, bem vistas as coisas, não é nada pouco.

Deves continuar sempre assim.

A amar a tua terra acima de qualquer outra coisa.

Um dia, tu e outros como tu, farão a diferença.

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