3.000 dias!
Por vezes temos de fazer alguma coisa de jeito, para
confirmar o que já sabíamos ou simplesmente desconfiávamos.
Mas, desejámos sempre estar redondamente enganados na nossa
forma de tentar ‘adivinhar’ tanto as opiniões como as sensações dos outros acerca de nós, do que vamos ou fomos fazendo ou de tudo o que nos foi calhando 'em rifa'.
Sempre os outros. A comandar as nossas escolhas, opções,
atitudes ou até mesmo ‘opiniões’ breves e de circunstância.
Felizmente soube o que foi viver anos difíceis, amargurados,
com faltas de dinheiro por todos os lados, resultado de opções totalmente
erradas que só a mim responsabilizaram.
Sem quase ninguém. Quase ninguém. Os meus putos e muito pouco
mais.
Fundamentais tempos foram esses anos. Para aprender, não há
maior mestre que a(s) dificuldade(s) do(s) tempo(s).
Muito cresci eu durante todos esses anos em que pouco ou nada
tinha. Com quase nenhuns amigos pude contar.
Fizeram-me bem esses tempos.
Preparam-nos para tudo! As dificuldades, as angústias e as amarguras
diversas têm esse ‘condão’. Fazer crescer!
E, tudo ultrapassei. De uma forma justa, difícil, bastante lenta e arrisco-me
a dizer exemplar!
Há tantos amigos meus que repetidamente me dizem que não vale
a pena manter essas memórias difíceis. Acredito que tenham razão. Só que, há
coisas, que por mais tempo que sobre si passem, nunca terei capacidade de pôr
de lado ou até simplesmente esquecer. Ou sequer tentar fazer por isso.
Poderia escrever alguns episódios complicados e até
humilhantes em que me vi envolvido. Interessam pouco. Interessam nada. Para ser
totalmente sincero, nem a mim interessam. Foram o que foram. Protagonizados por
quem foram, … nada disso importa agora.
Já, existem outros, felizmente poucos, mas substantivamente
fortes para terem ganho o difícil estatuto de ‘inesquecíveis’ e brutalmente perturbadores.
Quando fui despedido do BCP, por exemplo. Só tinha feito dois
favores a dois clientes. Que voltaria a fazer. Contra a vontade do meu superior
hierárquico. Omissa figura que nunca ‘arriscou’ nada por
ninguém. Uma tarde, tinha acabado de pagar perto de 100.000 € de ordenados
porque tinha sido depositado um cheque da Câmara Municipal de Aveiro a favor
desse cliente que passou 23 cheques de ordenados. 'Saque sobre valores', como se
dizia na banca. Depois de confirmar com essa Câmara Municipal a emissão desse
cheque e confirmado ainda o depósito do mesmo numa sucursal do BCP, garanti,
obviamente, ao meu cliente que estivesse descansado que todos os ordenados
seriam pagos.
Ao fim da tarde lá aparece o Dr. Élio Silva, vindo das obras
da sua casa onde passava ¾ do seu tempo de trabalho e me obriga a devolver 23
cheques apesar de todas as explicações que lhe apresentei.
Telefonei imediatamente ao meu cliente para estar preparado
para esse revés.
No outro dia pelas 9 da manhã lá estava a administração dessa
empresa para falar com o senhor diretor Élio Silva. Transmiti-lhe essa informação
("estão à tua espera"). Só obtive como resposta esta frase inqualificável: “não foste tu
que devolveste os cheques? Então vai falar com eles, porque eu não saio daqui,
nem tenho nada a ver com isso”. Triste de merda!!!
Muitas e muitas estranhas coisas se passaram naquele infeliz
balcão. Vergonhas, roubalheiras, vigarices diversas. Até com os subordinados do
excelso Senhor Esmeraldo Pedreiro, essa figura proeminente do MpM.
Mas quando entreguei duas garantias bancárias para reembolso de IVA a dois empresários, garantias essas que permitiram regularizar crédito vencido de milhares e milhares de euros no BCP e que, naturalmente foram devolvidas em 3 meses pelo Estado português, por se tratarem ambas de operações de crédito com o menor risco de incumprimento possível, ... mas sem terem sido 'devidamente' autorizadas pela hierarquia, ... fui despedido!
Outras figuras houve, já nesse tempo, que muitas infelizes, abusivas e críticas operações de crédito realizaram que ainda por lá andam. Cantando e rindo. E promovidos continuadamente. Respeitando, como é óbvio a(s) voz(es) do(s) dono(s).
Já eu, vim para casa, como qualquer vigarista.
Constituí advogado e ganhei.
Durante muitos anos, nunca mais fui olhado da mesma maneira
por um grande número de pessoas da minha terra.
“Será que pôs a mão na massa, será que não pôs?”
É fodido. Pelo menos para mim foi!
Após isso, fui nomeado presidente do CA da TUMG onde fiz o
que fiz. Nem me apetece dizer tudo o que foi feito em 3 anos.
Só sei que fui diretamente, após três anos de muito e esgotante trabalho na TUMG para o 4º piso do hospital
de Leiria onde permaneci muito tempo, até registar uma recuperação mínima.
A Marinha Grande, no seu melhor, tinha-me chamado de tudo. De boy do PS e daí p frente. Em artigos no JMG, em discursos, em reuniões da Câmara, no inqualificável blog de corajosos anónimos 'Largo das Calhandrices'. Os resultados pouco importavam para toda essa gente. Como quase nunca importam. O que efetivamente interessava era o misero vencimento de presidente do CA, (des)considerando todas as responsabilidades (pessoais) assumidas com quaisquer erros de gestão cometidos. Todos, nessa altura se esqueceram do que se registou antes da minha entrada na TUMG, que teve, anos e anos uma administração 'fantasma' que nunca nada fez. Mas sempre a receber ordenados! Iguaizinhos. Sem tirar nem pôr!
.../...
Por esta altura, a minha vida é outra.
Não dependo de
ninguém. Nem nunca mais dependerei.
Noutro dia escrevi um livro.
Registo algum número de amigos e amigas minhas, de
esplanada, bem entendido assim como outros, de anos e anos que nem uma palavra me souberam
dizer. Houve até uma a quem perguntei passados uns dias se tinha gostado. Uma
pessoa inteligente que teve (talvez para parecer bem) ido até à BIP ao
lançamento do livreco e me respondeu desta forma magnífica: “mas eu li o livro todo na Biblioteca”. Deve ser
muito mais rápida que o Marcelo Rebelo de Sousa a ler. Sobre a minha pergunta:
se gostou ou não? Não obtive qualquer comentário. Outros amigos houve que se
apressaram a colocarem-me uma alcunha nova: “Chiu, que vem ali o 'Ser Livre'”. Um
dos títulos de um poema que procurei escrever e que foi lido magistralmente pelo Alfredo João.
Outro houve ainda que nem sequer me foi cumprimentar para me ter telefonado depois
a dizer que: “eu tenho memória”.
Quando coloquei umas fotos do meu apartamento da Nazaré, luta
de 50 anos (28 da minha mãe e 22 meus), … nem uma palavra de todo esse tipo de
gente.
Uma vez fui à Turquia, vendiam-se por lá abundantemente uns
artefatos de vidro azuis com um olho branco aposto que se destinavam a ser colocados atrás das portas
de casa para evitar as ‘invejas’. Nunca acreditei em nada dessas coisas.
Não será agora que alterarei as minhas crenças.
Vou é registando todas estas manifestas 'infelizes e curiosas posturas'.
É que também vou tendo memória. Que aliás deve ser a última
coisa a perder-se.
Ainda me recordo, por exemplo, de abrir a porta da minha casa
a uma delegação do PS a questionar-me em que lugar nas listas queria ir. Quando
comecei a falar, logo houve uma voz que se fez ouvir mais alto que as outras e com esta expressão inesquecível: “tu vais onde quiseres, mas vê lá se te fodes. Saíste há dois
meses do 4º piso”. Logo entendi, que aquela tinha sido uma visita meramente
formal. Para cumprir calendário. Nunca ninguém, nessa altura, quis que estivesse em qualquer lista. Podia estragar a
foto de grupo.
Há pessoas que só contam com a sua esperteza. Por vezes mais valia ficarem quietas, nos covis da hipocrisia e da cobardia de conveniência!
Também me recordo de uns dias após ter voltado a casa, do
hospital, sem saber dosear e escolher toda a panóplia de comprimidos diários,
ter ouvido a minha mulher entrar com esta magnífica frase: “Vamo-nos
divorciar”.
Largos anos têm 3.000 dias!
Abençoados todos eles.
E pensar em tudo, mas mesmo tudo o que tenho a fazer ainda.
Abençoada seja a nossa Vida e todos o que verdadeiramente gostam de nós.
Porque todos os outros nunca passarão disso mesmo.
Dos outros!
Aqueles que não contam ou, depois de certa altura, deixaram simplesmente de contar!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarRui António , PALMAS!
ResponderEliminarPALMAS pelo texto!
PALMAS pela coragem!
Sem estigmas, direto, frontal, humilde e poderoso texto, tal qual eu GOSTO.