A Maçonaria e a Intolerância!
As “estruturas
de poder” no partido estão “muito burocratizadas, em Lisboa e
Porto e também noutras“, detalhou Pacheco Pereira logo depois de ter
atirado: “Alguém imagina um partido que desde a sua génese é anti-comunista e
anti-maçónico, estar como está hoje, com direções distritais
todas na maçonaria?”. O comentador disse que isto não é
“irrelevante” e que se trata de “uma realidade distinta da do passado, que não
tem relação com o eleitorado histórico nem com as relações históricas que são
anti-comunistas e anti-maçónicas”.
A inteligência
sempre me fascinou. Nem sempre pela concordância de conteúdos, mas pela forma e
pelo método argumentativo. Posso não concordar em absoluto com uma ou várias
opiniões, mas aprecio imenso a conceptualização do raciocínio, a maneira de
defender uma tese ou um princípio, mesmo oposto ou apenas diferente do meu. A
diversidade enriquece-nos sempre. Essa é que é a verdade. Porque nos obriga a
pensar e a pôr em questão as nossas próprias opiniões.
É talvez por
isso, que não tenho o mínimo de paciência e/ou tolerância para com todos os
inteligentes que apenas por interesse imediato se deixam fazer passar por
ignorantes ou simplesmente por parvos. Como é o caso deste ilustre ‘pensador
português’.
Pacheco Pereira,
republicano, vindo da extrema esquerda, professor de liceu, completamente
desconhecido da turba política, afirma-se como ideólogo de Cavaco. O demagogo
de serviço do cavaquismo.
Nada contra.
Mesmo nada. Cada um é pró que nasce. Ou pró que quer.
Há muita gente
de bem que vem de diversos azimutes políticos extremistas, quando tinham 20
anos. Até penso ser uma forma saudável de crescer e tomar partido com o “andar
do tempo, dos interesses e dos anos”.
O grande Herman
José, teve um programa na RTP 1, que há semelhança de outros, obteve enormes
audiências e grande sucesso mediático.
Chamava-se ‘Parabéns’.
Era um programa de variedades com um convidado semanal que celebrava o seu
aniversário na semana em que decorria esse programa.
No fim de uma
entrevista com o convidado era oferecido um presente que de uma forma ou de
outra, preenchia os interesses e os gostos do aniversariante.
Pacheco Pereira,
republicano, democrata e intelectual, adorava dizer que descendia de uma grande
família da Nobreza portuguesa, descrevendo inclusive as ‘armas e o brazão’
seculares dos Pachecos Pereiras. Interessante saber que a sua família teve no
seu seio um dos carrascos de D. Inês de Castro, entretanto fugido para Espanha.
Como convém a gente corajosa e de princípios inabaláveis.
Com uma
biblioteca de milhares e milhares de livros este historiador, adorava divulgar
esse seu enorme património literário.
O Herman
ofereceu-lhe uma escada de estante com alguns degraus, para facilitar o acesso
aos livros arrumados em prateleiras mais inacessíveis pela altura das mesmas.
O convidado,
quando desembrulha o presente resolve dizer, numa soberba ridícula que aquela
pequena escada não dava nem para chegar à quarta prateleira da sua enorme
biblioteca.
Recordo-me como
se fosse hoje.
Após a queda de
Cavaco, começa a chegar-se à esquerda dita inteligente. Vai ao Congresso das
esquerdas que se reuniram após a queda do muro de Berlim, participa num
Congresso do então PSR (embrião do Bloco de Esquerda) e atualmente vai ganhando
e bem, a vida com a sua reforma de professor de liceu e de deputado em várias
legislaturas. Acresce a isto, a notável e antiga colaboração como ‘opinador’
independente e de serviço à república com tão avisadas e inteligentes formas de
pensar o mundo, o país, a economia, e, claro a política.
A frase que
transcrevo supra revela apenas uma coisa:
A absoluta
ignorância acerca da Maçonaria e do Partido Politico a que diz pertencer.
Sabia que o PSD
teve num dos seus presidentes um destacadíssimo membro do Grande Oriente
Lusitano? Como foi o caso de Emídio Guerreiro, segundo presidente desse
partido, logo após Sá Carneiro. Já para não falar no seu atual líder, Luís
Montenegro?
Como é possível
que um homem culto, democrata e pedante, já agora, possa confundir a árvore com
a floresta?
Como é possível
que uma proposta que ‘obriga’ todos os Maçons a revelarem essa mesma condição desde
que sejam eleitos deputados ou Ministros da República tenha tido acolhimento
num partido político democrático com centenas e centenas de militantes que
pertencem à Maçonaria?
A ignorância
será sempre muito atrevida.
Que todos os
comunistas proíbam os seus militantes de pertencer à Maçonaria ou que a extrema
direita não os tolere, ou que a Santa Inquisição os tenha queimado vivos, o
fascismo os tenha mandado prender e torturar ainda se vai ‘tentando’
compreender, mas agora, volvidas as duas primeiras décadas do sec. XXI, que o
PSD ou a Igreja Católica tente diminuir, achincalhar ou proibir os seus membros
de pertencerem a uma ordem que em três palavras tenta cumprir com os desígnios da
Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, não compreendo.
Afinal, de onde
vem a intolerância, a ignorância e a perseguição?
O que é
interessante é que todos os grupos antimaçónicos (católicos incluídos) nunca
revelam o ou os porquê(s) dessas proibições, antagonismos ou incompatibilidades.
Estranha, muito
estranha ‘forma de vida’.
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