Esquecimentos breves.
Cresci numa casa mágica.
Com gente estranha, no bom sentido que a palavra “estranha”
pretende significar. Dentro destas paredes. Velhas e muito antigas paredes. Por
aqui viveram pessoas que acima de qualquer outra coisa, sempre acreditaram na Liberdade,
na República e na Democracia.
É talvez por isso que nunca aceitarei lições de quem seja
sobre estas sagradas ideias e posturas. Aprendia-as a todas pela forma. Pelo
todo. Pela coragem. Pela loucura da busca pela liberdade.
Foi assim o meu avô António! Sempre assim foi aquele homem.
Simples. Com a quarta classe. Ateu, como competia a qualquer republicano da
época, mas … perdia tardes dentro de igrejas. Um homem com dúvidas. Cheio de
dúvidas!
Até ao fim.
Nunca o conheci, apesar de venerar a sua memória. Ainda paira
sobre a minha casa, onde vivo sozinho a maior parte de todos os meses que vão
compondo um ano.
Tenho, mantenho e adoro estar dentro do nosso Templo Familiar
com os meus putos. Gostamos uns dos outros. Adoramo-nos uns aos outros. Somos
todos diferentes uns dos outros. E, divertimo-nos como poucos dentro destas
sagradas paredes.
Tudo entenderam os meus rapazes. Tudo o que importa terem entendido.
Agora, com 55 penso-me novo ainda. Sempre ouvi de toda a
gente que o meu avô António morreu velho. Só tinha 56. Para todos estava velho.
Eu, estou lá quase e, tal como o meu pai com essa idade, sinto-me ainda
bastante “novo”.
Sempre detestei vaidosos ou como se diz agora “gente com egos
dilatados”.
Coitados dos meus mortos.
O meu avô, o meu pai, a minha tia.
Coitados deles, por comparação com certos, digamos assim, “cagões”
de pequena circunstância!
A minha casa antes e depois do 25 de abril de 74, sempre foi
o “porto de abrigo” dos democratas e, anos mais tarde, dos socialistas da
Vieira.
Lembro-me disso. Lembro-me bem disso. Como me recordo de toda
a gente desse tempo.
A minha “mãe”, porque o foi – minha mãe -, discursou antes do
25 de abril em diversos palcos. Era uma mulher. Uma mulher sem medo, num tempo
em que alguns se refugiaram em seminários católicos ao abrigo de outros
perigos.
O meu pai esteve para ser preso pela PIDE, o meu avô esteve
preso pela polícia política apenas porque colocou na montra da sua loja
propaganda antifascista. Foi este o “caldo de cultura política” em que fui
educado.
Hoje, ….
Hoje, tudo parece uma enorme vergonha. Mesmo nos partidos
democráticos, como é e tem sido o Partido Socialista.
O que se tem passado a nível nacional, bom ou mau, pouco ou
nada me interessa.
Já o que se passa “dentro de portas” interessa-me. E muito.
A minha “mãe” foi “apenas” a primeira mulher deste país presidente
de uma Junta de Freguesia.
Parece-me bastante.
Bastante orgulho, merecimento por todo o passado político que
teve e, acima de tudo por ter sido uma simples mulher de província com a quarta
classe.
Esses anos e essas muitas estórias estão todas por escrever.
Foi eleita e depois no segundo mandato apareceu como número
dois nas listas para a JF da Vieira. Simplesmente porque assim quis.
Perdemos as eleições.
Tanto na Marinha como na Vieira os ventos eram favoráveis à
FEPU, depois APU e agora CDU, tudo formas do PCP não se assumir como partido
por de trás dessas “coligações”. A foice e o martelo ainda faziam a diferença.
Havia que disfarçar.
Nestes tempos, que feliz ou infelizmente vão sendo os nossos,
existem diversas formas de comunicar.
De trocar mensagens, opiniões ou até (imagine-se) demitir
gestores públicos com indemnizações de meio milhão de euros por WhatsApp.
Ontem, entre outras mensagens no grupo do Partido Socialista
da Marinha Grande, tentei relevar a competência de todos os colaboradores do
Presidente Álvaro Órfão, nos seus 3 mandatos.
Sempre soube que há pessoas com egos enormes e, como
consequência direta, esquecimentos convenientes, vá lá saber-se porquê.
Nunca gostei de ingratos, assim como, nunca gostei de
injustos, e, bem assim detesto todos os esquecidos desta e doutras vidas.
Quando confrontei o senhor enfermeiro Álvaro Órfão (ex
presidente da Câmara da Marinha Grande) acerca das suas equipas obtive como
resposta agradecida e inesquecível das seguintes personagens e vou citar:
“Sempres destaquei 3 colaboradores sem querer menosprezar os
que não nomeio!
Sempre assumi publicamente que foram fundamentais na EQUIPA o
vereador Constâncio, nos 3 mandatos, o vereador Matias no primeiro mandato e a
Cristina Simões!”
É nestas alturas, quando estou sozinho na minha sagrada Casa,
que sinto, sinceramente vontade de chorar ou por oposição, uma forma de deixar "gritado":
“Não valem nada! Afinal, nunca nada valeram. Todos vós,
com tanta memória breve. Ingratos todos vós.
Volta Tereza e outros como tu. Nunca ninguém vos mereceu”.
É assim, que se constroem todos os JPP’s desta vida.
Com hipocrisia ("o meu Delfim, lembram-se"?). O"anti-Cristo", agora!
Por mim, desejo bem que se juntem os dois num piquenique, por exemplo numa qualquer quinta-feira de Ascenção, agora promovida a "dia da Cidade", com as vossas amorosas famílias, todos juntos, cada qual com as suas tuperwares e tachos com arros de coelho e ervilhas.
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