47 anos de Poder Local.
Faz hoje exatamente 47 anos que decorreram as primeiras
eleições autárquicas livres em Portugal.
1976 foi o ano.
Ainda não se encontrava escrita a ‘Lei das Finanças Locais’,
sendo os meios financeiros, técnicos e humanos disponíveis a uma Junta de Freguesia
ou até mesmo a qualquer Câmara Municipal em Portugal,
substantivamente diminutos e condicionantes a qualquer medida ou obra pública
por mais urgente e necessária que fosse.
Tanto nas freguesias da Vieira, como em Leiria o Partido
Socialista venceu claramente as eleições.
Conheci bem e fui Amigo do primeiro Presidente da Junta de
Leiria, Henrique Cabrita Franco, um cavalheiro, um Homem Bom, Honrado e Digno.
Como agora é muito raro encontrar nestes palcos da política local, repletos de
gente medíocre e, com interesses próprios mais do que evidentes e definidos.
Disse-me o Cabrita diversas vezes, que para poupar no
orçamento da Junta de Leiria, deslocava-se em viatura própria aos diversos
locais da freguesia e telefonava muitas vezes da sua casa para não utilizar o
telefone público da sua Junta.
Ouvi e assisti a muitas histórias idênticas em minha casa.
Tive esse raro privilégio.
Décadas antes de abril de 74, respirou-se sempre política,
ideais, democracia e participação cívica. Era tema obrigatório. Éramos uma casa
de democratas e republicanos, onde alguns princípios sempre se encontraram
escritos ‘nas Tábuas da nossa Lei’.
Princípios esses, que numa breve análise, deixaram de contar
para a maioria. Não existem, resistem, no carácter de cada vez menos gente na
vida pública. Quando a mentira deixou de envergonhar o mentiroso, esse facto
diz muito acerca da opinião que o povo tem acerca de quem mente! E da natural irrelevância
da mentira propriamente dita.
A primeira experiência com cariz político que tive, foi para
aí aos 5 ou 6 anos, quando o meu pai me agarrou em frente da minha mãe e me
disse: “Diz assim - abaixo o Marcelo Caetano!”. A minha mãe, coitada, como
sabia que eu era uma caixa de repetição só comentou: “Oh Armando não digas
essas coisas ao menino.”
Nunca me esqueci disto, apesar de ser tão novo.
Todos os partidos com bastante implantação na Vieira, tinham
um ideal, uma carta de princípios, um programa, diversos rostos. Transpirava-se
política, nos cafés, nas fábricas, nas Associações locais e nas casas de cada
um.
No meu Concelho a política dividia-se entre os dois maiores
partidos, o PS e o PCP. Existem ainda militantes de ambas as forças políticas
que não conseguem ultrapassar diferenças antigas. O que, a meu ver é um
perfeito disparate, sem qualquer justificação.
Com os anos e com a vida, fui construindo amigos no seio do
PC da Marinha. Muitas vezes partilhamos a ideia de uma coligação estável e
duradoura, que permita construir o nosso futuro coletivo com visão de médio-longo
prazo, aquele futuro a que não assistiremos, e não, o futuro do imediato, do
populista, do eleitoral ou, por outras palavras, o futuro da espuma dos dias
que passam.
Em 1976, a taxa de abstenção na Marinha Grande foi de 28%. Em
2021 registou um score de 52%.
Penso que estes factos muito dizem acerca dos tempos que
correm e da forma como a política local é vivida e sentida pela nossa
população!
Os tempos eram diferentes, principalmente porque a essência
das pessoas também o era. Poucos são os vieirenses que com a minha idade poderão
testemunhar certos episódios ocorridos nas primeiras duas décadas de democracia
local, como eu, felizmente posso.
A FEPU e mais tarde APU foram as coligações democráticas onde
imperava o Partido Comunista, que teve durante os primeiros 20 anos de
democracia um papel preponderante no governo do nosso Concelho e da minha
Freguesia.
Nesses tempos e depois da ausência de sede do PS na Rua Pires
de Campos, todas as reuniões ou quase todas eram realizadas na sala da minha
casa, no escritório do meu pai e, depois disso, em salas que o meu pai
graciosamente disponibilizava ao Partido num imóvel que possuía no centro da “aldeia”
da Vieira.
Aldeia sim. Não me enganei a escrever.
Não fui um apoiante da candidata Cidália Ferreira nas
eleições de 2021 para a Câmara. Todos o sabem.
A consciência, o nome, e a nossa assinatura não têm preço.
Foi assim que me ensinaram. E para o meu bem ou para o meu mal são esses alguns
dos valores que procuro deixar aos meus filhos.
Estou a falar das eleições de 2021, porque no dia eleitoral
retive duas imagens que ainda hoje me marcam e desgostam profundamente.
A primeira foi uma fotografia publicada nas redes sociais
onde se vê a candidata Cidália Ferreira a caminhar completamente sozinha para o
local de voto. Sozinha, vista de trás a bastantes metros de distância e, sem
ninguém ao seu lado.
A segunda imagem que retive foi na assunção da derrota, com
meia dúzia de socialistas perto.
Houve até alguns indefetíveis dessa candidatura que nessa
mesma noite eleitoral retiraram das suas páginas de Facebook todas as imagens
de campanha onde tinham participado. Outros houve, mais radicais que fecharam
as suas páginas nas redes sociais.
Se estou a contar estas tristes curiosidades, é porque sou do
tempo em que era um prestígio representar o PS, mesmo sabendo que era a derrota
que os esperava. Como foi o caso da Drª Maria Fernanda Pinto, na sua
candidatura a presidente da Câmara ou mesmo a da minha mãe como candidata a
presidente da Junta da Vieira. Eram duas derrotadas e sabiam-no. Foram dignas
representantes do PS, ambas!
Nesse tempo, o partido socialista não abandonava os seus. Nem
nas derrotas.
Temo que o principal problema do nosso Concelho tenha
residido no infeliz facto, da bipolaridade entre PS versus PC, em nada ter ajudado no seu desenvolvimento. O mercado da Marinha é disso um exemplo
evidente.
Foi sempre um Concelho do estou certo ou estou errado, do
branco e do preto, do bom e do mau numa dicotomia esgotante que condicionava a
aprovação dos projetos à força política que os queria implementar. Veja-se o
que ainda neste mandato se passou com o terminal rodoviário e a perda dos fundos
comunitários que se encontravam aprovados a fundo perdido na ordem dos 85% do
total do investimento. A esta hora já se encontrava construído e em pleno
funcionamento.
Por vezes, como diz o povo, o “ótimo” é inimigo do Bom.
Apesar de todos estes pesares, o poder autárquico que hoje se
celebra, trouxe um inegável e brutal desenvolvimento em todo o país. A
modernização de muitos serviços públicos no que respeita á construção das infraestruturas
necessárias, ao poder local o deve. No desporto, na educação, nas vias de
transporte, na cultura, no apoio social entre muitas e muitas outras valências,
como é sabido.
Nestas quatro décadas os partidos foram os pilares do
desenvolvimento local do país. A vergonha, a desonra na mentira e a honestidade
intelectual não eram chavões de circunstância. Eram valores que deitavam abaixo
candidatos e elevavam outros. Nesses tempos, por exemplo, nunca um presidente
de Junta prolongaria até à exaustão a sua permanência no executivo, tendo feito
negócios consigo próprio. O que agora, para certas pessoas fortemente ‘apartidárias’
parece não escandalizar.
Alguma vez, na Vieira por exemplo, as tão famosas três ruas
estariam ainda por reparar, ainda mais com um aval público da população
interessada.
Tenho saudades de toda essa gente. Algumas até do partido
comunista ou do partido social democrata. Era gente com valores quase na sua
totalidade.
Agora ainda as há, como sabemos, mas fica a pergunta:
Serão suficientes?
Contrariamente ao que a maioria da turba pensa, os sonhadores
sempre tiveram lugar nas democracias e na sociedade. E, quando a tecnocracia os
deseja diminuir ou substituir, normalmente dá mau resultado, como de resto se tem assistido na nossa Câmara com estes protagonistas com agendas próprias e
necessidade de palco para disfarçar alguns complexos e traços de personalidade
exibicionista, com um pendor fortemente narcísico que roça tantas e tantas
vezes o ridículo. Estas figuras têm usado e abusado do populismo e do discurso
de café, ingredientes típicos de todos os demagogos desta e
doutras vidas.
Onde estiveste Aurélio nos primeiros 39 anos de democracia local que nunca ninguém te viu com a cabecinha de fora dos arbustos?
Pois, deves ter estado demasiado ocupado contigo próprio e com os teus interesses, o que, para um homem como eu, é absolutamente desonroso, para não dizer outra coisa. Porque vivemos em sociedade e também com ela nos devemos sempre preocupar. É a chamada ausência de egoísmo, porque pensar nos outros, não é apenas uma virtude, é sempre uma natural obrigação.
O +MpM está, como sempre esteve, circunscrito a auto denominados anónimos e ausentes da vida pública, que agora aparecem nas redes sociais e na Assembleia Municipal cheios de si próprios e da sua visão distorcida da vida e da sociedade.
Os medíocres e os novos ricos, que bem vistas as coisas, nem ricos são! Têm uns tostões no banco e ausência total de visão de futuro para a sua comunidade. Simplesmente porque nunca se preocuparam com ninguém, para além de si mesmos, das suas famílias, das suas empresas e da sua agora necessidade obsessiva de palco.
Estava-me a esquecer, naquelas eleições de 1976, a primeira
mulher presidente de uma Junta de Freguesia em Portugal era da Vieira!
E pertencia a uma lista de um partido político, apesar de ser, por essa altura, INDEPENDENTE.
Tal como independentes foram muitos candidatos em todas as listas de partidos democráticos.
Dúvidas não restam, em como tudo se alterou.
Para muito pior, digo eu, partindo do triste exemplo do atual executivo municipal.
Desde a postura dos Vereadores eleitos nas listas do PS, como na conduta errante e medíocre do +MpM.
Restam as Vereadoras da CDU, honra lhes seja!
Por vezes, para admirar e respeitar o valor dos outros, não temos de partilhar dos seus ideais, cumpre-nos a todos respeitar apenas a sua integridade e a sua conduta. O que em boa verdade tem faltado aos outros 5 que por lá andam.
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