Os Amigos e o poder.
Uma tarde, durante a presidência
de Mário Soares, no tempo do enorme frenesim das informações tornadas públicas acerca da putativa colaboração de Mitterrand com o governo de Vichy, tendo sido, em
simultâneo, descoberto o encobrimento de uma filha ‘bastarda’ do ex presidente
da república francesa, o inefável jornalista Miguel Sousa Tavares deslocou-se
ao palácio de Belém para confrontar o nosso presidente com essas informações.
Foi recebido muito
cordialmente por Mário Soares, sem saber o anfitrião quais os motivos de tão
inesperada visita.
Após uma inicial introdução
dos ‘temas’, disse meia dúzia de palavrões aos gritos. Abandonou a sala
tendo-se ouvido no fim: “mas você não sabe que eu sou Amigo dele? E, chega-se
aqui com essas perguntas? Vá à merda!”
Esta cena foi anos mais tarde
descrita pelo próprio jornalista. Ipsis Verbis (incluíndo o 'Vá à merda').
Noutro contexto, foi Mário
Soares visitar na Tunísia o italiano fugido à justiça por corrupção e ligações
com a Máfia, Bettino Craxi.
Quando questionado por
jornalistas portugueses acerca de tão inusitada visita, só respondeu: “É meu
Amigo e os Amigos até condenados nunca deverão ser esquecidos pelos seus
Amigos, seja em que circunstância for!”
Lembrei-me destes episódios.
E, como todos sabemos, o Mário Soares nunca foi um poço de virtudes! Só que existiam sagrados valores.
Agora, pelos vistos, nem isso.
As pessoas não se utilizam quando dá jeito e se descartam, quando passou a dar jeito. Cada um com as suas responsabilidades. As verdadeiras amizades são à prova de tudo. Pelo menos para certas pessoas, já que outras, nunca conheceram o verdadeiro significado de ser Amigo de quem quer que fosse.
O Partido Socialista
mudou muito.
E mais não digo.
A falta dos princípios elementares é sempre uma nojenta forma de ser.
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