Os Lobos.

 


Não irei fazer qualquer recensão ao monumental livro de Aquilino Ribeiro, "Quando os Lobos uivam."

Irei falar de lobos sim, mas aqueles que pululam noutros contextos, que não a Serra dos Milhafres, cenário dessa obra literária.

Não devia, ou talvez deva dizer isto: a Helena detesta política local. Odeia que me manifeste a favor ou contra seja quem for. Simplesmente não tem qualquer paciência para este jogo de “palavras” e posturas que tantas vezes tenho assumido, com a maior das tranquilidades. Há alguns anos que não tenho qualquer desejo de pertencer a isto ou aquilo. Simplesmente, já tive o meu tempo. Bem ou mal aproveitado, o meu tempo nestas lides passou. Desde que deixei de ter ‘valor de mercado’ em 2013.

Podia dizer tanta coisa acerca de tantos momentos, personagens, candidatos. Memórias diversas. Pequenas ingratidões de perfeitos Zés Ninguéns, que inventei, neste ou naquele contexto. Enfim. Desde muito novo que me tenho vindo a encontrar com a ou as pequenas estórias da política do nosso Concelho.

Atualmente, tudo tem atingido umas proporções inimagináveis. De falta de pensamento critico, de projetos estruturantes para o Concelho, de falta de inteligência, de total navegação à vista, entre tantas e tantas outras infelizes circunstâncias, que não vale, sinceramente a pena escrever.

Ontem estive em limpezas profundas cá em casa. Do género lavar paredes, chão, aspirar, limpar o pó acumulado e tudo o que ficou por fazer quando o António esteve por cá há um mês a tentar pôr tudo em ordem.

Ficou poucos dias, por isso …

Ontem fartei-me de transpirar.

A Helena vinha cá. Tinha de ter tudo impecável.

E consegui.

Excelente fim de semana para namorar. Chuva, vento, jantarinho caseiro, casa quentinha. Tudo para ninguém querer sair de casa sob qualquer pretexto.

Muitas vezes falo eu sozinho durante o dia. Mesmo quando estou acompanhado. E, depois de jantar ouviram-se sair da minha boca estas frases: 

“Adorei descobrir as coisas do PS da Vieira que a minha tia guardou no sótão.”

“Parece que tudo era puro, autêntico, com um propósito.”

“Gostava tanto que tudo continuasse assim.”

“Estão a estragar tudo novamente, porque apenas pensam neles próprios e nos seus mesquinhos interesses. Estão a construir um caldeirão de pessoas incompatíveis, de tão medíocres, interesseiras e canalhas.” 

“Triste PS, que se arrisca a perder as eleições”.

A Helena mostrou-me uma cara bem aborrecida, de quem já não tem nem uma réstia de paciência para tudo o que estava a ouvir e só me disse: 

“Para com isso. Desliga-te. Não sofras mais com as guerras que já não deveriam ser as tuas.”

“Concentra-te apenas no que te faz bem. E tens tanta coisa e tanta gente em quem te concentrar.”

Por acaso aprecio muito uma boa caldeirada, mas até esse prato tem de ter peixes ‘compatíveis’, o que não é o caso nesta altura dos novos ‘amigos’ da lista do Luís Toscano. E daqueles que na sombra de tantos telefonemas a estão a construir.

Pobre homem. Boa pessoa, sem dúvida.

Como todas as boas pessoas que se deixam utilizar pelos lobos, que não aparecem.

Mas uivam.

Nas noites de lua cheia.

Podem até ser de alcateias diferentes e até inimigas.

Mas uivam.

E estão a uivar todos juntos e ao mesmo tempo como se fossem um só.

Tudo isto deixou de ter o mínimo interesse. Pois que fiquem com o partido e que se besuntem nele.

No fim, lá iremos assistir a uma improvável e tristíssima fotografia de grupo.

Até parece que já os estou a ver a distribuir esferográficas, sacos e calendários no mercado da Vieira.

Todos juntos, a odiarem-se 'cordialmente'. 


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