O Mito da Caverna.
Ontem falava com o Manel sobre política, geopolítica e
obviamente política internacional. Difícil tarefa para um homem, como eu, que
já entendeu tudo o que havia a entender. Ainda para mais a “tentar” conversar
com uma espécie de ‘romântico intolerante a roçar o ortodoxo’ – como se isto
fosse possível, mas com este meu filho, é mesmo tudo possível. O mesmo e o seu
contrário. Só me irá valer um pormenor. Ele nunca irá ler isto!
No enorme filme ‘Spartacus’ realizado no período do
Macartismo nos EUA, por uma produtora independente da qual um dos
proprietários, Kirk Douglas, entre muitos outros democratas americanos,
realizavam os filmes que queriam, quase todos contra o mainstream. Nessa
fabulosa obra, existe uma breve passagem onde o jovem Júlio César e o seu
mentor Gracchus, abordam o tema da rebelião dos escravos, que, por essa altura já tinha atingido uma forma de preocupação nacional incontornável.
Nesse contexto, sabia-se que os escravos com todos os saques que
tinham obtido com a passagem por todas as maiores cidades romanas, dispunham de
uma enorme fortuna. Dessa forma tinham conseguido um acordo com uma frota de piratas
que lhes assegurava a ‘passagem’ para a liberdade atravessando o Mar
Mediterrâneo.
Inclusivamente, já se encontrava pago o ‘sinal’ desse negócio
(uma enorme arca repleta de ouro).
Pois nessa conversa e para tranquilizar o futuro imperador
Júlio César, Gracchus só lhe diz: “não te apoquentes, já compramos os piratas.
Ninguém se irá evadir da República" (sim, porque nesse período da história, Roma
ainda era uma República).
César, um puto de vinte e poucos, só lhe diz escandalizado: “mas
agora, negociamos com piratas?”.
O velho republicano responde com enorme condescendência e parcimónia:
“a política, filho, é uma atividade essencialmente prática.
Se tivermos de negociar com piratas, negociamos!”.
Foi o que tentei passar ao meu número 1 ontem numa conversa
banal.
Estranhou. Naturalmente discordou. De forma veemente, como seria de esperar de um filho que sai ao pai, ainda mais quando atravessa a idade parva e vai professando abundantemente todas as absolutas e ridículas certezas.
Como agora
eu compreendo o meu pai! Só não consigo nem conseguirei nunca ter a paciência
dele.
Tudo isto para dizer, que todos os cenários atuais de guerra
e de potenciais conflitos internacionais (como o da China com Taiwan), entre tantos
e tantos outros, se constituem e vão constituindo como enormes mentiras, que repetidas à exaustão se ‘tentam’
transformar em verdades. Com o beneplácito absoluto do chamado ocidente
democrata!
Para quem se lembra do ‘Mito da Caverna’ de Platão é
exatamente aí que todos estamos mergulhados. Só vislumbramos as sombras de uma
realidade que imaginamos pela leitura apenas através dessas mesmas sombras (a preto e branco) de tudo o que efetivamente se está
a passar à nossa volta. Lá fora. E, por vezes a realidade é tão distinta daquilo que parece ser para todos os que estão confinados a uma caverna de luzes a preto e branco.
Como vai sendo o nosso caso.
Sejam críticos, reservados nas opiniões, estudem e leiam alguma imprensa livre que ainda vai teimando em permanecer.
Como por exemplo o ‘Le Monde’ de
ontem.
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