Outono.
Todos temos
acontecimentos ou ‘bocados de passado’ que nos perseguem pela vida fora. Estou,
obviamente, a referir-me a momentos e circunstâncias menos boas, desagradáveis
e umas mais que outras, naturalmente inesquecíveis pelos piores motivos.
Ninguém
escapa a estas características. Arrisco-me mesmo a pensar que não há,
rigorosamente, nada a fazer. É mesmo assim. Faz parte da vida ou de todas as
vidas.
Centremo-nos
pois no inverso.
Nos também
inesquecíveis bons momentos que igualmente todos nós vamos colecionando pela
vida fora.
De certa
forma, constituem a nossa melhor energia. O oxigénio que vamos acumulando para
quando o mesmo nos falta. Todos os pôr e nascer do sol a que continuamos a
assistir, só porque sim! A ir até à nossa praia, se tivermos a sorte de a ter.
A termos o nosso cão debaixo dos pés quando escrevemos qualquer texto numa
noite fria de inverno.
A construir momentos com os nossos filhos, com os nossos amores, com os nossos Amigos no
conforto e na intimidade partilhável das casas uns dos outros, como numa Noite
de Natal numa mesa enorme, com tanta gente que se gosta acima de tudo o resto.
A nossa vida
também é composta por bocados destes.
Quando vivo
momentos assim, costumo sentir sempre uma espécie de memória antecipada. Isto é: “vou lembrar-me disto no inverno”. Ou, “este momento, vai-me fazer
adormecer em paz durante muitas noites”.
Vivi este
Verão, felizmente, alguns tempos bons. Mesmo bons.
Sempre,
desde que me lembro, adoro o outono. Não sei porquê. Talvez porque voltava à
escola, depois de três meses na praia, de noites longas de verão, de muitos
amigos e muitas partilhas de momentos felizes.
Talvez seja
esse o motivo de gostar tanto dos princípios do outono.
O tempo de
recarregar baterias está a chegar ao fim e, de uma forma ou de outra, sentes
que irá começar nova corrida, novos e difíceis desafios, lutas e contrariedades
que irão exigir o máximo de ti mesmo.
Com o andar
do tempo esta sensação não desaparece. Antes pelo contrário.
Neste verão,
houve um fim de tarde que enquanto o vivia, comecei a sentir a tal memória antecipada.
Estávamos na
praia. Sozinhos. Na margem norte do rio. Aquele cheiro a maresia que só a praia
da Vieira oferece. Os dias a começar a ficar mais pequeninos. A água até estava
boa pró que é costume.
O chapéu
azul que compramos em Tavira, o teu corpo, os teus olhos completamente alheios
a tudo e numa paz absoluta.
Enquanto
olhava para o fim do mar, o horizonte, a mistura de azuis do céu e do meu mar,
só pensava. Se há paz, a Paz é isto.
Muitas vezes
vou eu adormecer no inverno a pensar na cor dos teus olhos, no teu rosto, no
teu corpo e nestes azuis todos misturados.
Tal como nós.
Amo-te HI.
Comentários
Enviar um comentário