Jacarandás.
O meu pai quando era concessionário da BP recebia muitas
vezes (agora chamar-se-ia diretor comercial), naquela altura chamava-se “inspetor”.
Era o senhor Neves e ficaram bastante amigos. Aparecia de vez em quando e
falavam de tudo menos de vendas. Um dia, talvez logo no princípio, o senhor
Neves reparou que havia um quintal por trás da minha casa que se via da janela
do escritório que o meu pai tinha no R/C da sua loja. Ficou surpreendido
porque nunca tinha visto nenhum quintal, ainda por cima com algumas árvores, nas
traseiras de uma casa. E, dizia ele, no restelo onde morava, os jardins e
quintais estavam na parte da frente de todas as casas para que dessa forma toda a gente que passasse na rua os pudesse ver.
Muitas vezes me lembro eu desta história. Até porque o meu
pai ficou perplexo com a falta de conhecimento do inspetor da BP, no que a
quintais dizia respeito. Talvez porque para o meu pai, o lógico seria que quintais,
jardins e pequenas hortas, como existiam na Vieira naquela altura, não fossem como se de montras se tratassem. Para toda a gente lhes poder pôr a vista em cima.
Quando, há poucos anos refiz o meu quintal, deixei a magnólia
da minha tia e comprei árvores de fruto. Já contei toda essa história com o
Leonel Farto, meu conselheiro particular nestas matérias de jardinagem entre
outras pequenas tarefas que dizem respeito a escolhas de adubos, podas, podadores e afins.
Vou para a semana retirar duas árvores de fruto. Uma porque,
coitada, nunca vingou, já a outra, mesmo tendo vingado, nunca os pássaros permitiram
que sequer tivesse sido possível fazer um kg de doce de ginja.
Vou plantar um jacarandá.
Cada vez gosto mais de me deter com estas coisas.
Ainda ficam a faltar 3 buganvílias (cada qual de sua cor) para
plantar em três cantos diferentes do meu quintalzinho.
Este tipo de necessidade em dar cada vez mais atenção a
árvores, plantas, e até mesmo e acima de tudo, aos meus cães, tem-se vindo a intensificar ultimamente. Talvez
porque me vai faltando cada vez mais paciência para aturar pessoas.
Vou ficando apenas com as minhas. Cada vez menos, mas que me preenchem e não me desiludem. Precisamos uns dos outros. Dependemos uns dos outros. Cada vez mais. E, por isso, vou dispensando quem se tornou dispensável. Ou por isto ou por aquilo.
Não digo isto com prazer.
Vou concluindo apenas esta evidência com bastante mágoa. Só que já não dou
por mim sequer surpreendido.
Faz parte.
Infelizmente.
Porque sempre chega um tempo em que tudo parece mudar na
mesma altura. Talvez porque, tudo tinha de mudar.
O Tempo muda sempre e a Vida com ele também.
Se ficamos melhores, nunca o saberei.
Diferentes?
Isso com toda a certeza.
Por vezes bastante diferentes.
E começamos a ir ficando cada vez mais alheios. A certas pessoas e a muitas coisas.
Não se trata de uma questão de egoísmo, de nos irmos fechando
num pequeno círculo, de poucas amizades que para nós sempre pareceram ser indispensáveis.
Não se trata disso.
A sabedoria que o decurso dos anos tem por obrigação primeira
apresentar à nossa frente, não nos deve nunca permitir ir consentindo cometer os
mesmos erros. Sempre que o tempo passa.
No julgamento dos outros.
Todos os outros, que nos magoaram ou ainda têm essa infeliz
capacidade, porque sempre gostamos e gostaremos deles.
Não se trata disso.
É mesmo uma questão de prioridades.
De certezas.
De pequenas e grandes cumplicidades que a tudo foram resistindo.
Ou, em alguns casos, talvez não.
Nessas circunstâncias só nos restam duas coisas:
Ou nos revoltamos connosco e com a vida (no caso de nada
termos aprendido com ela),
ou,
em alternativa,
ficamos mais tristes, mais conscientes e,
naturalmente mais sós.
Não há nada pior quando se perdem pessoas que sempre amamos. E que, ... continuam vivas.
Provavelmente essa será das maiores dores que a vida nos pode
oferecer.
Perder Amigos é tramado.
Ou nunca foram amigos,
ou então, é mesmo uma enorme chatice.
Sempre preferi a segunda possibilidade. Ser mesmo uma enorme chatice!
Agora, receber cumprimentos como se de um favor se tratassem?
Ouvir opiniões estupidamente injustas como se justas fossem?
Dispenso tudo isso.
Já não tenho idade nem qualquer pachorra para tiques de
vedetas e primas donas.
Um “boa noite” dito quase por obrigação e com elevada altivez,
começou a dar-me vontade de negar a saudação, que como diz o povo, “nunca se
nega”.
“A saudação nunca se deve negar a ninguém”.
Comecei a discordar disso.
Aliás, detesto saudações plenas de
soberba e 'delicada' postura, apenas porque ... simplesmente obrigatória.
Prefiro nada, porque mais autêntico.
Mal-educado?
Não!
Autêntico apenas.
Fiquei farto, aliás estou farto e cansado dessas “delicadas
formas de se ser e de se estar”.
Quando alguém nasce, trás apenas duas certezas. A primeira é
que um dia irá morrer e a segunda é que durante a vida irá errar. Errar muito.
Muitas vezes errei eu na minha vida. E, obviamente
continuarei a errar, a julgar mal os outros, coisas e circunstâncias.
Por vezes é imediato, já outras demora um pouco. Mas nunca tive necessidade que alguém me aponte onde, como e com quem fui menos correto. Chego sempre lá com maior ou menor velocidade.
Sozinho.
É talvez por isso, que tenho cada vez mais intolerância à
incapacidade que outros revelam em admitir quando, como, com quem e onde
erraram.
Aborrecem-me essas coisas e prefiro, ir mudando de passeio.
É que já estou velho, para começar a ser de outra maneira.
Venha pois o Jacarandá para o lugar da ginjeira.
Não produz qualquer fruto mas ... será lindo de morrer, em todas as primaveras do meu quintalzinho.
E, nesta fase da minha vida, a beleza das coisas e das pessoas é mesmo o que mais me interessa.
Porque o resto, ... como sempre digo, "é silêncio".
É imperativo deixares de "gastar" tempo e de te surpreenderes com a banal "natureza humana" e didicares-te - como muito bem dizes - àqueles onde a condição Humana é natural.
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