Juniores e Seniores.


 

Antigamente havia, porque as coisas eram mesmo assim, uma espécie de respeito pelos mais velhos. Simplesmente porque eram mais velhos. Tinham vivido mais.

Hoje em dia, na China, por exemplo, os veneráveis de qualquer família chinesa são, naturalmente os anciãos. Tratados com todo o respeito, carinho e ‘obediência’.

Na Europa e em todo o mundo ocidental, diga-se, os mais velhos não passam de estorvos. Os que ‘atrapalham’ a vida daqueles que têm vida própria, trabalho, filhos, netos, encargos, pouco tempo livre. E, o pouco tempo livre que têm são ora para férias ora para qualquer outra coisa ‘menor’.

Por isso, agora existem ‘repositórios’ de velhos, que é uma forma de chamar a todos os lares de idosos.

Há cinquenta anos, não existiam lares de idosos. Não existiam, porque a vida das famílias era completamente diferente.

Se havia um ancião, que começava a evidenciar sinais de dependência, ia, naturalmente para casa do ou dos filhos. Naquela altura havia tempo. Tempo para tomar conta das pessoas até que o seu inevitável fim acontecesse.

Agora não há tempo. A vida tornou-se fria, difícil e brutalmente lucida. Que é o mesmo que dizer: “não havia alternativa. Tivemos de pôr o pai no Lar X. É muito bom. Não lhe falta nada.”

Alguém sabe se falta ou não lhe falta alguma coisa? Dizem e pensam assim porque é uma forma de aliviar consciências. Nada mais que isso.

O consumo, os empréstimos, os pequenos luxos exigidos por filhos nascidos e criados numa sociedade de consumo onde o ter se confunde diariamente com a felicidade, obrigam a que todos trabalhem horas e horas sem fim. Desta forma ficam sem tempo para o essencial.

Como lógica decorrência destes, que são os nossos tempos, ninguém respeita ninguém. Em termos de idades, património imaterial adquirido, que é uma forma de dizer ‘experiência’, conhecimento, sabedoria que quase todos os mais velhos têm a obrigação de possuir.

Esmagadoramente os ‘nubis’, os putos, os juniores, olham para os mais velhos olhos nos olhos, sem qualquer reverência ou respeito por quem tem a obrigação de saber mais, muito mais que eles próprios.

Nasci numa geração em que os filhos e os pais já se tratavam por tu.

E, esse facto, nunca foi sinónimo de falta de respeito.

Os pais eram os pais e os filhos eram os filhos!

Esta semana verifiquei com enorme tristeza e até alguma revolta, que há muito pouca gente inexperiente, que verdadeiramente respeite a experiência, os anos, a estrada percorrida pelos mais velhos.

Dei por mim a falar com os meus cães, que é coisa com que abundantemente me deparo, porque me acalma. Diga eu o que disser, devolvem-me sempre toda a atenção, respeito e carinho do mundo. Mas, dizia eu, dei por mim a falar com os meus cães, que são cinco e existe entre eles uma hierarquia evidente. Sendo o meu Kadafi o patriarca, porque é o mais velho e o Doutor o mais novo.

Só lhes perguntava, “porque é que as pessoas não têm a vossa sabedoria?”

“É porque são parvas, é porque são burras ou então talvez seja porque não têm, simplesmente nenhuma educação e respeito, por quem delas fez gente”.

A nada responderam como é óbvio.

Limitaram-se a abanar as caudas e a ficarem todos ao pé de mim. 

Silenciosos e meigos, como sempre…

Comentários

  1. A ingratidão, a falta de educação dos próprios pais, muitos deles divorciados, em que os filhos servem de " armas de fogo " tornou e continuará a fazer do ser humano tudo menos humano.

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  2. Pena mtos desses filhos não terem sido depositados em depósitos de manutenção de vidas humanas . Os tais lares
    .Mas apropriados a adolescência, hoje seriam melhores indivíduos.

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  3. Filho és, pai serás.
    Aguardemos!

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