Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.
Há poucos estereótipos de pessoas que sinceramente não gosto.
Um desses pouquíssimos grupos é aquele que é composto por todos os presunçosos,
complexados, arrogantes na sua putativa e ‘douta’ sabedoria. Todos aqueles que
se auto distinguem dos demais 'vulgares cidadãos' como nos têm a todos em conta.
Este tipo de personagens, fingem ser gente discreta e simples.
Quando de discretos nada têm. E, de simplicidade nunca nada demonstraram ter ou ser.
A Marinha Grande é uma terra fértil em gente assim.
Sempre tive imenso orgulho nas minhas origens. Na minha
família. Que por aqui vive há cinco gerações.
O meu bisavô, o meu avô e o meu pai tinham apenas a
instrução primária.
Costumo a este propósito, contar uma história engraçada
acerca da opção do meu avô António, relativamente à educação do meu pai. Como
não tinha dinheiro para proporcionar ao filho mais instrução, propôs ao
professor Gilberto Correia Roseiro, que o meu pai repetisse a 4ª classe. Desta
forma, na cabeça do meu avô, o seu filho ficaria com uma preparação escolar
mais completa e 'muito mais sólida'.
E assim foi.
Coitado do meu pai.
Na minha casa sempre se detestaram as doutorices, as
engenharices e outras merdices que tais, que apenas revelam vaidades ridículas.
Porque quem tem possibilidade de estudar, mais não faz que a sua obrigação em concluir os seus estudos.
O meu pai teve um colega de escola que se tornou médico.
Depois do amigo e colega de escola se ter licenciado, com
bastante custo, diga-se em abono da verdade, começou a tratá-lo por senhor
doutor. E assim foi até ao fim de ambos. Nunca da parte do amigo do meu pai
houve o que deveria ter havido. “óh Armando, por amor de Deus. Não me trates
dessa maneira!”.
Nunca a minha tia Helena Branca se conformou com essa forma de
tratamento que o meu pai usava com esse médico! A minha tia que também tinha apenas
a instrução primária e foi a primeira mulher em Portugal a ser Presidente de
Junta, sempre detestou esse tipo de atitudes. Humilhantes, diga-se.
Eu, felizmente para mim, tirei a ‘carta de economista’ na
melhor faculdade de economia do país. Nunca consenti que me chamassem doutor. Só
quando era ‘obrigado’ a ouvir e a calar esse tipo de tratamento. Agora
frequento a licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra. Tem sido um prazer ser o ‘velhote’ da turma.
Mas estava eu a dizer, quando uns tipos se auto descrevem como investigadores e historiadores na Marinha Grande, onde até existe mais que um 'mestre deste ofício', lembro-me sempre de uma ocasião onde vi, por mero acaso, textos meus na secretária de um desses autodenominados investigadores e perguntei como é que aqueles textos tinham ido ali parar. Eis quando ouço esta frase inesquecível: “Então, fui eu que os escrevi”.
Anos mais tarde, comprei um livro grosso da autoria desse
mesmo investigador/historiador, onde leio a biografia do meu pai, escrita por mim, por
ocasião de a Assembleia de Freguesia ter decidido homenageá-lo, atribuindo o seu
nome a uma das ruas da Vieira.
O meu pai, que apenas teve a instrução primária. Só que esse
texto, nesse livro grosso, que foi imprimido com o alto patrocínio da
autarquia, estava completamente estraçalhado, alterado, contendo informações
bastante incorretas acerca do percurso de vida do velho Armando Teodósio.
A tudo isso nunca nada disse. Porque misérias são e de misérias se tratam.
O engraçado é que uma das muitas formas que esse historiador
marinhense se certificava a si próprio nas artes da pesquisa histórica era que
já tinha passado imensas horas na Torre do Tombo.
Eu passei horas e horas no Hot Clube de Portugal na Praça da Alegria em
Lisboa, ouvi lendas do Jazz, alguns já falecidos, mas isso, como é óbvio, nunca fez de mim um músico. Muito menos de Jazz. Mas enfim. Cada um faz as figuras que faz ou que quer ou que
gostaria de ser.
Há outro na Marinha. Um relojoeiro. Homem ‘simples’, culto
(leu o Camilo e o Eça – é o que costuma dizer em palestras pseudocientíficas)
como a que fez na Vieira, quando apresentou o seu livro: “Os pescadores da
praia da Vieira. O naufrágio do Salsinha”, onde 95% do livro é composto por
documentos vários e todo o arquivo do Padre Lacerda acerca dessa tragédia. Eu
estive nessa apresentação e comprei o livro.
Nunca pensei dar toda esta importância ao consertador de
relógios. Só que há certa gente que, sinceramente, até pode ter algum valor,
mas a enorme vaidade que carregam dentro de si sempre me conseguiram apenas desconcertar.
A falta de humildade destes profissionais do ‘copy/paste’
sempre me irritou. E, lá está, não me interessa absolutamente nada o conceito
que têm de si próprios, mas quando revelam uma falta de capacidade de discussão
e de contra argumentação de um texto sublime, só porque se acham superiores ao
seu autor, que, de resto, desconhecem, dá-me vontade de dizer: “vão lá para as
Torres do Tombo desta vida para acumularem horas, como fazem aqueles que querem
ser pilotos aviadores e têm de cumprir um certo e determinado número de horas
de voo”.
PS: quem pretender entender este texto, aparentemente simples, sugiro que visitem no facebook, a página do Paulo Vicente e procurem a reprodução do texto do Alfredo João G. Tomé com o seguinte título: "Município da Marinha Grande breves notas" e respetivos comentários dessa douta gente.
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