Os vencedores e os vencidos.

 


O exercício da arte do cinismo e da grande hipocrisia, não são nem nunca foram tarefas difíceis.

Todos nós, uns mais que outros, naturalmente, sabemo-nos fazer de sonsos, de parvos, de estúpidos e até de crédulos e incrédulos, sempre que nos convém.

Todos nós, em boa verdade sabemos fazer isto na perfeição. E, quando o motivo é a nossa ascensão social, profissional ou até mesmo familiar, temos um conjunto completo (de ‘ferramentas’) para sermos perfeitos nessa ‘nobre’ arte de fingir.

Depois existem 3 grupos de pessoas que nunca serão capazes de proceder desta forma. Os tontos, os ingénuos ou os (também tontos e ingénuos) irredutíveis porque ‘invendáveis’. Nunca estiveram nem à venda e muito menos em saldos. Obviamente, gostam de se saber íntegros. Na máxima plenitude do que significa ser-se integro.

Todos estes grupos são essencialmente compostos pelos vencidos, pelos trouxas, pelos burros, que tudo tiveram e nada souberam aproveitar.

Por oposição a toda esta gente, concentremo-nos agora nos eternos vencedores.

Os sempre ‘escorregadios’, os que não contestam qualquer hierarquia, limitando-se sempre a aplaudir todas as decisões superiores tomadas (mesmo que no íntimo não concordem em absoluto com nenhuma delas), todos os que se vão sabendo relacionar com os mais poderosos primeiro, os mais influentes logo a seguir, e, os detentores do poder quase total, no fim da meta.

Tivemos um deputado do PS por Leiria que dava lições públicas deste tipo de estratégias. Classificava-as desta forma simplória: a teoria dos ciclos de influência. Primeiro deveríamos entrar no primeiro e mais singelo ciclo, logo após, deveríamos ter a preocupação de entrar no segundo nível, and so on, and so on.

Não chegou muito longe essa figura do meu partido. No entanto chegou ao limite mínimo que desejou sempre para si. Ter um emprego eterno, sem ter de trabalhar. Como, de resto, nunca tinha trabalhado antes.

Essa gente, nunca deixará qualquer marca digna de menção futura. É sempre o que acontece em quem só em si e nos seus múltiplos interesses pensa.

Vivem bem? Sempre viverão bem em termos financeiros e de bem-estar. Mas, terão respeitabilidade pública?

Não creio!

Ainda hoje conversava sobre um dos temas que mais gosto: a política. E lá ia dizendo que adorava a política como jogo de inteligência, de estratégia, de ideais e de poder. Mas, reconhecia, que a política, acima de qualquer outra atividade era aquela em que o melhor e o pior de nós vem sempre ao de cima, tal como o azeite quando misturado com água. E, isso também fazia dela uma ‘coisa’ fascinante’ e acima de todas as outras.

É fácil chegar ao topo. Sempre foi. Basta que não se cometam erros elementares, como por exemplo ter e manifestar opiniões diferentes do main stream reinante. Basta saber dar graxa no tempo certo. Basta obedecer cegamente a quem se encontra num patamar superior ao nosso. E, como em qualquer outra coisa na vida, basta ter alguma sorte. Saber colocar-se em bicos dos pés, mesmo quando estamos a pisar os outros. Basta tão pouca coisa para chegar ao topo.

Não estou, obviamente, a querer deixar uma ideia que todos os que atingem o olimpo são assim, desta maneira simples com que pretendi caracterizar o comportamento da maioria.

Já com todos os que perdem, a conversa é outra.

Bem diferente. E outra.

Longa conversa tive eu com o meu Manel há pouco. Sobre o seu trabalho de ‘bagageiro’ na Quinta do Lago. Não a irei reproduzir, porque ele detesta que partilhe coisas nossas com toda a gente. Direi apenas isto, “se te estiverem a roubar, a prejudicar ou a ficar com o que é teu por direito, não faças nem digas nada. Aguenta até ao fim. Só que no fim, diz a todos os teus colegas, que sempre viste, percebeste e fizeste de conta que ignoraste tudo o que te foram fazendo. Podem ter ficado com mais 200 ou 300 euros, mas ficam a saber que não te comeram. Porque sempre fizeste que estavas distraído”. O que achei engraçado é que o meu menino, o meu número 1, só me respondeu: “é exatamente isso que irei fazer. Escusavas de me dizer o que fosse, porque já tinha tomado essa decisão. A integridade, não se vende, porque não tem preço. Não quero armar confusão com ninguém, mas ninguém me tomará nunca por parvo”.

Os anos que eu andei para chegar a esta simples conclusão: nunca devemos consentir que alguém nos tome por parvos.

Tantos exemplos poderia eu citar agora, em que fui completamente enganado. Até por hierarquias que suportei na minha vida profissional.

Nada disso interessa, porque a vida, toda a nossa vida é comandada maioritariamente por chicos espertos, sabujos, medíocres em permanente contradição e sempre em bicos dos pés.

É assim que somos, há séculos e séculos.

Creio mesmo que muito dificilmente deixaremos de ser assim.

Há poucos que resistem a todos estes pequenos truques de ambição. Alguma dela, brutalmente desmedida e descompensada.

Há poucos, é certo, só que esses poucos poderão um dia fazer a diferença. Já fazem essa diferença.

Gostei de falar com o meu Manel. É dos poucos, que um dia poderá contribuir para essa mudança de atitude. É um menino bom e muito bem formado.

Só que, o preço que terá de pagar, é nunca chegar ao topo, porque outros o pisarão no caminho. Continuadamente.

Mesmo que assim seja, não me importo. Apenas porque o meu filho nunca deixará de ser um homem com os valores certos, por mais difíceis e pouco ou nada recompensadores material, social e profissionalmente.

Fiquei feliz com aquela conversa, apesar de a ter acabado sabendo que irão ‘roubar’ o meu filho no próximo mês e meio.

Houve alturas em que me fizeram o mesmo a mim e ao meu pai. O meu pai já estava numa fase em que nada o surpreendia. Quanto a mim fiquei chocado, fiquei profundamente triste durante anos. Já lá vão. Só que nunca me esquecerei de um dia ter acreditado num homem, que não cumpriu a sua promessa, porque preferiu poupar 40 contos por mês a manter a integridade que ainda hoje diz possuir.

Por vezes ainda me vou lembrando deste infeliz episódio. Tenho pena de nunca o ter esquecido. Mas também, deve ter sido, provavelmente, a melhor e maior lição que alguma vez a vida me proporcionou.

Agora, olho para trás e, apenas sorrio. Porque o tempo, tudo compõe e tudo arranja, assim haja paciência para o saber entender e aceitar.

Na política, 

tal como na vida, 

não, …. 

não vale tudo!

Até porque, 

a verdade, a franqueza e a sinceridade absoluta

acabam sempre por vencer todas as batalhas, todas as guerras e todos os tempos,

por mais conturbados que pareçam ser.

por vezes, 

tantas vezes, 

apenas é necessário,

saber esperar 

ou

como outros dizem,

"depois de tempo, tempo virá".



Comentários

  1. Napoleão disse qualquer do genero:
    "A multidão procura o líder não por sua causa, mas por sua influência, e o líder vai recebê-los por vaidade ou por necessidade"

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