Biblioteca de Instrução Popular.
Quando se têm opiniões próprias dentro de um grupo, por mais
pequeno que seja, resulta sempre numa tarefa difícil. Ao princípio não. Ao
princípio, com aquela força própria de todos os princípios, vale tudo. Tudo
está bem.
Mas, há medida que o tempo vai passando, as pequenas
divergências vão dando sinais de si. E, a pouco e pouco vão minando,
manipulando e empurrando alguns para entregar o corpo às balas. Escrever o que
ninguém é capaz de escrever (sempre é melhor e mais fácil, manterem-se relações
fictícias e ‘amistosas’). Tenho
muitos anos ‘disto’ para ficar, no mínimo, surpreendido.
Não sou
nenhum puritano e, como tal, não condeno estas formas obscenas de ser. Eu nunca
as teria, mas se outros as têm e delas abusam, quem sou eu para criticar o que
seja? Ainda por cima, quando somos cúmplices de todas estas pequenas vergonhas.
Uma das
melhores formas de avaliar uma liderança, é olhar atentamente para os seus
pares. Se são fracos, inseguros ou até mesmo medíocres, facilmente concluímos estar
em presença de um líder fraco. Porque aos fracos se impõe sempre perante os
mais fracos e nunca perante os mais fortes!
Por
contradição, quando olhamos para uma equipa forte, critica, inteligente e ‘desapegada’,
estamos em presença de uma liderança forte. Porque desassombrada. Sem receio de
contestar opiniões inteligentes diferentes da sua.
Por isso, um
dia, quando estava na BIP, constituímos o Conselho Consultivo da Direção, com
os melhores dos melhores da Vieira. Tivemos algumas reuniões. Deveríamos ser
uns trinta. Quando se está em presença de pessoas inteligentes, fraternas,
solidárias e focadas num objetivo comum, tudo corre bem, mesmo quando se
confrontam opiniões diversas. Como sempre foi o caso.
Assim foi
sempre na minha BIP. E fizemos uma ‘agenda Cultural’ para todo o ano de 2004.
Bem sei que é um facto esquecido, porque pertence ao passado. Demos o melhor de
nós. Trouxemos até à nossa casa, o melhor dos melhores. E, com todas as
diferentes opiniões, sobre isto ou sobre aquilo, conseguimos chegar sempre a um
entendimento pleno!
Muito me
orgulho eu, de ter tido o privilégio de presenciar na primeira fila todos esses
fabulosos tempos.
Que, logo a
seguir tombaram estrondosamente no chão. Fugiu toda a gente. Também o dinheiro
era pouco e as dívidas muitas.
Houve mesmo
quem estivesse a assobiar para o lado três anos seguidos.
Por lá fui
ficando a pagar contas, prestações e dividas, sem mais ninguém por perto, a não ser o Raúl. Quase 10 anos de isolamento e profunda solidão. Mas sempre a cumprir
tudo o que em nome da Biblioteca de Instrução Popular dissesse respeito.
Talvez
tenham sido os tempos mais difíceis e por isso mesmo os mais importantes de
toda a minha vida. E, arrisco-me também a dizer que do Raúl também.
Posso dizer
que o Rancho ‘Peixeiras da Vieira’ com os seus modestos cachets evitou que a
BIP fechasse temporariamente as suas portas.
Tudo isto
pertence ao passado. Mas a um passado que nunca poderá ser menosprezado.
A nossa
Biblioteca que se encontra num verdadeiro processo de renascimento, tem mais
livros que a Biblioteca Municipal da Marinha Grande. É a primeira biblioteca privada do país.
Sabiam?
Por aqui
passaram em pleno Estado Novo dezenas e dezenas de conferencistas de renome
regional e nacional, aquando da data do Aniversário. A BIP tem um Hino de
autoria do vieirense Adelino Gouveia Pedrosa que mais não é que a junção de
duas peças maravilhosas: a letra e a música.
A velha
Biblioteca da Vieira, foi a primeira Associação da Vieira. Uma terra de
analfabetos e incultos. No entanto, o que sensibilizou os seus poucos fundadores,
foi a alfabetização de um povo inteiro e oferecer-lhes livros.
Quantas terras
existem neste país com esta ‘estranha’ particularidade?
A BIP nasceu
no velho Café Liz, entre conversas com os estudantes universitários de Coimbra
e o proprietário do café, tal como vem descrito num texto de uma conferência do
1º de Dezembro do senhor Joaquim Tomé. Aquele que veio até à janela da primeira
sede gritar no dia da fundação da BIP: “Viva a Biblioteca de Instrução Popular!”.
Histórias
nossas. Dos Vieirenses. Terra pobre, onde se passou muita fome, mas onde a
cultura, a leitura, as conferências sempre constituíram uma das suas principais prioridades.
Por aqui estive 20 anos. Por aqui fui muito feliz, bastante infeliz e eternamente combativo. É também por isso, que já chega. Temos de saber sair no tempo certo. O próximo dia 1 de dezembro será o último.
É que tenho mesmo de voltar a casa. E, na BIP como no PS, fiz do meu caminho um exemplo que penso ter deixado aos meus putos. Modéstia à parte, até porque estas coisas de falsas modéstias sempre me meteram nojo!
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