Vieira de Leiria versus Marinha Grande, os últimos 30 anos!
A imagem que ilustra este texto de dois miúdos descalços que
levavam o almoço aos pais, ambos operários e habitantes da praia, durante
muitas e muitas décadas ilustra bem o que foi e continuou a ser a Vieira e o povo
que nela habitou nos primeiros 75 anos do sec. XX. Foto de pobreza, de pouca
instrução, de carências diversas e alguma fome (real e escondida).
Este tipo de ADN, foi tornando os Vieirenses, com o decurso
do tempo, pessoas essencialmente práticas, objetivas, que sabem o que
necessitam e o que querem. Por vezes, tantas vezes, a pobreza e a
multiplicidade de faltas essenciais, torna as pessoas descomplicadas. Porque
sempre souberam valorizar as durezas da vida e de todas as suas necessidades
elementares.
A Vieira nesta altura da foto era uma aldeiazinha com falta
de quase tudo. Centenas de vieirenses emigraram após o fim da segunda guerra.
Uns voltaram, outros não. Mas todos, onde quer que tivessem estado, deixaram as
novas gerações que por lá foram permanecendo. E, são milhares. Distribuídos
entre Paris, Luxemburgo, Bélgica, Suíça e Alemanha.
A Marinha Grande, não soube, em tempo algum da sua imensa e riquíssima
história, o que eram carências várias e fundamentais. Basta o exemplo da
chegada de Stephens, cuja visão industrial, cultural e social, ensinou as suas
centenas de operários em particular e marinhenses em geral, a saborear a
importância da cultura. No teatro, por exemplo. Isto no séc. XVIII.
A Marinha e os seus habitantes, transformaram-se muito com o
tempo. Isso ainda hoje se constata com relativa facilidade. Terra de
industriais. Agora com utilização de tecnologias de ponta que exporta mais de
90% da sua produção. É uma cidade exemplo, em termos essencialmente económicos.
Podemos dizer, que face ao enorme peso da indústria em diversas áreas
complementares e diferentes, é um exemplo de cluster exportador para o país
inteiro.
As pequenas histórias que vou contar devem ser lidas, como
exemplos vários de posturas opostas, quando se comparam as duas populações
durante os últimos 30 anos, relativamente:
ao mercado, às piscinas municipais, aos clubes desportivos, ao
pavilhão desportivo, ao centro das freguesias, às zonas industriais, às sedes
das Juntas, à reconstrução dos teatros, ao associativismo, ao desporto, à água
e saneamento, ao urbanismo, à gestão dos cemitérios, à tumg, preservação de
jardins públicos e à limpeza das ruas, passeios e calçadas.
Estas duas freguesias que distam apenas 13 Km uma da outra,
têm diferenças colossais no que ao grau de satisfação dos seus habitantes
respeita.
Vejamos, quando eu era criança ainda funcionava o mercado no
centro, frente à Igreja. Não lhe chamávamos mercado. Chamávamos praça e
dizia-se “vou à praça”. Isto durou séculos.
No final dos anos setenta, foi decidido alterar o local do
mercado. Foi para as eiras antigas do pinhal, na zona que se chama ‘serraria’ e
era, na altura uma zona bem periférica. Ou seja, dificultava imenso a todos os
compradores trazerem para casa o peso das suas compras. De centenas e centenas
de vendedores, houve apenas dois que se manifestaram veementemente contra a
alteração. Essas duas manifestações de desagrado duraram duas semanas.
O novo mercado dispunha, à época, de muito melhores
condições para compradores e vendedores. Por lá ainda se encontra. Com o
decorrer dos anos, conclui-se que necessitava de diversas obras de melhoramento
internas e externas. Foi elaborado um projeto de alterações, as obras foram
feitas, inauguradas e são as que temos. Um mercado bem dimensionado para todos
os que serve, moderno e extremamente eficaz. Conclusão, os vieirenses aceitaram
logo desde início as vantagens da alteração da zona de instalação do novo
mercado, ficaram agradados com as obras que a autarquia implementou e, a Vieira
dispõe de um mercado adequado há décadas!
A Marinha Grande anda a discutir este assunto há 45 anos. Já
foi construído um mercado moderno e central, com capacidade exterior para
centenas de estacionamentos e foi durante, pelo menos 20 anos, objeto de trocas
políticas infindáveis, que ainda permanecem. Funcionou durante uma década em
tendas (no século XXI), partiram-se todas as infraestruturas do mercado
construído (com grande financiamento dos vieirenses, por permutas de terreno na
zona mais nobre da praia da vieira entregue ao construtor do Atrium). E, os
marinhenses AINDA não têm um mercado digno desse nome.
A piscina municipal da Vieira (tanque com 25 metros – o suficiente
para a imensa população que serve) existe, numa zona confinante com as escolas
e com o pavilhão desportivo. As piscinas foram inauguradas em 2002, o Pavilhão
em finais dos anos 80 do séc. 20. Ambas as infraestruturas foram objeto de
diversas obras ao longo do tempo. Mas, existem e servem pelo menos, todos os
vieirenses!
Na Marinha Grande, há 40 anos que, ninguém chega a acordo
com ninguém, relativamente à zona, aos metros da nova piscina, a nada.
Conclusão: A Marinha Grande possui um tanque muito antigo que serve
essencialmente estudantes e atletas do Náutico da Marinha, mas, …. não tem a
piscina olímpica que necessita há anos, essencialmente por falta de
entendimento entre os políticos.
A luta travada pelos vieirenses para ter uma sede digna,
moderna e funcional para a Junta de Freguesia e Delegação da Câmara durou, pelo
menos um mandato. E foi, posso dizer, uma luta dura. Muito dura entre o
presidente João Barros e o presidente Jacinto Filipe. O presidente Órfão ganha
as eleições, faz-se o projeto, porque o terreno estava disponível há anos e
anos e, no primeiro mandato do presidente Paulo Vicente na JF é inaugurado o atual
edifício, com várias valências que permite diversas utilizações e oferece
conforto a todos os fregueses, deputados da Assembleia, executivo e
funcionários. Encontra-se localizado no centro da freguesia.
O que se passa na Marinha Grande relativamente a este tema?
Andam há 40 anos sem se conseguirem entender e, com isso, a nova sede da Junta
de Freguesia da Marinha AINDA não existe. Apesar de já ter tido apoio financeiro
por parte da Câmara Municipal.
Verifica-se, em conclusão, que os vieirenses de todas as
forças políticas privilegiam a utilidade e necessidade dos seus novos
equipamentos públicos, conseguindo sempre consensos bastante alargados, do que
os marinhenses, para quem, nada é suficiente. Nunca nada é suficiente e, em
consequência, os problemas arrastam-se décadas, essencialmente por falta de
cooperação entre as diversas forças políticas. É assim do género: “foste tu que
propuseste e apresentaste o projeto, então sou contra!”, o contrário também se
verifica, evidentemente. Ninguém na Marinha está isento de culpas. Veja-se o
exemplo do Centro intermodal. O PS propôs um projeto com múltiplas e úteis
valências. Para isso a presidente Cidália, como em quase tudo, não consultou,
como devia, toda a oposição. Resultado: “foste tu que fizeste, então sou contra”.
Desconhece-se se a cidade da Marinha Grande com centenas de passageiros diários
nos transportes públicos vai ter e onde, a sua estação.
Concluo esta já longa análise com o seguinte exemplo: na
Vieira, o movimento associativo não compete entre si. As associações da Vieira
apresentam todas elas relações de grande cumplicidade e cooperação. No que
respeita, por exemplo ao desporto, chegaram a existir dois clubes de futebol. O
IDV e o GDP. A terra não tinha dimensão para suportar dois clubes. Existiu uma
espécie de ‘fusão’. Atualmente, o IDV é o clube de toda a federação distrital
de futebol de Leiria com o maior património.
O IDV sozinho, em termos de modalidades desportivas, escolas, atletas federados,
campeões nacionais e europeus é maior que, todos os clubes e associações
desportiva da freguesia da Marinha Grande. A MG não passa de uma junção de
diversas aldeias, agora reunidas numa só cidade, mas o pensamento mesquinho dos
seus líderes associativos impede a que se faça, por exemplo, uma união entre
todos os clubes desportivos e com isso criar um único emblema, muito mais forte
e que coloque a Marinha Grande no mapa nacional, como é sua obrigação há
décadas.
Quanto à TUMG, na MG nunca os circuitos propostos são
perfeitos, nunca a zona das paragens e dos abrigos são perfeitos. As alterações
a todos os circuitos feitas em dez anos são impressionantes. Na Vieira, foi
proposta uma solução, alterada aqui e ali, após ouvir a população e é um
sucesso em termos de utilizadores. Na Marinha Grande, apesar de evidenciar
números de transportes que deveria orgulhar os seus utilizadores e líderes
municipais, discute-se se se deve ou não manter a ‘marca de excelência’ que é a
empresa municipal de transporte urbano.
Poderia prosseguir com a caracterização dos restantes temas
com que iniciei o meu texto. Não vale a pena. Não se pense que os vieirenses,
aceitam tudo, só por aceitar. Nada disso! Só que, como sabem o que é não ter
nada, preferem ter a promover eternas discussões estéreis e inúteis e ficar com
coisa nenhuma.
Isto devia-os fazer pensar. Mas, por experiência própria, sei
bem que não. Preferem dizer que ‘vai tudo para a Vieira’.
Mentirosa, lamentável e mesquinha forma de se ser e de se
estar numa das cidades mais modernas do país em termos industriais!
Como nascida e criada na Marinha Grande lamento que esta não tenha conseguido chegar a concelho e se mantenha numa triste freguesia ! Parabéns Vieira de Leiria por serem uma freguesia de luta e bem Crescida !!!!
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