A decadência do conceito de Transporte Urbano na Marinha.
Há muito tempo que fico apenas triste quando assisto a
opiniões avulsas proferidas por quem não sabe rigorosamente nada do assunto a que
se permite opiniar.
São os chamados ‘treinadores de bancada’ ou então ‘catedráticos
de esplanada e mesas de cafés’.
Dito isto, apenas pretendo passar um momento a que tive a paciência
de ouvir até ao fim na última Assembleia Municipal. Refiro-me á intervenção arrogante,
tida como definitiva pelo próprio e absolutamente errada do deputado Luís
Branco bem como a todas as pérolas opinativas vindas do Presidente da Câmara
nessa mesma Assembleia.
A ignorância, pelos vistos continua. E, cada vez mais atrevida!
Quando não sabemos rigorosamente nada do que estamos a falar
temos dois caminhos: ou nos calamos ou temos a preocupação de nos informarmos
previamente.
Nada disto aconteceu por parte do Engº Aurélio e muito menos
do Senhor Branco! Deve ser a soberba em todo o seu esplendor a funcionar.
Típica dos que julgam saber tudo. Um pouco de humildade neste executivo e nos
seus representantes na Assembleia Municipal só lhes faria bem, embora já todos tivéssemos
percebido que esse substantivo nunca aparecerá durante o mandato inteiro.
O significado de humildade é completamente desadequado do
comportamento do nosso, por ora, Presidente de Câmara:
“Humildade vem do latim humilitas, e é a virtude que consiste em conhecer as suas
próprias limitações e fraquezas e agir de acordo com essa consciência.
Refere-se à qualidade daqueles que não se tentam projetar sobre as outras
pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é considerada pela
maioria das pessoas como a virtude que dá o sentimento exato do nosso bom
senso ao nos avaliarmos em relação às outras
pessoas.”
Entre 2010 e 2013 fui
presidente do CA da nossa empresa de transportes. Foi para mim uma honra e será
sempre.
Entrei na empresa quando se
encontravam a funcionar 2 linhas de transporte urbano (uma circular – linha azul)
e outra vai e vem (linha verde).
Transportavam, nessa altura
anualmente cerca de 18.000 pessoas.
A TUMG apesar de ser uma
empresa, funcionava em total dependência da Câmara num espaço conhecido por todos
os marinhenses como ‘O matadouro’. Até a luz elétrica era fornecida pela
Câmara, bem como a água e demais despesas fixas.
Detinha todas as máquinas a
serviço da Câmara, recebendo por isso um aluguer mensal pela utilização de todas
elas 24 horas/dia.
Tinha 3 minibus que não
serviam o transporte urbano. Faziam apenas serviços ocasionais.
Possuía ainda no seu
património três autocarros com dezenas de anos, cada um e toneladas de sucatas
espalhadas desordenadamente pelo espaço dos estaleiros.
Tinha um administrador que
se deslocava à empresa duas vezes por semana, passando os dias a fazer as
contas do aluguer de máquinas e análise do transporte urbano que implementou e
que se revelava cada vez mais um erro colossal por manifesta falta de passageiros.
Havia outro administrador,
Senhor Francisco Roldão (de quem fiquei amigo para sempre) que se incumbia de
todo o transporte escolar, transporte ocasional e transporte contratado por
terceiros.
Foi assim que encontrei a
nossa empresa municipal!
Como toda a gente sabe,
quando se planeiam alterações profundas, algumas até bastante drásticas, há
sempre quem com isso se entusiasme e colabore, como foi o caso do Xico Roldão,
como quem faça uma resistência enorme a todas as mudanças propostas, como era
naturalmente o caso do outro administrador.
Eu era um puto de 40 anos
enquanto esse administrador já ia na casa dos 60. Tentamos, eu e o Xico alterar as coisas,
digamos, com alguma subtileza e suavidade.
Revelou ser esta uma
estratégia completamente errada.
Não colaborava em nada que
não concordasse e começou a atrapalhar. Nestas alturas deparamo-nos com duas
possibilidades: ou nos conformamos e tudo fica na mesma ou tomamos as rédeas aos
processos, assumindo com isso todos os riscos. Até de criar um ambiente
extremamente hostil. Eu estava ali para trabalhar. Não me tinham nomeado para
fazer ‘psicologia de grupo’ que deixasse toda a gente satisfeita e contentinha.
1º exportamos para Angola
todos os autocarros velhos, tendo ganho com isso muito dinheiro, porque todos eles se encontravam mais que amortizados;
2º Vendemos toneladas de
sucatas, limpando com isso o espaço dos estaleiros e auferindo umas dezenas de
milhares de euros de ‘lucro limpo’;
3º Aumentamos as linhas,
criando a linha vermelha, a amarela, reformulando completamente a linha azul e transformamos
a linha verde numa circular. Todas as linhas em funcionamento tinham paragens
comuns para se poder mudar de destino. O Pilado passou a ser servido, bem como
o Pero Neto e a Ordem (até aos limites da cidade da marinha);
4º Acordamos com a
Rodoviária do Tejo (que tinha o monopólio da exploração da estrada Marinha - Vieira)
um shuttle com 3 horários um de manhã para quem vinha trabalhar, outro depois
de almoço, para quem tinha assuntos a tratar na sede do Concelho e outro ainda
para quem regressasse a casa vindo do trabalho ou da escola;
5º Adquirimos um veículo de
55 lugares em segunda mão, com poucos kms a um preço bastante convidativo, com
a função de fazer o transporte escolar, alugueres ocasionais e visitas apoiadas
pelo município;
6º Adquirimos por 1/3 do
preço pedido pela EDP para para a aquisição de instalações próprias, centrais e
muito mais funcionais, permitindo com isso, deixar uma mensagem clara de que a
empresa de transportes se tinha ‘desvinculado’ totalmente da Câmara, criando
também a necessidade dos utilizadores de passes tivessem de se deslocar ao
centro tradicional da Marinha Grande. Desenhamos um projecto de arquitectura próprio para assegurar o funcionamento global da empresa com cada vez mais funcionalidades elogiado, por toda a gente, incluíndo a administração da Rodoviária do Tejo, com quem mantinhamos relações comerciais. Todo esse novo espaço se encontra ainda hoje totalmente inalterado;
7º Criamos o estacionamento
pago em alguns lugares centrais da freguesia da Marinha a preços bastante
reduzidos, sendo que teria sempre de haver nas proximidades lugares de
estacionamento gratuito;
8º Iniciamos todo o processo
de instalação de abrigos de passageiros;
9º A publicidade colada nos
autocarros de transporte urbano foi a partir de certa altura outra fonte de
receita criada;
10º Passamos todo o parque
de máquinas para os seus verdadeiros donos (Município da Marinha Grande)
acabando dessa forma, com um ‘roubo’ puro e duro que se verificava mensalmente
e à vista de todos.
Tudo isto foi realizado em 3
anos.
Acabamos o ano de 2012 com
cerca de 70.000 transportes. E uma diversificação de diversas origens nas receitas auferidas.
Os preços dos passes e dos
bilhetes até aos dias de hoje NÃO foram aumentados, o que implica directamente
o aumento da subvenção camarária para o transporte urbano, considerando o aumento de todos os custos operacionais, como o preço do combustível entre outros custos de manutenção das viaturas.
Com o aparecimento do COVID 19,
o encerramento das escolas e com a praticamente inexistência de transporte
urbano e ocasional, os resultados operacionais da TUMG sofreram um impacto
negativo enorme.
Restam-me acrescentar três
coisas:
A primeira, é que tenho de sublinhar
o excelente trabalho desenvolvido posteriormente pela Drª Fátima Malesso Cardoso. Só a título
de exemplo: passou dos 70.000 transportes ano para meio Milhão (em 2019).
Aumento exponencial das linhas existentes, compra de mais abrigos com
publicidade incluída, aumento da frota de transporte urbano, sendo que
actualmente a TUMG deixou de fazer sub-contratações. Os minibus são propriedade
da empresa e os motoristas são colaboradores próprios.
A segunda é que esta empresa
cresceu e continua a crescer com percentagens absolutamente espantosas.
A terceira é que esta “gerência
da Câmara” não gosta da TUMG, porque alegam eles, implica subvenções para o
funcionamento da sua actividade principal: o transporte urbano.
Existe uma má vontade deste executivo contra a sua empresa
municipal, uma espécie de preconceito, de enviesamento na análise e, claro, uma
promessa eleitoral assumida no programa que desejam cumprir.
A TUMG é uma ‘marca’ de excelência do Concelho, antes da
pandemia transportava cerca de 500.000 passageiros, evidenciando uma tendência
crescente.
Não darei qualquer importância ao grande empresário’ Luís
Branco, porque era dar espaço a opiniões banais, injustas e que revelam um
absoluto desconhecimento do assunto que tentou abordar. Agora, relativamente ao
Presidente Aurélio, pergunto: todas as actividades desenvolvidas pelo município
têm a necessária obrigação de dar lucro? A cultura tem de dar lucro? O desporto
tem de dar lucro? A acção social tem de dar lucro? A reparação de edifícios
municipais tem de dar lucro? A educação tem de dar lucro? A reparação de
ruturas de água tem de dar lucro? A reparação de estradas e construção de obras
públicas como por exemplo o mercado (que todos sabemos não se irá verificar)
tem obrigação de dar lucro?
O Senhor Presidente é um demagogo, direi mesmo, profissional. Sim,
porque esteve oito anos na Câmara da Marinha como Vereador e sabe, porque tem
obrigação de saber tudo isto e muito mais.
No entanto, atreve-se a dizer esta frase colossal, num
debate na AM acerca da TUMG:
“esta questão dos transportes urbanos no país todo está a
ser de uma dificuldade tremenda, porque o Estado no seu todo abstrai-se de
apoiar, incentivar os nossos municípios. Este ponto é um ponto de discussão
muitíssimo violento. A TUMG é um tema a discutir. É. Não é um processo simples.
Há uma discussão hoje já feita se vale a pena que nas franjas das localidades não haja transportes urbanos e sim ter um táxi pago pela Câmara. Vejam ao ponto a que está a discussão!”
Depois de tudo isto, fica a pergunta de La Palice: Caso os
transportes urbanos sejam incluídos na estrutura orgânica da Câmara, quanto vai
a CMMG poupar com essa inteligente decisão?
A preocupação sobre este tema deveria ser a gradual
aquisição de viaturas elétricas, com recurso a fundos comunitários, como já
aconteceu e acontece noutros municípios.
Um dos momentos
políticos maiores deste infeliz mandato será a decisão da inclusão da empresa
municipal na estrutura da Câmara.
Importa relembrar
todo o pessoal que os fundadores da TUMG foram os seguintes partidos políticos:
Partido Socialista e Coligação Democrática Unitária, tendo o transporte urbano
sido iniciado durante o último ano de mandato do Presidente Alberto Cascalho.
Achei curiosa a
referência por mais de duas vezes ao vereador da mobilidade e dos transportes.
O Tenente-Coronel Fragoso a quem foi prometida, a presidência desta empresa, por decorrência lógica dessas
tarefas em si delegadas. Até teve direito a uma visita guiada ás instalações da TUMG e respectiva apresentação a todos os colaboradores! E, ... mais tarde, com uma desculpa esfarrapada, porque falsa, a
presidente do CA da TUMG é a Exma senhora doutora Ana Alves Monteiro.
No passado ano
de 2019 eram estes os números da TUMG:
Nº de linhas:
15
Nº de paragens:
400
Nº de viaturas
próprias: 10
Km/Rede: 250
Freguesias servidas:
3 (a totalidade do Concelho da Marinha) - quantos municípios se poderão gabar de possuir um serviço de transporte urbano semelhante?
Km percorridos:
869.320
Total de efetivos:
11
Passageiros
transportados: 467.027
É com estes números que querem acabar? Diminuir? Ou apenas estragar a dinâmica de uma empresa modelo, face a todos os objetivos alcançados.
Para certos
iluminados defensores da iniciativa privada e total ausência de preocupação com
o interesse público, todo este processo é profundamente lamentável. Se todos os
marinhenses tivessem um audi igual ao do Presidente, de certo que não
utilizariam o Transporte Urbano. Teriam dinheiro para o sustentar e manter, mesmo com os preços exacerbados do combustível.
Acontece, que não têm!
E a TUMG faz meio milhão de transportes por ano.
Acabem com a empresa se forem capazes.
Depois não se queixem.
PS:
O segundo semestre acaba de se iniciar. Veremos, quantos meses durará aquele eterno e falso sorriso. É que, segundo consta, o que vem ai é de uma incompetência tal, que já nada irá surpreender nenhum marinhense!
+MpM, o bluff em estado puro.
Como diria um amigo
ResponderEliminar“a ignorância é muito atrevida” cuidemo-nos que ela anda por aí ás soltas.
É de uma insensibilidade o que pretendem fazer, não têm em conta,os mais idosos,os estudantes,etc. A do táxi da para rir.
ResponderEliminarRealmente "connosco é diferente" e estamos a ver que sim. TRISTEZA