Bloco Central.

 


A terceira República, durante 50 anos, separou por algumas vezes (bastantes, para dizer a verdade), de forma radical a ‘esquerda’ da ‘direita’.

Passados quase 50 anos, este tipo de ‘processos’, sabemos agora, seriam completamente inevitáveis. Todos esses anos, uns mais que outros, obviamente, permitiram ou foram permitindo todo o tipo de excessos e contradições que só “O tempo, Esse Grande Escultor” como o título do livro de Margarite Yourcenar, permita que entendamos quase tudo o que se passou logo depois do 25 de Abril, como “normal”. 

Na política, nos interesses, nas grandes e pequenas hipocrisias, o Tempo, com o tempo, acaba sempre por mostrar todas as nossas fragilidades, grandes e pequenas verdades que nos foram consumindo como povo. Um povo bastante peculiar, com alguns dos melhores do mundo nas mais diversas áreas, dono de um Sol, duma História, de um Mar e ainda de uma montanha de afectos, só próprios dos povos do Sul. Afectos físicos, como os abraços, os beijos e todas as enormes excentricidades apenas próprias de quem gosta de pessoas e de partilhar o tempo com pessoas. A rir, a beber, a comer, a dançar. Enfim, a viver, como só os ‘chulos’ do Sul sabem ser há séculos e séculos. Por acaso, e a começar pela Grécia, que inventou a democracia, apresentou ao mundo das melhores esculturas jamais esculpidas, inventou a filosofia, a história, a organização democrática ou, noutro caso interessante a Espanha, com toda a sua grandeza histórica, de povo das descobertas, que teve direito a partilhar metade do mundo com Portugal. Portugal, … essa espécie de nesga de terra do velho continente, que chegou a ser o país cientificamente mais avançado do mundo nas artes de conhecer o desconhecido, que em vez de segregar os povos dos países descobertos, se misturou sempre com toda a gente, dando novas raças ao mundo, numa diáspora simplesmente inigualável em qualquer momento da história e mesmo com todos os enormes erros, que têm necessariamente de ser comentados e julgados dentro do seu contexto histórico, foi grande entre os grandes. Em generosidade, construção, cumplicidade, ciência e cultura. Não posso, de forma alguma esquecer, nesta breve análise, a civilização Romana, com todos os seus contributos de mil anos de império com regras várias que perduram até hoje. Desde engenharia, organização política, filosófica, histórica e até no domínio do direito, que ainda vão fazendo parte da nossa cultura actual.

São estes quatro países do Sul da Europa, caracterizados pela burguesia parva e pouco culta do norte da Europa com muito pouco passado a apresentar nas ‘montras oficiais’ da União Europeia que ainda nos vão definindo atualmente como povos de ‘putas e vinho verde’ e que, por lógica consequência estamos  a mais nesta Europa do Euro e dos ricos indiferentes a todos os que os circundam nesta Europa desigual.

Curiosamente, logo nós, os do Sul que fundamos há séculos, o princípio do universalismo. Mas enfim, vivemos tempos em que tudo é permitido aos arrogantes, sem qualquer tipo de conhecimento e valores,  e ideais que vão cabendo todos numa simplória folha de excel.

No que a Portugal diz respeito, cumpre fazer menção, que todas as soluções governativas já foram experimentadas nesta breve democracia de quase 50 anos.

Correram, todas elas, umas vezes melhor, outras pior, como seria em qualquer caso e em qualquer tempo e em qualquer país, inevitável.

Apareceram verdadeiros ‘príncipes’ da República em todos os partidos. Repito, para ficar ainda mais claro: todos os partidos.

A nata da sociedade portuguesa, escreveu a 1ª Constituição que só não obteve unanimidade na votação final, atendendo ao pequeno preâmbulo onde vinha escrito …"… A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno."

O CDS, naturalmente votou contra. E, até nesse simples gesto, revelou num tempo muito difícil da nossa história recente, uma coerência, que agora, simplesmente, não existe. Agora, não passa infelizmente de uma estranha caricatura de si próprio. Uma garotada pseudo irreverente, sem qualquer cultura democrática.

Tudo isto vem a propósito das próximas eleições de domingo, dia 30. Neste momento estamos confinados ao sistema partidário onde vão coexistindo duas faces da mesma moeda: os partidos, ditos moderados, e os partidos ditos radicais.

Nunca, como hoje foi tão importante e oportuno falar de ‘esquerda’ e de ‘direita’. Essa distinção existe e cada vez mais se encontra acentuada, nas mais diversas formas de viver, sonhar e sentir a nossa sociedade.

Pode confiar-se numa espécie de ‘esquerda alternativa’, caviar, bastante culta e com formação superior de excelência, cujos dois mais brilhantes economistas que dela fazem parte, se estão a borrifar para a dívida pública, o défice, a importância do sector privado? Francisco Louçã, o Trotskista, Mariana Mortágua a não sei …quista, que quer tudo sem ter dinheiro para pagar nada?

Pode confiar-se no Partido Comunista mais ortodoxo da Europa? Que nunca admitiu os crimes de Lenine e Stalin? Que ainda hoje reconhece virtudes no sistema político da Coreia do Norte, da Venezuela, de Cuba? Que esquerda é esta? Que omite os 8 milhões de russos mortos na Sibéria? Que nunca leu o Gulag? Que esquerda é esta com que julgamos poder contar para construir um país em ruínas?

Que direita é esta que faz a saudação fascista? Sem uma ideia? Sem um projecto. Assente numa marionete dos verdadeiros saudosistas de Salazar?

Que direita é esta que recusa um Congresso marcado, porque os seus líderes têm medo de perder eleições internas?

Que direita é esta que mesmo sem conhecer os resultados eleitorais e assumindo-se como partido democrático e preocupado com o país, recusa liminarmente fazer qualquer entendimento com o Partido Socialista?

Confesso, que apenas sinto que o nosso país necessita de estabilidade política. Não para acordos parlamentares a dois anos. Nós necessitamos de líderes responsáveis, que tal como na Alemanha, por exemplo, souberam esperar bastantes meses para construir um acordo maioritário liderado pelo partido vencedor  SPD, os Verdes e os (valha-me Deus, Liberais) após 16 anos de governação de excelência dos Democratas Cristãos da CDU. Isto sim é uma democracia calma, moderna e absoluta!

Nós, feliz ou infelizmente temos a mesma necessidade. Seja qual for o primeiro ministro eleito no próximo domingo.

Temos de construir uma estabilidade governativa a dois mandatos. Inteiros.

Há reformas a mais a fazer, que só a ponderação da estabilidade nos poderá oferecer.

Confesso, nunca me imaginei a pedir um forte e duradouro bloco central. Mas é apenas isso que Portugal precisa agora!

Como um dia disse o Senador Gracchus ao jovem Júlio César: “a política é uma actividade essencialmente prática. Se para o bem de todos tivermos de negociar com piratas, negociamos”.

Obviamente não estou a chamar piratas aos Social Democratas ou aos Socialistas.

Talvez tenha sido um exemplo infeliz, mas bastante esclarecedor dos tempos que vivemos no nosso país.

Nunca gostei nem de ‘virgens ofendidas’ e muito menos de ‘puristas ideológicos’. Nem o PS nem o PSD teve alguma vez dentro das suas fileiras gente desse calibre. 

Apesar de todos os pesares que conhecemos em ambos os partidos!

Vale bem a pena pensar nisto, digo eu, com os nervos! 😉


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