‘livre e de bons costumes’.

 


Por mais, maiores e diferentes agremiações das quais faço parte (e são algumas), há uma delas que se destaca, porque, evidentemente, se sobrepõe a todas as outras.

No universalismo de todos os seus princípios, na sublime simbólica dos seus rituais, na fraternidade que deve envolver todos os seus membros, na igualdade de oportunidades que professa para todos, como um dos pilares maiores da sua existência. E, por fim, na solidariedade que deve unir todos esses homens vulgarmente chamados de livres pensadores ou, como os últimos padres da Vieira se lhes referiam abundantemente: a ‘pedreirada’. “Este funeral não necessita de padre. Deve ter sido servente de pedreiro”. Na Vieira. No século XXI. Há poucos anos. Ouviram-se estes magistrais pensamentos do Clero. Enfim, coisas de ALGUNS clérigos, felizmente!

A ignorância ou ‘ausência’ de conhecimento pode justificar muita coisa. Isso até pode ser verdade. Mas frases e comentários deste calibre, evidenciam apenas, ódios e recalcamentos de séculos e absoluta ignorância, diversos e enormes preconceitos, aliados a uma overdose de estupidez atroz. Mas pronto. É a minha terra. A minha terra no seu melhor!

Neste tempo, quase toda a gente é educada para o sucesso.

Talvez por isso, tem sido, na Vieira, um enorme motivo de orgulho para diversas famílias, cujos filhos e netos, daqui saíram para outras bandas do mundo. Todas elas melhores que as nossas. Não porque sejam melhores nem piores. Mas sim, porque são “num país estrangeiro”. “Está muito bem. Vai de férias duas vezes por ano, para as caraíbas e EUA”. “Falamos por Skype todos os dias”. “Ainda não conheço o meu neto, mas é tão lindo”.

E pronto, lá se foram dezenas e dezenas de vieirenses, uns com cursos superiores outros nem por isso. Mas o que interessa é que estão todos bem. E, para alguns deles, a Vieira em geral e o nosso país em particular, tirando o Cristiano Ronaldo, nada vale, porque nada é, porque também, nunca nada tinha sido.

O que me dá, acima de tudo, mais vontade de rir quando me lembro de todos estes amigos é que, caso cá estivessem, quase todos teriam ocupações coincidentes com as que têm e sempre tiveram lá fora.

No nosso país existem profissionais de excelência em quase todos os ramos.

No desporto, na arquitectura, na engenharia, na economia, na ciência, na investigação, na história, na medicina, na agricultura, na pesca, na escultura, na pintura, nas artes, na museologia, na música, em algumas infraestruturas, no clima, no turismo, … Enfim … mas “o meu filho está muito bem. Está na Suíça. Só vejo o meu neto uma vez por ano, mas é tão lindo. Vejo-o todos os dias no Skype”.

Tudo isto vem a propósito da espuma de todos os dias que passam bem na nossa frente, nestes tempos tão inusitados como contraditórios.

Ser livre e de bons costumes numa época destas, tem apenas uma justificação: a necessidade de partilhar valores. Valores antigos, de tão imutáveis que são e serão sempre. Na esperança que a humanidade nunca os perca de vista, porque quando não houver um Homem ‘livre e de bons costumes’, é porque tudo o que conta deixou, simplesmente, de existir.

Não gosto de pessoas sobranceiras. Aliás nunca gostei. Fosse em que circunstâncias fosse. A sobranceria, a soberba, a pseudo-superioridade de origem, de família, de raça, de grau de instrução ou até mesmo de profissão, sempre contribuíram para que tenha reagido com náusea a tudo isso.

Nesta altura, dou por mim a dizer aos meus filhos para se limitarem a ter cuidado com as escolhas que fazem. Porque nem todas são boas. Algumas até se poderão tornar em escolhas perigosas, mas como em tudo na nossa vida, temos sempre de deixar uma grande nesga de liberdade para aqueles cujo momento de fazerem as suas escolhas chegou. Um pai tem e deve respeitar isso. E, só pode desejar que a sorte e o bom senso os acompanhem sempre nestes próximos anos, onde todas ou quase todas as opções importantes e determinantes são, POR ELES feitas.

Já eu fartei-me de errar. Cansei-me de escolher mal. Até pessoas escolhi mal. Amigos, camaradas e companheiros essencialmente. Se sofri ou sofro com isso, pouco importa, porque a única coisa que verdadeiramente importa é o aprendizado e evolução que todos os nossos disparates nos proporcionam.

É por isso que gosto de pensar que me limito a ser ‘um homem livre e de bons costumes’, desde os meus 29 anos de idade. Apesar de todos os enormes erros que cometi depois disso.

A vida de todos nós é plena de ciclos. 

Para mim, acaba de chegar novamente um fim de ciclo. E, por por lógica decorrência, um novo recomeço. Inevitável recomeço.

É da vida e daqueles que nela atentam durante todos os dias que passam.

Acredito em poucas coisas. 

Em muito pouca gente também. 

E, contudo, acabo de fazer uma escolha. Importante. 

Novamente!

Esta é uma das riquezas maiores da vida: ter opinião, escolher, tomar partido e optar pelo caminho mais acertado, nem que para isso tenhamos de deixar de fazer parte de uma qualquer 'comunidade' que nos ofende, simplesmente porque não tem rigorosamente nada que ver connosco. E, por vezes simboliza o contrário de toda a nossa essência.

Recentemente, ofereceram-me uma carteira nova para pôr os meus cartões importantes. De crédito, nem um, mas ainda assim tenho bastantes: CC, Carta, 1 multibanco, Cartão da UC, Cartão do PS, do IDV, da BIP, do SAMS, sei lá?

Anda por lá 'gente' a mais. 

Tenho de fazer uma limpeza. Reduzo o peso, alivio a minha carteira e já agora, 'limpo' a minha consciência.

Quando (re)começamos um ciclo, normalmente, terminamos outro. Se assim não fosse, a vida, ela própria, não tinha piada nenhuma! 




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