Fábula do Chicharro e do Formiga.
“A vida, não é justa pois não? Eu, … nunca serei Rei. E tu,
nunca verás a luz de outro dia!”
É com esta frase monumental que aparece o Leão Scar, irmão
do Rei e tio do pequeno Simba, quando estava prestes a abocanhar um pequeno
rato cinzento, e é interrompido pelo irmão mais velho (o Rei) que o foi
repreender por não ter participado no ‘baptismo’ de Simba, o novo príncipe herdeiro.
Eu, e os meus filhos, temos repetido esta frase do Scar, inúmeras
vezes, quando a vida ou por isto ou por aquilo nos corre menos bem.
Como todos vimos este filme dezenas e dezenas de vezes,
existem partes que todos sabemos de cor. Eu então, …. que assisti a todos em triplicado,
conheço de cor o filme inteiro. Coisas de pai com três filhos rapazes!
Vem tudo isto a propósito, não da monarquia e muito menos da
república, mas sim de uns personagens comuns aos dois regimes: os ‘emplastros’
desta vida. Todos aqueles que adoram aparecer nas fotografias ao lado ou por
trás das figuras principais. Não pretendendo atingir o verdadeiro ‘emplastro’
do Porto, lembrei-me de um conjunto de figurinhas que perderam o palco e as
luzes recentemente. E, não se conformam com isso.
Em simultâneo, foram evidenciando ter perdido também os
valores que diziam proferir há décadas.
Todos estes tipos de comportamento são apenas próprios
daqueles que nunca souberam, em boa verdade, perder. Sair de cena com
dignidade. Só próprio de pessoas mal resolvidas, rancorosas, com mentes
retorcidas, vingativas, frustradas e, obviamente, más.
Tudo isto me fez recordar a velha fábula do peixinho
Chicharro e do ‘trabalhadorzinho’ Formiga.
Assim como vi trezentas e sessenta e três vezes o filme ‘O
Rei Leão’, também fui obrigado a aguentar com ‘O Nemo’.
Ainda hoje uma das músicas preferidas do meu João, é o ‘Beyond
the sea’ na versão de Bobby Daring, que é como termina o filme.
Bela música, não há dúvida. O João, tem sabido manter um bom
gosto enorme com as suas preferências musicais. Iguaizinhas ao paizinho dele.
E, tal como o pai, canta que se farta a tomar duche. A única diferença é que eu
não tinha playlists nem colunas sem fios. Enfim, modernices.
Com toda esta conversa, estava a esquecer-me da fábula do
peixinho Chicharro e da Formiguinha trabalhadora.
Eram muito amigos aqueles dois. Amigos do peito. Amigos de
sempre. Cúmplices em tantas aventuras quantas as que viveram no decurso das
suas vidas. Sempre um com o outro. Cresceram juntos.
Um dia o peixinho decide ser alguém fora da sua terrinha.
Foi galgando, galgando terreno, conhecendo outros peixes naquele aquário
aparentemente enorme e lá se foi relacionando com este e com aquele robalo,
corvinas, lulas, polvos de diversas espécies e até pequenos tubarões. Todos
esses peixes muito maiores que ele, coitado.
Quando se elegem líderes, existem sempre duas
possibilidades: ou se apontam líderes fortes, correndo o risco de no futuro não
se ter ‘mão neles’, ou se convencem os fraquinhos de que são grandes e estão
prontos para liderar. E, desta forma se ‘inventam’ chefes que se controlam
absolutamente.
Foi o caso.
Coitadito do Chicharrinho. Lá foi eleito, convencido que era
um peixe grande e bom.
Esse é o problema dos presunçosos. Tendem a pensar que são
grandes e decisivos, quando efectivamente estão a ser usados pelos tubarões,
robalos e corvinas. Como foi o caso.
As ‘mostras’ de peixes, que decorriam de quatro em quatro
anos, tiveram uma reviravolta imprevisível, e, aconteceram bastante mais cedo
do que se supunha. Desta forma, a indestrutível amizade entre o peixinho e o
formiguinha prevaleceu acima de qualquer outro interesse. O chicharrinho não
podia, de forma alguma sair do aquário naquela altura e, … contra todas as
espectativas dos tubarões, robalos e corvinas, indicou o formiguita para o
substituir.
Todos os peixes grandes sorriram com prazer. Tudo aquilo não
passava de uma forma inusitada e ridícula de ‘calar’ o formiguita. Devia saber
coisas a mais. E, mais valia calar o insecto.
Foi nessa altura que o robalo que sempre tratou dos ossos
dos animais vertebrados teve o desabafo de quem conhecia e tinha assistido
diversas vezes ao filme ‘O Rei Leão’ e lá disse para ninguém ouvir, como quem
fala sozinho:
“A vida, não é justa pois não?”
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