Aos 'lutadores' das ridículas contendas.

 



CARTA AOS PUROS

Rio de Janeiro , 1935

Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros 
E em cujos olhos queima um lento fogo frio 
Vós de nervos de nylon e de músculos duros 
Capazes de não rir durante anos a fio. 

Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos 
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios 
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios 
E desejais ser fuzilados sem o lenço. 

Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros 
E vos julgais os portadores da verdade 
Quando nada mais sois, à luz da realidade, 
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.


Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos 
Que tudo equacionais em termos de conflito 
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito 
E não sabeis vencer se não houver vencidos.
 

…/…

Vinícius de Moraes



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