A Guerra dos Tronos.
Há muito, muito tempo, num pequeno país entre florestas, pinhais e praias, existiam quatro reinos distintos, chefiados por quatro Reis. Noutras palavras, quatro tronos, quatro coroas e, evidentemente, quatro bandeiras e quatro hinos diferentes.
O reino cor de rosa, o reino vermelho, o reino cor de
laranja e, finalmente, o mais recente, o reino azul.
Durante muitos anos, meio século mais ou menos, não haviam
reinos. Nem um, nem dois, nem três nem quatro. Era uma espécie de república com
um só Presidente de imensas aldeias e duas ou três cidades. Um homem mau que não permitia que ninguém fosse ninguém. Isto
é: tudo caladinho, certinho, ordenadinho e ai de quem pusesse tudo isso em
causa.
Como sempre acontece, quando se verificam este tipo de
circunstâncias, o tempo que por vezes parece ser eterno, de tão repressivo e
injusto, tem sempre um fim. Por vezes demora, por vezes a maioria das pessoas
desespera, por impaciência ou falta de capacidade física e intelectual para aguentar tantos abusos e humilhações; mas haverá sempre uma madrugada ‘inteira
e limpa’ que tudo arrasta, tudo leva e tudo reconstrói.
Foi, exatamente esse o caso daquela pequena república. Essa madrugada de tão ansiada e justa, aconteceu.
E tudo ficou diferente.
Nessa altura, coexistiam muitos reinos, de muitas cores,
tantas quantas as do arco iris. Ele eram os amarelos, os vermelhos, os verdes, os
azuis, os brancos, os cor de rosa e tantas, mas tantas outras ‘tonalidades’.
Passado pouquíssimo tempo, uns reinos foram tomando outros
reinos vizinhos, sendo que os súbditos de cada reino tinham absoluta liberdade de
circulação entre os quatro reinos sobreviventes, permitindo-lhes, com isso,
escolher a quem queriam servir.
Durante quase todo esse tempo, naquele conjunto dos quatro tronos, coexistiam alternadamente no comando, os 'vermelhos' e os 'cor de rosa'.
Nunca nenhum súbdito de nenhum dos quatro reinos imaginou
que a luta de poderes pudesse alguma vez ser realizada por outras cores. Chegou
até, durante muitos anos, a assistir-se a alianças com o reino dos cor-de-laranja,
que quase sempre funcionou como o fiel da balança, para obter alguns restos de partilha
de poder em troco da ‘estabilidade’ desejada.
Muita coisa boa foi feita, muitos erros também foram
cometidos. E, imensas coisas ficaram por fazer. Mas tanto os vermelhos como os cor de rosa nunca por nunca pensaram
que outro reino lhes pudesse tirar o trono principal.
Quem mandava eram os súbditos de cada reino. Isso era certo.
Mas os súbditos, foram sempre presas facilmente controláveis e influenciáveis com
os prémios prometidos para a construção de pontes, criação de gado, alargamento
de feiras e até mesmo, de prémios para os concursos de lutas singulares com
espadas de aço enormes e pesadíssimas.
Toda a gente acreditava. Toda a gente sempre acreditou em
todos esses anúncios lidos em público pelos arautos de cada cor.
Apareceu um reino novo, com um rei novo, com promessas
gastas de velhas, mas nunca cumpridas.
Esse rei conquistou um pequeno castelo. E, no começo, tinha muito poucos súbditos. Mas, com aquela forma aparentemente generosa, inteligente e bastante assertiva de comunicar, foi atraindo cada vez mais famílias para dentro do castelo e até mesmo nas imediações. Construíram pequenas aldeias agrícolas. Coabitavam juntos e, eram felizes. Mas em número muito inferior aos maiores e mais antigos reinos, os cor de rosa e os vermelhos, evidentemente.
Esses reinos, que ao início se odiavam de morte, com o passar dos
anos, numas festas de São João, já faziam fogueiras juntos, montavam tascas e começaram
a saltar alegremente por cima das fogueiras. Houve até um ano, um ano e pouco, mais ou menos,
que conseguiram constituir um grupo folclórico com dançarinos das duas cores.
Tinha sido atingido o impensável nessa altura. Mas, como todos os impensáveis, foi tempo que durou pouco e lá se afastaram novamente. Só que depois dessa inesquecível experiência, os ódios figadais e antiquíssimos entre esses dois reinos e essas duas cores nunca mais foram os mesmos.
Praticamente até retiraram os guardas das fronteiras.
E, distraíram-se.
Acontece.
No amor, na amizade, na festa, no companheirismo, na alegria …. a distração
aparece sempre como um demónio invisível.
E assim foi.
Os azuis iam recebendo cada vez mais súbditos de todos os
reinos. Súbditos descontentes. Súbditos fartos de promessas de terras, casas e
baixas rendas. Vinham de todos os lados, só para ouvir o Rei dos azuis.
Esse Rei era um homem simpático. Até parecia que não fazia
parte da realeza. Parecia igual a toda a gente, porque sorria constantemente.
Abraçava todos, aparecia em todas as publicações do seu reino, nos editais
reais pregados nas árvores. Enfim, passou, rapidamente a ser conhecido e reconhecido
dentro dos quatro reinos.
Por soberba e excesso de confiança, os dois reinos até então maioritários há quase meio século, não deram qualquer importância ao Rei dos azuis.
Nessa altura o reino mais poderoso era o reino cor de rosa
com milhares e milhares de súbditos. Tinha uma Rainha a governar. Uma espécie
de Rainha parva, rodeada de bobos da corte e de um Ministro do Reino que em tudo
mandava. Até se dava ao luxo, por vezes, de dizer mal da própria Rainha que
dizia servir com lealdade.
Essa Rainha adorava aparecer, nos coches do reino, puxados
por seis cavalos brancos, acenando e rindo ao povo. Tinha diversos cocheiros. Assim
como tinha diversos coches, charretes e bestas de carga.
De tão vaidosa, convenceu-se que seria de todo impossível que
algum reino suplantasse o seu. Em grandeza e número de fiéis servidores.
Todos os habitantes do seu reino, que ela sempre considerou
seus vassalos e que tiveram a ousadia de discordar de Sua Alteza Sereníssima
foram dizimados, ostracizados, castigados, presos e calados para conveniência
da maioria de todos os bobos da sua corte.
Alguns fugiram do reino. Poucos é certo, mas fugiram. Pela
calada da noite, entravam sem ninguém ver e pregavam papeis com escritos a
dizer a verdade ao povo cor de rosa.
Tudo era arrancado pela manhã.
Os anos, poucos, foram passando. Papéis escritos e pregados.
Papéis escritos e arrancados. Até que chega uma altura em que os torneios conhecidos pelas ‘justas’ estavam marcados para 26 de setembro de 1021 d.C.
O Ministro do reino cor de rosa que tinha fugido chateado
com a Rainha, logo apareceu, porque não encontrou nenhum outro reino que o quisesse
aceitar. E, juntamente com um cavaleiro – um miúdo de barba negra – vassalo de
um Nobre com nome de um peixe vulgar, incumbiram-se de treinar a Rainha a
cavalgar com um escudo de aço e uma lança enorme.
Ela, parva como só ela, até queria dispensar os treinos
porque julgava, de tão vaidosa que era, que seria aclamada novamente rainha por
todo o povo, incluindo os súbditos dos outros reinos.
Chegaram as ‘justas’ e lá caiu ela do cavalo abaixo com
estrondo. Mesmo muito estrondo. Foi levada numa carroça de bois para tratamento e, até hoje ninguém, em boa verdade, ninguém sabe se a Rainha Tonta está viva ou se está morta, porque nunca mais deu o ar da
sua graça. Nem quando um velho decrépito dos cor de rosa renasceu das cinzas para fingir que mandava em qualquer coisa. Num ducado ou condado ou lá o que era. Coitado, logo na primeira vez que esteve a comandar os destinos do condado, foi uma alegria. Alegria de gozo, de comédia e de senilidade ou impreparação. Traiu os cor de rosa para obter aquela real responsabilidade. Mas também não foi só o velho calvo, porque outros o acompanharam.
O Ministro do reino fugiu.
O 1º vassalo, o puto das barbas aparadinhas foi ter com o Nobre mais próximo que tem nome de peixe vulgar, mas, ao que parece, também não teve muita sorte.
Os tempos já eram outros. E, o 'peixe vulgar' passou a ser completamente vulgar de tão insignificante naquela região onde julgava ter uma influência tão grande, que por vezes até dizia ter sido ele que colocou no mapa a sua terra. Coitado dele e ainda mais da terra. Ele, o homenzito com nome de peixe vulgar deve ter uns cinquenta e tal anos, já a terra que diz ter posto no mapa, deve ter uns setecentos anos ou mais. Enfim. Coisas de peixes vulgares!
E o Rei dos Azuis por lá foi ficando com a ‘ajuda’ de dois
vassalos do reino cor de rosa.
Nada de surpreendente.
É da vida!
Dos vencedores e de quem gosta sempre de os acompanhar,
sejam quais forem as circunstâncias. Desde que lhes sejam úteis.
Viva o Rei!
Viva o Rei!
Viva o Rei!
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