Conceito(s) de Lealdade.

 


Há chavões em todas as línguas do mundo. Nós por cá temo-los de sobra. Por exemplo, ‘lealdade’ é um substantivo que para muitos só tem um significado. Ser leal ou fiel ou até mesmo sincero e dedicado; sejam quais forem os propósitos e/ou circunstâncias objecto da nossa ‘dedicação absoluta’.

Pois bem, para mim nunca foi assim, principalmente quando se trata de pessoas e dos diversos comportamentos das mesmas.

Acredito que ninguém, em seu perfeito juízo deva ser leal quando o objecto da sua lealdade é tudo menos isso. Leal! E merecedor da nossa fidelidade canina.

Pode-se e deve-se ser leal a um partido político do qual fazemos parte. Mas leal a quê ou a quem? Leal aos seus princípios fundacionais. Leal ao seu ideário, ao seu nome e a todo o seu percurso desde o dia da fundação?

No caso do Partido Socialista do concelho da Marinha Grande, olhando para o seu passado bem recente e para as suas circunstâncias actuais, devemos ser leais a quem?

Devemos manifestar a nossa opinião em que fóruns?

Ou confundimos uma lealdade cega e por vezes acéfala ao partido independentemente de tudo o que vai produzindo interna e externamente?

Desde a primeira hora, que fui contra a candidatura da D. Cidália Ferreira.    E fi-lo de uma forma frontal e justificada. Isso faz de mim um socialista diferente dos outros? Já agora em quê?

Critiquei assertivamente algumas ‘posturas’ do presidente da Junta eleito pelo meu partido e com o meu voto. Fi-lo igualmente de uma forma frontal e tive ocasião de lhe dizer pessoalmente o que pensava.

Fui, com isso desleal ao ‘meu’ Partido Socialista’?

Durante dois anos inteiros no último mandato interno, o ex-presidente da Comissão política do PS da Marinha, alguma vez evidenciou qualquer tipo de abertura, para convidar os militantes ao debate interno?

Secretariado da Vieira, Secretariado da Marinha Grande e CPC da Marinha Grande, alguma vez mostraram um pingo de abertura para ouvir os outros?

Todos sabem as respostas a estas questões, fundamentais em qualquer partido político democrático.

Durante o mandato autárquico que ora terminou, o PS obteve o pior resultado de toda a sua longa história no nosso Concelho.

Era previsível que assim fosse considerando os últimos 4 anos de governação da Câmara, o clima de afrontamento interno à diferença e os últimos meses antes da apresentação formal da lista para a Câmara.

Pelos vistos, já ninguém se lembra destas pequenas tristezas internas.

Por vezes torna-se muito conveniente este tipo de esquecimentos. Permitem inventar culpas e culpados dentro do partido, mas de fora dos órgãos em funções.

Já ninguém se lembra, por exemplo do episódio Mário Soares/Eanes na reeleição do General. Já ninguém se lembra da falta de lealdade de António Costa ao líder democraticamente eleito António José Seguro. Nas europeias que ganhou, foi permitido a Costa classificar com o pronome indefinido “poucochinho”.

O futuro é sempre caprichoso e quando Costa e toda a sua entourage vai a votos, perdem por poucochinho. Só que aqui foi uma derrota, já a de Seguro tinha sido, como todos sabem uma vitória.

A língua portuguesa e a política caseira, prestam-se a tudo. Até mesmo a estas pequenas misérias!

Já todos se esqueceram da vitória de Sócrates a Manuel Alegre? Coisa pacífica e fácil, não é verdade? Argumentos e ofensas apenas dentro de gabinetes. Nunca na praça pública!!!

Já todos se esqueceram na Marinha de um mail corrosivo escrito pelo então chefe de gabinete e presidente da Comissão Política Concelhia do PS?

Há pessoas que têm uma memória muito cirúrgica de tão selectiva que é. Sempre houve pessoas assim.

São aquelas que atiram lealdades eternas na cara de alguns. São aquelas que conseguem ficar caladas em tempos de se exigir a qualquer pessoa de bem que manifeste a sua opinião. Em público como fazem os corajosos!

Este tipo de atitudes pretensa e presunçosamente leais, na prática, revelam um tipo de cobardia inaudita e inquietante!

Não sei porquê, esta dualidade de critérios, faz-me lembrar sempre o Intertexto de Bertolt Brecht:

 

INTERTEXTO

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

 

O Partido Socialista dispensa todos aqueles que se auto limitam aos ‘lugares próprios’ da manifestação de opiniões. De que servem esses lugares próprios quando nada se altera porque ninguém discute e tudo fica na mesma?

De que servem todos esses ‘foruns’ oficiais do partido se toda a gente pensa por uma ou duas cabeças previamente coroadas?

De que serve a opinião do simples militante de base ou até mesmo de qualquer simpatizante, se ninguém se preocupa em questioná-los.

De que servem as Reuniões Gerais de Militantes, quando ninguém as convoca?

De que serve tentar ser colaborante com a força vencedora nestas eleições locais, se as barganhas já estavam todas feitas e o memorando ou o draft do memorando aprovado foi esquartejado num total desrespeito pela ora presidente da Comissão Política Concelhia que, acompanhada, a seu pedido, pelo presidente da Junta da Vieira (eleito com uma esmagadora maioria absoluta) e um anterior vereador do PS com um longo percurso na Câmara como vice-presidente?

Curto Ribeiro e todos os que votaram num documento totalmente inconsequente, trocaram a honra e a dignidade por um lugar de presidente da Assembleia Municipal e dois meios tempos na vereação?

É isto lealdade?

Não, não é. A isto chama-se traição a toda a história do nosso partido na Marinha Grande.

A isto, chama-se falta de vergonha.

A isto chama-se tudo. Lealdade? Só se for a que por vezes dá jeito. Aquela lealdade que sempre foi cúmplice do estado a que chegou o PS no Concelho, depois de alguns leais servidores do partido terem composto as listas internas que compuseram. De uma forma acrítica? Não! De uma forma a que 4 ou 5 nunca deixassem de controlar tudo internamente.

A esses, leais servidores do PS (militantes ou simpatizantes) resta-me dizer: se foram leais a todas estas realidades, algumas com anos, pois que tenham a coragem e dignidade de assumirem e dizerem que afinal estavam errados. Até porque o erro só dignifica quem o comete e sabe humildemente assumir.

Na terça feira a seguir ao dia de eleições falei com o Álvaro Cardoso, com o António Fragoso e de seguida com o presidente eleito, Aurélio Ferreira.

Tenho orgulho nessas conversas.

Agora sinto vergonha em todas as realidades que se verificaram posteriormente.

Vergonha!


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