Osvaldo Castro e a certeza nos ‘insubstituíveis’.

 

 

Pelos meus 27 ou 28 anos, o meu Compadre Rui Alberto, apresentou-me ao Dr. Osvaldo no seu escritório. Disse que era economista e tinha regressado há bem pouco para a Vieira. Nessa altura ainda existia um jornal na Marinha Grande. ‘O Correio’, fundado pelo Dr. José Vareda, mais tarde dirigido pelo Dr. Osvaldo Castro e finalmente pelo Dr. Rui Rodrigues. Era um jornal sério, como todos deveriam ser. Publicava notícias concelhias e diversos artigos de opinião, sempre assinados por gente de ‘primeira água’. Nessa altura, havia um jornal no nosso Concelho.

Assim que olhou para mim, com aqueles olhos de curiosidade e cerimónia, vira-se para nós e só nos segreda: “chegou a hora da vossa geração. Vão pensando nisso doutores. Serão vós e outros como vós que se encontram agora na primeira linha”. Quanto ao Rui não sei, mas eu fiquei em silêncio, como sempre fico, quando estou em presença de alguém muito superior, quase um mito. Estava completamente deslumbrado na presença daquele Homem. Discreto, com aquela voz, com aqueles cigarros SG filtro, e toda aquela delicadeza, que apenas os grandes sabem ter.

Penso até, que nem a boca abri. Até porque o encontro foi breve. Nunca esqueci aquela figura, com uma tranquilidade e serenidade quase inebriantes.

Mais tarde, um ou dois anos mais tarde, e já depois da Junta de Freguesia da Vieira ter gestão PS nos últimos quatro anos, inicia-se aquela que foi uma das campanhas eleitorais mais fascinantes para todos os socialistas do Concelho da Marinha, tendo o seu resultado determinado a eleição de um novo executivo liderado por Álvaro Órfão, com a equipa de vereação composta por Armando Constâncio e por Tereza Coelho.

Soube, pouco mais tarde, que tendo estado no último jantar/comício do Partido Socialista na Vieira, ocorrido numa enorme sala com mais de 400 pessoas cheias de esperança na vitória do PS para a Câmara Municipal, o Dr. Osvaldo de Castro ficou convencido que seria possível ganhar essas memoráveis eleições! Uma vez confessou-me: “quando regressava a casa depois desse jantar, tive a certeza absoluta que essa vitória não nos escaparia”. E não escapou.

Com o tempo a passar por nós, o seu percurso político vai-se alterando e ganha, de novo, contornos nacionais.

Estou a falar de um Homem que foi diversas vezes deputado na Assembleia da República, onde tinha deixado enormes amizades em todas as bancadas. Volta a Assembleia como quem regressa a uma velha casa onde viveu anos da sua juventude.

Fez parte de dois governos presididos pelo Eng António Guterres e, mais tarde, assume por eleição entre os seus pares a presidência da 1ª Comissão. A mais prestigiante de todas elas. A Comissão de Ética, onde desempenhou o cargo com excelsa competência, tendo sido reeleito posteriormente. Detentor de uma capacidade de trabalho fora do comum, granjeou entre todos os seus pares, toda a respeitabilidade, que a sua competência, sagacidade e discrição ‘obrigava’.

Fez um dos melhores e mais sensíveis discursos numa cerimónia das comemoração do 25 de Abril, alguma fez proferido na casa da democracia.

Trouxe sempre consigo aquele passado de Coimbra e das lutas académicas, onde se destaca como número dois da Associação Académica. Foi sumariamente preso sem qualquer julgamento. São nestas alturas da vida que se mostram qualidades, que julgo indispensáveis a qualquer político: a coragem de quem tem opinião e luta por ela sem qualquer constrangimento e de quem arrisca tudo pela Liberdade.

O Dr. Osvaldo é tudo isto.

O Dr. Osvaldo Sarmento e Castro é um símbolo maior da luta pela Liberdade no nosso país. Parafraseando o Dr. Rui Rodrigues: Está na hora da Marinha Grande, cidade que adoptou como sua, reconhecer publicamente um dos seus mais ilustres cidadãos”.

Há bocado estava a tomar café na esplanada do cinema com o meu filho quando vejo sair do edifício um grupo de comunistas, entre os quais a minha querida amiga Estrela, com a candidata a presidente da Câmara e o candidato a presidente de Junta da Vieira, a quem saudei da seguinte forma: “Camaradas, faz hoje anos que o nosso Dr. Osvaldo faleceu. Olhem, faz-nos falta a todos. A vocês e, principalmente a nós”.

O maior respeito que podemos ter nestas ocasiões é ficarmos todos em silêncio e com a saudade nos olhos.

Foi exactamente isso que nos aconteceu a todos!

Até sempre Dr. Osvaldo. Até um dia! 

Ainda milito no Partido Socialista por enorme respeito a estas memórias e, claro, porque ainda vou mantendo a esperança, que regressem políticos como o senhor ao nosso partido.

Não será fácil e muito menos breve.

Um abraço.



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