Homenagens.
Quase sempre me esqueço, mas vou alegremente a caminhar para os 60. Faltam apenas três anos e 3 meses para, se lá chegar, obviamente, passar a ser um irresponsável e divertido sexagenário.
Apesar de ainda não ter ultrapassado essa fasquia, já não me
disponho (há muito, importa dizer), a fazer fretes vários. Sorrisinhos da
treta, sentar-me nas mesas que convém que esteja sentado, ir a reuniões e estar
com pessoas com quem não me apetece estar, ver espetáculos que me aborrecem,
fazer passeios e ver coisas que em nada me divertem nem conseguem
sensibilizar, ou sequer fazer-me duvidar de mim próprio. Enfim, todas essas 'tretas'.
Pequenas e grandes hipocrisias e breves cinismos de circunstância maior ou menor.
Não estou para isso.
Provavelmente, nunca devo ter estado. Feitios!
Estou-me cagando, como se diz, utilizando linguagem bastante
rude, mas que neste caso tão bem se adequa.
Bem sei que vivemos em sociedade e com esse facto temos todos
de conviver e suportar.
Tenho uma vida bastante descontraída, isso é verdade e sou um
gajo altamente privilegiado, porque não devo vassalagem a ninguém. Não tenho
superiores hierárquicos e vivo muito desafogadamente. Estas circunstâncias
permitem-me dizer e escrever o que penso, quando me apetece, e, se me apetecer.
Se bem que, mesmo quando tive hierarquias profissionais e
políticas, nunca deixei de expressar a minha opinião fosse sobre o que fosse.
Talvez por isso, a minha carreira profissional, tivesse tido o final abrupto que teve –
abrupto é a palavra!
Politicamente, nem vale a pena tecer considerações de qualquer espécie. Há muito que morri para esses 'mundos' onde a 'carneirada' costuma imperar.
.../...
O Partido Socialista da Marinha Grande, de vez em quando, nos
jantares que promove
por ocasião do 25 de Abril, homenageia alguns militantes. Há
muitos anos que assim é.
Nos últimos dois ou 3, até se deu ao luxo de homenagear as
mesmas pessoas mais do que uma vez. Num ano por ‘isto’, no ano seguinte ‘por
aquilo’.
Na vida pública, cada um faz as figuras que quer. Nada
contra, porque, obviamente, cada um é o que é.
De todas as centenas de freguesias existentes no país, a
minha freguesia foi a primeira e única a ter uma mulher Presidente de Junta
eleita nas primeiras eleições autárquicas de que há memória.
Os tempos eram tão diferentes dos atuais que em alguns
Partidos Políticos, houve necessidade de se criarem secções autónomas compostas
exclusivamente por mulheres.
O PS ainda tem essa estrutura, que dá pelo nome pomposo de
‘Mulheres Socialistas’. No século XXI, tal ‘agrupamento’ reveste-se, quanto a
mim, de um ridículo sem tamanho. Normalmente serve para reclamar lugares em
listas de deputados e muito pouco mais que isso.
Num contexto completamente diferente, um dia a Tereza Coelho
explicou-me que na vida (e acerca de homenagens) há um ‘tempo certo para tudo’.
Nas recordações públicas maiores ou menores, também, dizia a Tereza! Nunca
me esqueci disto.
Aquando das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, aparece
editado um pequeno opúsculo onde o nome da minha tia Helena Branca vem
referenciado, como antifascista ativa e participante em diversos comícios da
oposição democrática. Houve até um comício no Coimbrão, onde a ‘nota da PIDE’
dizia: “agora até há mulheres a discursar”.
Quando se passa a observar atentamente os atuais tempos
políticos, seja a nível nacional, internacional ou local, facilmente nos vamos
habituando a tentar deixar de pensar, apenas para preservação da nossa própria
higiene mental. É que pensar ainda dá algum trabalho e reveste-se sempre (pelo
menos assim deveria ser) de alguma coragem, principalmente quando o nosso
pensamento vai além das baias, se caracteriza pela dúvida, pela diferença, pela
critica, pela procura da virtude e da absoluta transparência.
Quando falo do facto da minha tia ter sido a primeira e única
mulher em Portugal a ser eleita Presidente duma Junta de Freguesia em 1976, não
é a pessoa da minha tia a quem me refiro, mas sim ao facto de a freguesia da
Vieira, se encontrar muito à frente do seu tempo, quando escolheu
democraticamente uma mulher para presidir a uma velha freguesia, após as
primeiras eleições livres.
A Associação Nacional de Freguesias, em 2016 lembrou-se desse
facto e homenageou-a de uma forma simples e bastante singela.
Apesar de se encontrar bastante debilitada, adorou que essa
memória tivesse sido recordada pela ANAFRE.
Ficou sensibilizada a minha tia, nessa altura. A escassos 4
meses de ter morrido.
Vem tudo isto a propósito, da importância de se saber estar
‘fora da caixa’, tal como ela sempre o procurou fazer, num tempo 'impróprio'
para todos os 'prudentes' desta vida. Não, a minha tia nesse aspeto, nunca foi
nem uma mulher prudente nem comedida! Como outras que por aí, pelos vistos,
ainda grassam na 'luz e na infinita glória do Senhor'. Deus as proteja. Delas
próprias, bem entendido.
A esmagadora maioria de todos nós encontra-se amarrada a
grilhetas diversas, que inibem a expressão do seu pensamento e da sua forma de
ver o mundo.
A minha tia nunca foi assim. Sempre foi uma mulher livre.
Arriscou a prisão diversas vezes, porque nunca teve uma
postura conivente e muda com o execrável regime que se vivia.
O Partido Socialista da Marinha Grande nunca se lembrou dela.
Nem no seu funeral apareceu uma rosa que fosse em nome do PSMG e muito menos da
Secção da Vieira do PS, talvez porque, numa, pontificava o dr. Nélson
Araújo e noutra o Joaquim Berranha (duas monumentais aquisições do dr. João
Paulo Pedrosa - que igualmente se esqueceu da mulher que assinou, alguns anos
antes, a sua proposta de adesão ao PS). Tudo isto é natural ... Para alguns, o
passado, algum passado, é ou foi transformado em letra morta. Torna-se por
vezes mais útil (re)homenagear algumas velhas e ainda influentes figuras em
proveito de futuros apoio$, do que lembrar alguns mortos sem apoios para
oferecer.
É da vida. Não me choca já. Aliás muito poucas atitudes me
vão chocando hoje em dia.
Sempre procurei dizer o que penso, acerca de temas que julgo
merecerem a minha atenção.
A franqueza sempre nos faz perder, pelo menos aos olhos da
turba e de quem decide, já agora!
A coragem de dizer o indizível não nos traz nunca
qualquer ganho.
Isto é da história. É dos livros. É da vida.
Quando se está agarrado seja aos interesses, às prebendas, às
nomeações, à breve vaidade hipócrita e ao provincianismo de todas as formas de
pensamento mesquinhas e 'sem mundo', está-se bem longe dos valores, dos
princípios e de todos os horizontes da esperança, porque os valores e os
princípios são coisas que deixaram há muito de existir e com isso, restam
condicionadas todas as escolhas, pensamentos e atitudes.
Vivem-se tempos de merda. É o que é!
E poucos dizem isto.
Talvez porque seja óbvio. E, por vezes, o óbvio não 'acrescenta' nada.
Quando olho para certas e muitas mulheres socialistas do
atual PSMG e me lembro da absoluta lealdade aos princípios e valores
socialistas da minha tia Helena Branca e da Fernanda Pinto, por exemplo, de
entre tantos e tantos outros sublimes exemplos e as comparo com as que têm existido,
fico triste.
Existem sempre alguns iluminado(a)s que inventam homenagens
para poder construir um palco e aparecer. Foi o caso de ontem. A Federação das
‘Mulheres Socialistas’ de Leiria lembrou-se de Cidália Ferreira, convidou
algumas eminências pardas à mistura com gente de bem e outras que se põem a
jeito e prantou a fotografia da Cidália Ferreira na parede da sede distrital do
Partido Socialista. Aquela que registou a pior derrota que o Partido Socialista
da Marinha Grande alcançou desde o 25 de Abril! Cidália Ferreira, aquela que
criou a pior lista de vereadores de que há memória, aquela que nem à cerimónia
de tomada de posse do legítimo vencedor das eleições quis assistir. Aquela que
inventou o pior e mais desconcertante candidato a Presidente da Assembleia
Municipal alguma vez visto.
Foi homenageada ontem pelas Mulheres Socialistas do distrito,
com honras de muitos discursos, palmas, presenças no sagrado dia 8 de março,
dia da mulher.
Enfim, esta enorme personagem foi homenageada na mesma parede
onde se encontram socialistas notáveis do distrito de Leiria e da cena
nacional, como Mário Soares, por exemplo.
Parece que alguns discursos, tudo valem e para se dizerem e
ouvirem como numa ópera bufa, tudo justificam !!! Até homenagens injustas,
ridículas e inclassificáveis, como foi o caso.
Parabéns pela original e ‘justa’ iniciativa!
Existem depois é figuras que tal como o piolho pela costura,
se metem sempre dentro de tudo.
Para aparecer.
Aparecer sempre!
Com sorrisos colgate, vestidos estampados, saltos altos,
unhas falsas e extensões capilares, como quem diz: “ouçam lá, eu estou aqui
vivinha da Silva. Esperem pelo meu regresso."
O dia da Mulher deveria, quanto a mim ter sido celebrado com
mais dignidade e respeito, já agora, pela verdade dos factos. Sim, porque esses
nunca mentem. Os factos, quero eu dizer.
A Vieira que o diga!
"Para ser uma grande mulher..!!!
É preciso que haja qualquer coisa de flor......
Que seja bela.....
Que seja sem ser.....
Que se reflita e desabroche no olhar dos homens.....
Que seja leve como um resto de nuvem, mas que seja uma nuvem.....
Que dê sempre a impressão de que se se fechar os olhos ao abri-los não mais
estará presente.....
Que surja, não venha; parta, não vá.....
Que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente....
E que em sua incalculável imperfeição constitua a coisa mais bela e mais
perfeita de toda a criação........" (como tu, Helena).
Vinícius
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