Jornalixo na Marinha Grande.
Por vezes penso que, aqui e ali, serei um pouco masoquista por
ainda insistir em acompanhar as reuniões de Câmara e da Assembleia Municipal.
E, a par disso, tenho um hábito antigo de passar os olhos pelo único jornal
semanal do concelho.
Todos estes atos, mais não são que manifestas opções de
‘sofrimento garantido’, porque as conclusões que sempre retiro destas minhas
atitudes de profundo mau gosto se revelam sempre as mesmas, resumidas nesta
frase: “mais valia estares quieto!”.
O nosso moderno e pujante concelho industrial, que evidencia
os maiores ordenados médios do distrito de Leiria, tem cerca de 40.000 pessoas,
um índice de exportação dos mais elevados do país, um nível de desenvolvimento
tecnológico absurdamente incomparável seja com que concelho for, regista ainda pleno emprego, condições turísticas naturais simplesmente invejáveis, mas, … de resto, …
caracteriza-se pela mediocridade absoluta e, totalmente injustificada.
Não me irei deter nem no executivo, nem no Parlamento
Municipal e muito menos no seu ridículo presidente Curto Ribeiro.
Em três anos e meio, já todos sabem quem tem sido quem neste
infeliz e irrepetível mandato autárquico.
Vamos falar apenas de propaganda.
Nada mais!
O meu pai costumava dizer-me que só devemos dar importância
àquilo e a quem a tem e, ignorar tudo o resto.
Tem imensa piada porque o meu filho António e a Helena partilham
essa mesma opinião. E 'cansam-me' com isso, de tanto o repetirem. Só que eu, sempre tive alguma dificuldade em ouvir a voz da razão
dos outros e faço sempre o que me apetece.
Então vejamos, quando havia elites políticas na Marinha
Grande, coexistiam dois semanários: o JMG, uma espécie de jornal de paróquia,
muito convencional, retrógrado e provinciano sendo que o outro evidenciava uma diferença imensa. Com manifesta simpatia editorial e opinativa afetas ao Partido Comunista e ao antigo MDP. Tratava-se do semanário ‘O Correio’.
Nessa altura havia opinião política séria, inteligente, culta
e informada no concelho da Marinha Grande. Tal como os seus diversos líderes
políticos o eram, igualmente. Do PC, do PS e do PSD, importa dizer.
O JMG, foi adquirido anos mais tarde, por dois ‘jovens turcos’, e a
modernização desejada estava, como esteve, ao alcance desta antiga e vetusta
publicação.
Dada a pequena dimensão do concelho, só um semanário poderia
sobreviver em termos financeiros.
O saudoso semanário ‘O Correio’ fechou as suas portas dando, com isso, espaço a um só jornal, que se foi mantendo na senda da modernização gráfica, editorial e com novos conteúdos constantemente.
Chegou a ser, há uns bons pares de anos atrás, o semanário de maior
tiragem do distrito.
Como todos sabem, o poder, hoje em dia, reside na informação
e em quem a pode divulgar, processar e, em consequência, manipular.
Recordo, como se fosse hoje, no primeiro mandato do
presidente Álvaro Pereira, as ‘ameaças’ editoriais escritas como forma de
angariação (forçada) de publicidade camarária, com pretendidos editais e contratação de
publicidade de vária ordem.
Um editorial houve que de tão agressivo, violento e injusto foi, que motivou um telefonema pessoal do ex-presidente João Barros Duarte ao
presidente em exercício, Álvaro Pereira, dizendo-lhe que: “Foi demais. Ele ultrapassou todos os
limites do razoável”.
“Ele” era o diretor dessa publicação, já em manifesta 'roda livre',
por se encontrar sozinho em palco. Pensava que tudo ou quase tudo lhe era permitido.
Teve dois azares, entretanto, coitado do rapaz.
O primeiro e o mais óbvio foi a alteração colossal e tremenda
nas ‘fontes de informação’, e a liberalização no acesso a formas de divulgação de opiniões e notícias
através da net. Isto é, as redes sociais em todo o seu esplendor.
Essa espécie de novo ‘chantagista’ profissional e vendedor de favores opinativos 'à lá carte', que foi no que se tornou, por estar em monopólio editorial, tramou-se. Sozinho está atualmente. Normalmente, é isso que acontece a todos os chicos espertos da vida.
A publicidade foi caindo a pique bem como a soma de todos os
seus leitores em edição de papel.
Começou por essa altura a mesquinhez provinciana com a ridícula e recorrente frase do “ajudem o jornal cá da terra” a sobreviver. Tipo 'Calimero disparatado'.
Entretanto e como o impacto das e nas redes sociais era enorme, resolvem ambos (o "jornalista" e o candidato) criar um blog de anónimos. Com pseudonotícias, também elas anónimas. Destruição de caracteres sempre sob a corajosa e soberba forma do anonimato, que tudo permite. Com comentários anónimos, onde todo o esgoto municipal corria a céu aberto. O 'Largo das Calhandrices', lembram-se?
O Aurélio vence finalmente as eleições e esse blog, fecha abruptamente, passados apenas poucos meses da posse deste triste governo municipal, porque o feitiço se tinha virado contra os dois feiticeiros que durante 8 anos promoveram o desgaste absoluto do Partido Socialista e a promoção desenfreada da ‘modernidade’, do anti partidarismo, e da divisa do "connosco tudo seria diferente" do Aurélio Ferreira e "sus muchachos", como única salvação municipal possível.
Hoje, passei os olhos pelo velho JMG.
Verifiquei que para além de 4 páginas e meia de publicidade
paga pelo município, esta edição se resumiu a um editorial completamente
ridículo, porque só me faz lembrar uma avestruz. Ou seja, o editorialista
recusa-se, $imple$mente porque lhe dá jeito, a ver o que está mesmo debaixo dos olhos de toda a gente e ainda finge
acreditar que o presidente da Câmara em funções tem bastantes probabilidades de
vencer as eleições de 2025.
Aparece nesta edição também, um artigo do Telmo Ferraz acerca da importância do cuidado e atenção a ter nos detalhes, fazendo uma referência clara ao nosso Norberto Barroca (parece que me tinha ouvido no passado domingo no SOM). Registo ainda uma entrevista à presidente da Coletividade do Casal Galego, um micro artigo
do homem mais inteligente do mundo (Henrique Neto) a dizer que deixou de ser
comunista em 1975 (um visionário, também nessa altura) e o
lançamento de um livro. Oito páginas, ainda com publicidade e editais pagos pela Câmara.
Foi a isto que chegou a imprensa do meu concelho!
Gostei da entrevista da Liliana Prior e do artigo do meu querido Telmo. E do facto, já agora, de haver um lançamento de um novo livro de uma autora local.
PS:
“Este trabalho de preservação de
memórias para memória futura, veio uma vez mais à minha memória a
insensibilidade com que, no mínimo, parece que está a deixar-se arruinar a Casa
onde viveu o nosso saudoso conterrâneo Norberto Barroca, memória da Cultura
Marinhense.
Não. Quem tem poder para fazer e
não consegue preservar a Cultura Marinhense, não ficará na Sua História.
Norberto Barroca pelo que fez em
vida pela Cultura Marinhense, merece ser conhecido pelas futuras gerações,
nesta terra de luta e trabalho”
Telmo Ferraz, JMG, 28 de novembro de 2024
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