Presidentes de Junta.
Tem estado um tempo de chuva terrível.
Houve apenas uma vez que me recorde de ter adorado um tempo assim. Foi uma monumental chuvada e trovoada tropical assim que tinha acabado
de chegar a São Tomé.
Inesquecíveis férias. Resolvi ir apenas pelo fascínio que o
livro do Miguel Sousa Tavares “Equador” me tinha proporcionado.
Na primeira noite, tive de abrir a porta, porque adoro
trovoadas, só para ficar a olhar respeitosamente para o mar onde caiam relâmpagos
enormes e a chuva saia do céu a uma velocidade e quantidade absolutamente
indescritíveis.
No outro dia de manhã cedo, … nem uma gota. Só um cheiro a
terra molhada e claro, sol por todos os lados!
Só quem esteve em África pode compreender esta realidade
aparentemente contraditória.
Vem tudo isto a propósito do último domingo à noite, quando dei por
mim no sótão desta velha casa, onde, mais uma vez, chovia.
Lá fui procurar quais as telhas “culpadas”. Até as encontrei.
Mas isso, agora pouco importa, porque dei uma revisão geral a todas as telhas e
eis que acho, umas “pastas” do PS de 1975, 76, 77 guardadas religiosamente pela
minha tia.
Uma espécie de museu da Secção do PS da Vieira nos seus anos
primeiros.
Um ‘achado’ numa noite de chuva.
Discursos da minha tia HB, apontamentos diversos de
Assembleias de Freguesia, discursos de campanha para a candidatura da Drª
Fernanda Pinto a Presidente da Câmara da Marinha Grande, listas de candidatos.
Para terem uma noção, na primeira lista, o Paulo Vicente,
tinha 21 anos e era o último candidato efetivo nas listas para a Junta da
Vieira.
O acervo é tão rico que o terei de entregar a quem lhe poderá
dar algum valor. Talvez a Junta de Freguesia. Ou a Secção do PS da Vieira.
Alguns documentos não deixam de ser “cómicos” por
inacreditáveis.
Eram outros tempos. Mas, que não se pense que foram fáceis e
negligentes esses tempos. Não foram!
Tudo o que foi mais difícil e duro, aparece agora com nomes ‘fofinhos’.
Mas esses tempos, como essas realidades de fofinhos nada tiveram!
Ninguém se lembra, porque simplesmente ninguém se quer
lembrar.
Quando o Mário Soares levou umas “cronhadas” do Fernando
Esperança que sempre negou essa verdade absoluta comprovada por fotografias
publicadas em jornais da época, estavam também diversas personalidades nas
varandas dos Paços do Concelho. Alguns até ‘passaram’ para o nosso lado.
O que me aborrece é que nunca ninguém disse ou escreveu isto.
Faz parte.
Se formos a ver com bom rigor, sempre fez parte. É uma
realidade de séculos! Sempre será!
O meu pai foi do PCP. Deixou de ser com a invasão de Praga.
Um homem com a quarta classe e com umas dezenas de livros lidos, entendeu que
era chegada a altura de ir embora. Outros houve com enorme instrução e formação
política e académica que parece que esperaram pelo inevitável para fingir que tinham aberto
os olhos!
Foi com a queda do muro.
Naquele dia na Marinha Grande, o muro ainda não tinha caído e
lá estavam alguns ilustres a observar a turba, talvez acicatada pelos próprios.
Lembro-me como se fosse hoje. O meu pai tinha uma Renault 4 L
azul. E, já tinha mais de sessenta anos e uma prótese na perna direita. Esteve a
centímetros do Mário Soares quando ele saía da fábrica, pôs-se à frente dele e
só disse, “não saia Senhor Dr.”
Qual não saia, qual quê? Nem ouviu o meu pai nem todos os que
o mesmo lhe disseram!
Depois, foi o que foi.
Encontrei um conjunto de documentos dos tempos de logo após o
25 de abril de 1974.
O PCP tinha sempre uns ‘controleiros’ que não eram da terra
que ‘controlavam’. Aqui na Vieira nesses tempos, era um Senhor que se chamava
Carlos Júlio.
Uma Assembleia de Freguesia houve que decorreu na sede do Industrial
Desportivo Vieirense, quando a minha tia era presidente da Junta. Infeliz e
inesquecível Assembleia, onde quiseram bater na minha tia. O meu pai, tentou
interceder e trazê-la para casa. A minha tia só respondeu ao irmão. “Não me
tiras daqui. Nem tu nem ninguém!”. Quando entra o Senhor Carlos Júlio e só diz:
“Éh pá, isto não!”
Pergunto, como quem não quer a coisa: “como seria se fosse
hoje?”
E ainda há quem diga que escrevo com “napalm”.
Que sou um
tipo bruto quando manifesto por escrito todas as minhas opiniões! Sou. Pois sou.
Como é que queriam que um puto com 8 anos que viveu estas
coisas na primeira pessoa escrevesse?
O meu pai foi eleito o primeiro vereador da Vieira por
unanimidade e aclamação para a Comissão Administrativa da Câmara Municipal da
Marinha Grande, num plenário que decorreu na Biblioteca de Instrução Popular.
Saiu, porque se fartou completamente das entradas de
vereadores sucessivos sem qualquer critério nem justiça.
Quando me deparo com todos os 'politicamente corretos' desta
vida e me lembro das vidas do meu avô António, do meu Pai e da minha tia,
querem que eu seja como?
Politicamente correto?
Nunca seria capaz de deixar esse exemplo aos meus putos.
Não é que o meu exemplo seja bom, mau ou melhor que os outros. É
ou tenta ser, pelo menos, autêntico.
Só merece estar no poder quem o despreza absolutamente.
O que, como todos sabem, não tem sido o caso!
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