Lavagens e ‘lavaduras’.
Na minha
vida só assisti a duas matanças. E, só assisti porque era puto e não tive outro
remédio.
Ainda hoje
tenho memória dos gritos do porco em enorme sofrimento.
Detestei.
No entanto, havia
alguns rituais só próprios das matanças que me fascinaram e dos quais também
nunca me esqueci.
O primeiro
era a hora a que a Festa Brava começava. Cinco da manhã. Pequeno almoço, que em
boa verdade, de um enorme banquete se tratava.
Depois era a
morte do triste do porco. Após a limpeza com recurso a um maçarico, a uma faca
e muita água, o animal ficava pronto para ser desmanchado.
Como eu era
um puto de 8 ou 9 anos, tive direito a uma longa aula de anatomia, porque
diziam os gajos, o corpo de um homem por dentro é igual ao corpo de um porco.
Por acaso,
ainda hoje penso que há homens muito mais porcos que os porcos propriamente
ditos, mas adiante.
As mulheres
iam lavar as tripas do porco a uma fonte. Fui com elas. Nestas coisas há sempre
gente meia sádica. Eu adorava comer bucho e dobrada. Elas sabiam. Por isso
perguntaram-me gostas de buchos não gostas? Olha um bucho é isto. E depois
cortavam-no com uma faca e via-se com uma clareza brutal o que se encontrava lá
dentro. Um nojo! Pior ainda com as tripas.
Estive mais
de dez anos sem conseguir comer bucho de porco e dobrada com feijão branco.
Quando vim
morar sozinho, pela primeira vez na minha vida, nunca tinha feito uma máquina
de roupa e, por isso, recorria a uma lavandaria muito recente aqui na Vieira.
Era da minha amiga Cristina. Acumulava o máximo de roupa e lá ia gastar
bastante dinheiro, porque lavava e secava muita coisa.
A Helena
ensinou-me a árdua e difícil tarefa de lavar roupa num eletrodoméstico caseiro.
Até consegue ser divertido. Só não gosto muito da parte do ‘estender’, do ‘dobrar’
e do ‘passar a ferro’.
Mas pronto,
lá fui seguindo com a minha vida onde cada vez sou mais independente.
Ainda tenho
de aprender muita coisa nestes domínios, mas tem sido bastante divertido. É
como aprender a cozinhar quando nem um ovo sabia estrelar.
As mulheres
que me educaram (e foram 4) e mais aquelas com quem vivi durante anos
estragaram-me completamente.
Hoje em dia
qualquer dos meus filhos faz todas estas tarefas com a maior das facilidades.
Na Vieira,
há 40 anos as mulheres ainda lavavam a roupa nas fontes, nos riachos, no rio.
Depois apareceram as máquinas e atualmente, não há outra forma de se proceder à
limpeza das roupas. Só se for com recurso às lojas de lavar, como a da
Cristina.
Vem tudo
isto a propósito da enorme lavagem que decorre durante três dias seguidos com a
Noite Branca na Marinha.
Aquilo é que
é lavar a sério.
É que os 4
palcos, o chão e até a roupa dos artistas e vendedores irão ter necessidade de
uma limpeza a seco.
Nunca, em
tempo algum, assisti na Marinha Grande, a tanto pó que tem de ser limpo. Como
nos móveis das nossas casas.
Como todos
sabem há pó de várias cores. Até existe o pó invisível, como nos nossos móveis,
prateleiras, etc.
Neste caso,
como se trata de uma noite branca, penso que o pó terá essa cor. Branquinho,
branquinho, como a Branca de Neve.
Têm alguma coisa a dizer sobre todos estes critérios de limpeza, todos vocês os 7 magníficos que aprovaram tudo isto, com 30.000 € atribuídos sem qualquer critério objetivo?
Nesta história não há inocentes!
Com o tempo, tudo vos irá cair em cima.
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