Abraços e Pessoas.
Hoje dei por mim a chorar ao telefone. Coisa que nunca me
tinha acontecido. Sinceramente. Devo estar a ficar velho ou assim.
Um sobrinho de uma amiga minha tem uma namorada ucraniana,
que por feliz coincidência está em Portugal nesta altura. Há semanas estiveram
no nosso país, em breve visita, a mãe e a irmã dela.
Regressaram antes da invasão.
O Miguel conseguiu trazer, via Polónia, a mãe e a irmã da
namorada. E, ainda uma prima com um filho pequenino. Ficaram, provavelmente
para sempre, o pai e o irmão.
A primeira questão que se coloca numa circunstância destas
é: onde vão ficar?
Parece que este problema, não era problema nenhum, porque
tanto a minha amiga como a irmã, disponibilizaram a casa onde viveram com os
pais e que não é habitada desde a sua morte.
Casa esplendida, com jardim, diversas divisões, muito bem
mobilada.
Hoje, o Miguel e a mãe foram ‘apresentar’ essa casa à Valéria.
A ‘miúda’ comovidíssima abraçou a ‘sogra’ num abraço bem apertadinho
a soluçar que nunca iria esquecer aquele gesto.
Quando me contavam esta cena, dei por mim comovido, não pela
cena em si mesma, não pela autenticidade desse abraço, mas apenas porque estes
gestos, tão simples, tão dignos e tão absolutamente solidários encerram uma enorme
preocupação com o bem-estar dos outros.
Comovi-me por isso. Porque são a completa antítese de tudo o
que se está a passar neste momento com o mundo. A total indiferença com os
outros, com os seus problemas, vicissitudes e desgraças várias.
Os líderes mundiais e a sua incrível e sempre presente
hipocrisia. O perigo em que todos vivemos continuadamente.
Os milhares de mortos de uma guerra injusta e completamente
indecente, como todas as guerras, no fundo são.
São estes os nossos tempos. Infelizes tempos. Apesar de
tanto progresso tecnológico, continua a dominar a corrupção, os interesses e o
cinismo na Geopolítica mundial.
Aquele acolhimento numa casa especial. Uma casa com memórias,
com passado, com intimidades familiares e cumplicidades várias representa o
oposto a tudo o que se assiste constantemente desde o início da invasão da
Ucrânia.
O meu filho mais velho, telefonou-me há pouco. Longamente
falamos. Uma, duas horas, já nem sei. A razão do telefonema: saber se eu tinha material
de primeiros socorros que ele estava a angariar para enviar para a Ucrânia. O
Manel até é um puto calmo, ponderado, sensato e justo. Isso é verdade, é um
menino justo. Sempre foi. Senti-o revoltado, irritado por diversas razões. A
primeira das quais era que se ofereceu como voluntário na Cáritas de Portimão e
a responsável lhe disse que não necessitavam de voluntários porque tinham gente
a mais.
Eu até achei normal essa atitude da parte da senhora. Nós,
os portugueses com todos os nossos defeitos, contradições e trapalhadas várias,
sempre fomos um povo solidário nestas e noutras causas aglutinadoras. E por
isso não me chocou que a Cáritas de Portimão tivesse voluntários a mais.
O Manel estava inconsolável. Apenas porque queria sentir-se
útil e não estava a saber como.
A revolta dele não ficou por aqui. Penso até que nunca o senti
assim. Entre outras coisas lá me foi dizendo que já tinha votado no Partido
Comunista. Como voto de protesto. Que nas últimas presidenciais votou no João Ferreira,
porque estava a votar na pessoa e não no partido. Achei piada. Palavra que achei
piada. Gosto de saber que os meus filhos são capazes de pensar pela própria
cabeça e fazem as suas opções em total liberdade. Pensei no meu velhote. Ter um
neto que votou duas vezes no Partido Comunista.
Estas coisas emocionam-me.
Nem sei bem porquê.
O Manel.
Logo o meu Manel, que sofre por não poder contribuir.
Porque tem um sentido de solidariedade, de fraternidade. Estava irritadíssimo
com a posição do PCP. Que simpatizava com o Jerónimo de Sousa e agora o repudia
de uma maneira que sinceramente não gostei. Lembrei-lhe que o Secretário Geral
do PCP já tinha 74 anos. E ele responde-me com as posições públicas dos
comunistas mais novos, como o João Oliveira, líder da bancada do Partido
Comunista.
Não posso dizer que tenha ficado feliz.
Fiquei foi a saber que me encontro rodeado, de pessoas que
se preocupam com as outras pessoas.
Isso comove-me.
Mais do que tudo o resto.
Maravilhoso!!! Fizeste me chorar, nos CV deveria ser obrigatorio pôr 2/3pessoas a comentarem o perfil do candidato. Homem serio, honesto, com caracter❤. Pena estes valores existirem para mto poucos! Apenas te rodeias dos mto bons, es um preveligiado. Orgulho, no Miguel, como aqueles avós estarão felizes vendo que todos os valores que transmitiram ficaram de geracao em geracao. Um abraço mano, tenho um orgulho imenso no grd ser humano que és.
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