Não agradeças pá.

 



De todas as vezes que atravesso uma passadeira e há um carro que para, acelero o passo e agradeço quase sempre o facto de ter parado para eu passar.

E, sempre que agradeço a atenção ao automobilista, assim chegado à outra margem da rua, fico sempre a pensar na estupidez do meu gesto. Já tentei emendar esta atitude, este detalhe, porque de coisa pouca e insignificante não passa, só que até hoje vou mantendo sempre o mesmo "tique".

Quando estou na situação inversa, isto é, ser eu a parar para alguém passar, e caso de jovens se tratem, a maioria a arrastarem-se na passadeira, enerva-me essa atitude de absoluta indiferença e até alguma provocação com que tão lentamente se deslocam, sabendo que alguém está à espera para seguir em frente; nada posso fazer nem sequer abrir o vidro e dizer uma ‘coisa’ qualquer!

Tudo, porque de direitos se tratam.

E um dos quesitos que estas coisas dos direitos trazem sempre consigo é que não se devem agradecer, porque direitos são. E, os direitos não se agradecem. Quase todos foram conquistados. Alguns com enorme esforço de várias gerações.

Os direitos não se agradecem. Ponto.

Vem tudo isto a propósito, de muito recentemente ter pedido ajuda a um autarca na resolução de um problema antigo de décadas e décadas que me afeta particularmente e a dezenas e dezenas de vieirenses em geral. Fiquei casualmente a saber que o meu pedido não tinha sido encarado como um direito. Tratava-se apenas de uma ‘chatice’ com que o estava 'sempre a aborrecer'.

Lembrei-me logo da minha relação com as passadeiras, tanto como utilizador como condutor e aquilo irritou-me o suficiente para resolver o problema sozinho. Em menos de 48 horas.

Por mais delicados que desejemos ser, os nossos direitos nunca deverão ser agradecidos como se de favor se tratassem.

Acontece é que ‘alguns’ pequenos poderes trazem sempre consigo esta forma de absoluta soberba na sua utilização!

Não gosto de dever favores a ninguém, por isso dispensei o autarca e resolvi o meu problema por outras vias “que não as do favor”, porque de favor não se tratavam.

Já agora, o meu ‘pedido de ajuda’ afetará dezenas de vieirenses, com montantes de investimento comunitário na ordem das centenas de milhares de euros, a fundo perdido.

É por estas e outras que lá vou repetindo aos meus filhos, que … “os direitos não se agradecem putos …”.

Porque de conquistas se tratam.

Todos eles.


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares