Líderes




Ultimamente não tenho falhado um jogo do meu ‘emblema’ de futebol favorito. O IDV.

No Sábado, não foi excepção. Fui ver ‘os nossos’ contra os betos do União de Leiria. Ganhamos 3-0. Todos os putos se portaram muito bem. De ambas as cores, diga-se. Até mesmo os pais, coisa rara.

Já não estava com o António há umas três semanas e, lá fomos os três. Um a jogar os outros dois a ver e a conversar.

Bela tarde. De sol. Muito sol.

Tive de aturar o António e todas as suas explicações ‘tecnológicas’ sobre futebol que aprendeu no IDV. A ‘visão’ de jogo, as táticas e estratégias e, principalmente, a ‘porradaria’ que o Sr. Dr. Rogério Reis lhe tinha ensinado, como uma das formas mais inteligentes de jogar à bola, tipo: “ou passa a bola ou passa o jogador, agora os dois ao mesmo tempo, … nunca!”. Logo ao António que sempre jogou a lateral direito. Um dos lugares mais duros e esgotantes do futebol de 11.

Lá me disse que tinha imensas saudades de jogar. Pelo jogo, pelos companheiros, pela mística do balneário e pelo Rogério evidentemente.

Vem toda esta tralha a propósito, de, no final ter conversado com um pai de outro jogador da mesma equipa, o Bruno Constâncio – candidato a presidente da Comissão Política Concelhia do PS da Marinha.

Fez-me bem essa conversa. Parece que me pacificou com o tema eleições internas no PS.

No domingo, li um texto singular do Carlos Carvalho acerca da sua ‘longa e profícua’ vida cívica e associativa versus recente derrota na candidatura a presidente da Junta de Freguesia da Marinha Grande!

E, finalmente, lembrei-me de uma das muitas conversas que tenho mantido com o António quando estamos juntos e sozinhos. Normalmente eu a lavar a louça ou a fazer o jantar e ele sentado num banco a fazer perguntas e a demonstrar imensa, e por isso, anormal paciência para ir ouvindo tudo o que lhe vou respondendo.

Falo mais do que ele. Por vezes até de uma forma extremamente desproporcionada.

Sei que, com sacrifício ou sem ele, lá me vai ouvindo. O que nunca lhe passaria pela cabeça é que eu, aparentemente um mau ‘ouvinte’, retenho TUDO o que me diz. E, muito mais que isso, fico quase sempre a pensar demoradamente em todas as suas opiniões. Por vezes durante dias.

Nestas ‘coisas’ de pais e filhos, diferentes formas de comunicar, de concordar e discordar, levam quase sempre a que ambas as partes pensem conhecer cabal e absolutamente o outro com quem desabafam, colocam questões difíceis e lá vão mostrando, por vezes, arrependimentos vários, de tantas e tantas opções tomadas na vida de todos os dias.

Em todos estes contextos só próprios de grandes intimidades, apenas prevalece uma coisa: ninguém conhece ninguém com a força e intensidade absolutas com que julga conhecer.

Há mais ou menos 2 meses morreu o Paulo Malaquias, meu Amigo de há mais de vinte anos. O Paulinho como sempre lhe chamei. Sobrinho da Teresa do Tótas, meu ‘irmão’ maçon. Sempre nos sentamos lado a lado, primeiro na coluna dos aprendizes e mais tarde, na coluna dos mestres. Fomos iniciados no mesmo ano. Quase no mesmo mês. Não nos conhecíamos. O Paulo era genro do Cabrita Franco, outro maçon. Primeiro presidente da Junta de Freguesia de Leiria depois do 25 de Abril. Democrata, republicano, homem bom. Foi com ele e com o Camilo Barata que me fui encontrar no restaurante ‘O Fausto’ num beco no centro de Leiria, para jantar e conversar longamente sobre tudo e mais alguma coisa. O Cabrita tinha sido colega da minha Mãe e adorou conhecer-me. Deram ambos o seu aval que me permitia passar pelo primeiro filtro antes de ser proposta a minha iniciação. Entrei na muito antiga loja maçónica “Gomes Freire de Andrade”, em Leiria.

Foi por lá que conheci o Paulo.

Morreu há dois meses. Fui ao seu funeral, estive com alguns ‘irmãos’ daquele tempo. Gente boa, culta, inteligente, solidária, que ainda por lá continua. Homens que me marcaram. Adorei estar com eles, apesar das circunstâncias.

Fizemos um ritual maçónico de ‘despedida’ ao Paulo e voltei para casa triste. Bastante triste até. Primeiro pela morte do Paulo Malaquias, depois pela saudade da presença de todos aqueles maçons, meus companheiros de anos e anos, que se juntaram na derradeira despedida daquele irmão. O Paulo, tal como eu, tinha apresentado o ‘atestado de quite’ há uns anos. Que é o mesmo que dizer, sair dos rituais e deixar de pertencer a uma loja maçónica com toda a sua actividade regular.

Num daqueles momentos, em que estou a lavar a louça e o António a fazer perguntas, lá lhe conto todo aquele misto de desagradáveis sensações com que voltei para casa depois de ter estado com aqueles velhos amigos. Falei-lhe da imensa saudade que sentia por tudo o que a maçonaria representava e tinha representado para mim, que fui iniciado aos 29 anos de idade, tinha o meu filho Manel nascido há poucos meses.

Há tanto tempo!

Lá me foi ouvindo, como quase sempre faz. No fim, pergunta-me apenas uma coisa: “se gostavas tanto da Maçonaria, porque saíste?” Ao que respondi, com a mais simples verdade: “por causa de um homem que por lá andava e anda. E, de Maçon, nada tem, nada teve e nada é!”

O miúdo ouviu, fez um silêncio breve e apenas me respondeu desta forma: “Como é que é possível teres abandonado uma Instituição como a maçonaria, que é feita de história, de rituais milenares e de pessoas, apenas porque UMA pessoa se desenquadrava de tudo isso?”.

A nada respondi, mas passei a ‘ouvir’ aquela frase constantemente depois dessa conversa durante muitos dias.

Evidentemente que o António estava completamente certo.

É por tudo isto ou principalmente por aquela conversa com o meu filho que irei recomeçar toda a minha actividade maçónica que interrompi precipitadamente e por uma razão totalmente irrazoável.

Não irei, de forma alguma e pelo mesmo motivo desfiliar-me do meu partido político de sempre, apenas por se encontrar maioritariamente muito mal frequentado. No passado recente e no muito próximo futuro.

Como em tudo na vida, o tempo, a sua velocidade e percurso serão determinantes para quem deseja renascer. De outra forma, com outros protagonistas, com outra autenticidade e com outros desígnios, que não fazer parte das feiras de medíocres e tolas vaidades abraçadas a imensos e mesquinhos interesses.

Sei do que falo.

Sempre detestei tanto os invejosos, como os vaidosos e os ressabiados. Bem sei que o mundo lhes tem pertencido. Até um dia, espero. Até um dia.

Se fui, desde a primeira hora contra o executivo municipal anterior e toda a sua ‘envolvência’ humana e aparentemente ‘acrítica’ e ‘aparelhista, serei totalmente contra a candidatura do camarada Bruno Constâncio.

Não tem a postura necessária nem a ponderação e muito menos o curriculum necessário a poder alcandorar uma pretensão em presidir aos destinos do partido no Concelho.

Desejava-se um líder de transicção. Inteligente, descomprometido e, essencialmente, independente. Que pensasse pela própria cabeça. Que tivesse sabido dizer não, quando dizer não se tinha imposto.

Será, como tenho a certeza, o próximo presidente da CPC.

Mais dois anos, o PS a marcar passo.

Quanto ao ataque de narcisismo e de lamentações diversas do camarada Carlos Carvalho, (que resume o PS local a um partido com dez militantes e três facções, - mas, que serviu amplamente para a sua candidatura a presidente de junta da Marinha -) não irei tecer qualquer comentário, apenas este: … “dar de si, antes de pensar em si” – lema dos rotários dos quais faz parte. Daqueles que ao fazerem a caridade, têm a suprema necessidade de a dar a conhecer. Ou seja, dão de si, mas antes pensaram em si.

Muito mais poderia dizer acerca de tudo isto.

Resta-me transcrever, no que ao Carlos Carvalho concerne, esta passagem bíblica:

Mateus 6:

“1 Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

2 Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

3 Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;”

 

Retirando o movimento rotário da MG e exposição gratuita da sua solidariedade no Jornal da Marinha Grande, o mesmo se aplica aos extensos curriculuns cívicos e associativos como se os mesmos tivessem necessariamente de implicar prebendas ou ‘recompensas’ públicas em lugares na hierarquia da sociedade civíl em cargos de política local.

Triste reflexão aquela do meu camarada Carlos Carvalho. E, ainda muito mais tristes as de alguns dos cínicos que "amavelmente" a foram comentando.

Já o Bruno Constâncio, próximo presidente da CPC, por demais demonstrou com quem se vai coligar na elaboração das suas listas.

Com todas as Cristinas Simões desta vida.

É sempre tramado ter razão antes do tempo.

Mas, relativamente a um como a outro, resumo este texto, dizendo, que quase tudo o que sei, ficou por dizer. Tanto acerca de um como do outro protagonista desta reflexão.

Não irei desfiliar-me do meu partido de sempre. Era o que mais faltava. Não o fiz no tempo dos Nélsons Araújos que estes dois personagens apoiaram até ao fim, não seria agora que o faria, ainda por cima por personagens de muito menor amplitude do que o desaparecido Nélson!

Irei manter o meu silêncio absoluto, até porque tenho a imensa sorte de ter muito mais a fazer diariamente na minha vida que dar importância a estas questões inconsequentes, aborrecidas e disparatadas.

A única coisa que pretendo para o meu partido é que comece ou recomece a ser frequentado por pessoas livres, inteligentes, solidárias e, já agora, … 'de bons costumes'. Tarefa difícil bem sei. Mas, com o tempo, razoavelmente possível.

Bom Natal a todos e um excelente 22.   


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