Cuspir no prato onde se comeu.
Esta
expressão, recorrente no Partido Socialista da Marinha Grande, oriunda de
muitos ‘pagadores de promessas’ vulgo agências de emprego em cargos públicos,
que colocam boys à medida do seu merecimento ou das conveniências circunstanciais
de quem os nomeia, passam a achar, de um dia para o outro, que ficaram a ser
‘donos dessas pessoas’, face a tão grande ‘favorecimento’, ie simples pedido
ou ‘cunha’.
Em
trinta anos de militância no Partido Socialista, nunca quis pertencer a
qualquer lista que fosse, fora das fronteiras da minha freguesia. Por isso
nunca fui candidato a Assembleia Municipal, nem um dos últimos candidatos
a vereadores das listas para a Câmara. Por essa altura, andava empenhadíssimo e
bastante entusiasmado, com tudo o que eu e um grupo muito restrito de Amigos
fazíamos e sonhávamos deixar feito na Biblioteca de Instrução Popular. Bons
tempos esses, sem dúvida. Talvez mesmo os melhores tempos que já vivi.
Por
essa altura e a convite da Câmara da Marinha foi-me proposto o lugar de Chefe
de Divisão de contabilidade e finanças, sem que eu tivesse pedido rigorosamente
nada, fosse a quem fosse. Era ‘caixa’ na Novarede de Porto de Mós, com direito
a varrer o chão, todas as segundas feiras de manhã na zona das ATM’s.
Ganhava
relativamente pouco no Banco, mas enfim, estava no início de uma carreira.
Entrava pelas 8.00 h e saía pelas 21.00 h.
Recusei
a generosa proposta da Câmara Municipal. E, até hoje, nunca me arrependi.
Passaram
alguns anos, fui sendo promovido constantemente, por mérito próprio como é
óbvio e cheguei a um ponto em que a direção de uma sucursal estava reservada
para mim. Mas no sector privado, tal como no público, existem por vezes ‘forças
estranhas’ que fazem e desfazem carreiras sem a maior das cerimónias.
Foi
aí que entendi que o BCP, não tinha mais nada a oferecer-me.
Desprezava
o meu diretor, não apenas pela sua cobardia, mas também, pelo seu cinismo pessoal e profissional.
Nunca
falei disto. Nunca tive necessidade de o fazer!
Tinha acabado de fazer uma operação bancária para a qual não tinha poderes delegados suficientes. O resultado prático foi o Banco ter sido altamente beneficiado e o cliente satisfeito, numa operação de risco praticamente nulo. Só que o triste do meu director não tinha dado a anuência necessária, porque não concordava com a operação. É, por essas e por outras, que se diz que 'os bancários sobem por omissão'.
Depois disto, a opção Banco, para mim era totalmente inaceitável. Só lhes queria provar que tinha razão.
E provei.
Na primeira e na segunda instância.
Nessa
altura, disputavam-se uma das eleições autárquicas na Vieira mais difíceis de todas as que me
recordo.
Na Vieira, ganhamos por uma mão cheia de votos. Enfrentamos muitas dificuldades. Desde candidatos não eleitos, que se reclamavam ao direito de se sentarem na Assembleia de Freguesia. Comandados, ironicamente, (a vida está sempre cheia destas ironias) pelo actual. Coordenador da Secção do PS da Vieira, que até ajudou a colocar como arguidos a mim, enquanto Presidente da Assembleia de Freguesia cessante (que deu posse a todos os democraticamente eleitos) e ao Sr. Joaquim Vidal, como Presidente da Junta eleito, tendo sido ratificado todo o executivo por ele proposto e aceite pela maioria dos membros da Assembleia de Freguesia. Até uma providência cautelar para impedir o regular funcionamento da Junta fizeram. O grupo recém-criado pelo ex-vereador Artur Oliveira e todos os marinhenses e vieirenses nele incluídos. De entre os quais o actual, repito, coordenador da Secção do PS da Vieira, proposto mais tarde para novo militante do PS pelo dr. João Paulo Pedrosa, com o argumento de que pertencia a uma família muito numerosa e, com isso, traria muitos militantes novos para a Secção!
Já
entraram cerca de dezoito.
O
‘sindicato de voto’ no seu máximo esplendor!
Vem
tudo isto a propósito das minhas opiniões livres e por vezes incómodas em atacar o Partido que me 'sustentou' durante 3 anos, quando me nomearam Presidente da TUMG.
Não
vou, claramente, falar de tudo o que foi feito durante o período em que por lá
passei. Em como encontrei a empresa, já com doze anos e os mesmos ordenados
para a Administração. Não me irei deter um segundo acerca desta e daquela
matéria porque tenho a certeza absoluta, de que só não vê, quem não quer ver o
que por lá fui capaz de deixar feito. Eu e todos os elementos que compunham
aquela empresa.
Pedi trabalho. Arranjaram-me trabalho. Respondi com muito trabalho.
Ninguém ficou a
dever rigorosamente nada a ninguém. Por isso ainda me irritam todos aqueles
militantezinhos mesquinhos e cínicos, que se sentem no direito de me chamar boy
e ainda de ingrato, porque “cuspo no prato onde me deram de comer”.
Enquanto funcionário da TUMG, nunca por nunca ser, passei os meus dias com os pés em cima de uma qualquer secretária, enquanto deixava o tempo passar a ler 'A Bola' ou 'O Record', sendo todo o resto dos dias preenchidos na intriga, nos favores e nos joguinhos de cadeiras de quem ocupa o quê, como certos destacados militantes do PS local. Que para além da sua completa e imensa inutilidade pública, nunca respeitaram ninguém. Nem nunca respeitarão quem se lhes atravessar no caminho. - Verdadeiros e humildes democratas - alguns que por lá pululam.
É
a cultura do favor. Em que vale tudo, até ofender ou melhor, pretender ofender, que mais não são que a voz do dono, como a editora dos
Beatles “His Masters Voice” – com o cãozinho com a orelhinha encostada ao
gramofone -.
Na
minha vida todas as opções que escolhi fazer tiveram as suas consequências boas e más naturalmente. Mas ao menos, e de há muitos anos para cá, mais não tenho
feito que pagar todos os erros de más opções tomadas. Todos, um por um e sozinho, diga-se!
Como na história do banco, ou mesmo no convite da Câmara para ser Chefe da Divisão Financeira, como nos Rotários da Marinha Grande (onde poderia incluir uma historieta muito reveladora acerca do caracter (ou falta dele) do Senhor Engº Aurélio Ferreira), como em tantos outros ‘locais’ para os quais fui sendo convidado. Alguns houve, onde nem sequer quis entrar, outros saí pelo meu pé, porque não me revia, nas vaidades de palco, e na presunçosa ética e moral distinta e superior dos seus membros, como foi o caso do processo de criação, localização, financiamento e ‘transparência’ absoluta da obra escultórica ‘oferecida’ pelo seu autor. Simplesmente desapareci. Com bastante orgulho, diga-se!
Toda esta resenha do meu percurso tem como único propósito transmitir que nunca tive medo de ser desalinhado. Voltar costas. Sentir-me dono de mim mesmo. E, nunca, por nunca mesmo, ser ovelha de qualquer dono. Simplesmente porque nunca soube o que é ter um ou mais donos.
Oxalá todos pudessem dizer o mesmo de si próprios. Dentro
das atuais e lamentáveis circunstâncias do PS local, muito poucos o poderão
dizer, porque mesmo aqueles que pensam estar por conta própria, vendem-se
logo à primeira oferta de cargos ou prebendas.
Para continuar tudo pior ou na mesma, são essas as opções
que têm estado nos últimos anos em cima da mesa!
E, no fim, neste PS disforme, complacente com os medíocres
que o vão minando e sangrando por dentro, restarão umas dezenas de pessoas. Essas
sim, donas de si próprias, da sua inteligência, do seu desapego e de todas as suas consciências.
Disparas em todos os sentidos . Escreves com o coração e alma. Dizes o que tens a dizer sem medos. Usas o que está consagrado na democracia, a liberdade. RA a ser RA. Quero ver é se este texto, também, vai ser plasmado no facebook. 😏
ResponderEliminarHá quem passe pela vida sem deixar rasto. Há quem exercite o salto de trampolim e saia num gesto perfeito de duplo twist carpado e pareça até que, para eles, os caminhos da vida eram despidos de pedras e forrados a alcatifa. E há, os que sendo exímios no trampolim, não se ficaram por aí e, de salto em salto, chegaram ao topo da arte circense, merecedores dos aplausos de uma numerosa plateia, amorfa, mas generosa nas aclamações. O problema é que, para melhor projectarem as suas piruetas, não hesitavam em usar os pés para pisar os ombros de outros, elevando-se a si mesmos, mas calcando para baixo os que lhe facilitavam o impulso. O RA é, como eu, uma personalidade que não sabe o que são reservas mentais. É uma pessoa que reage com o coração e implora à cabeça que não se intervenha, porque quando é o coração a falar, a escrita e o discurso sai, fluido, sem filtros. Eu sei, por experiência própria, que esta forma de ser e estar, tem custos, mas também sei que na contabilidade do "deve" e do "haver", qualquer que seja o resultado final, saímos de alma lavada, porque a frontalidade e a coerência não teem preço.
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