Memórias da Foz do Liz, sec. XIX e XX





                                                            O que sobrou afinal de tudo isto? 
                                                                           Sobramos nós! 
                                                Resta-nos manter todas estas memórias intactas.
                                  Sob pena de desaparecerem ou pelo esquecimento ou, obviamente, pela vergonha.
                 Nunca poderemos permitir que isso aconteça, porque todas estas memórias apenas nos engrandecem.
                                                               Bem sei, que muitos não partilham desta opinião. 
                                                            São apenas tristes e complexados nada mais que isso.
 Os negacionistas, cujo passado os vai perturbando, pelos preconceitos da história familiar e pela pobreza que a caracterizou.    Os filhos, netos e bisnetos destas famílias, em lugar de se sentirem honrados com todo o percurso familiar de pobreza e privações, fecham os olhos a tudo, essencialmente, porque trazem consigo toda uma memória que os envergonha, quando os  deveria, acima de tudo, envaidecer e honrar. 
                                                   Mas enfim, nestas e noutras coisas, cada um é o que é! 
                                                    Com memória ou sem ela, conforme as conveniências. 
                                                                                É o que temos! 




"Num tempo desinteressante em que quase tudo se apaga ou esquece, se cultiva, essencialmente, o efémero e é valorizado apenas o imediato, se negligência o distante, a memória e se vão negando e branqueando circunstâncias, valores e algumas vontades, a Biblioteca de Instrução Popular arrisca a edição dos sons, da cor, dos trajes e das histórias que fizeram a velha Praia do Liz.

Este disco é isso tudo, somos todos nós, é um tempo que já não existe.

Mais do que registar as velhas canções do povo da Praia do Liz, apostamos tudo na memória daqueles que gritaram “É Rasa”, daqueles que para sobreviver corriam das fábricas depois de um dia inteiro de trabalho, para entrar no mar, daqueles que pescavam no Verão e apanhavam lenha no Inverno, dos que iam para o Tejo quando o mar se fechava, daquelas que vendiam o peixe por todo o lado, a pé, com canastras à cabeça.

Esse, foi um tempo que deixou de existir, importa não esquecer que existiu, aqui na Vieira, durante décadas.

Os porquês dessas circunstâncias todos os sabemos, torna-se urgente falar deles novamente, porque a Vida destas pessoas foi muito dura, e a ausência de memória, por vezes, deturpa a “verdade”.

 

                                    BIP, Dezembro de 2000"


Comentários

Mensagens populares